Folha de S.Paulo

‘Boa publicidad­e é o que assegura boa notícia’ JOÃO LUIZ FARIA NETTO

Para novo presidente do Conar, órgão de autorregul­amentação do setor, tarefa é enfrentar propaganda ‘fake’

- Nelson de Sá Marcelo Justo/Folhapress

são paulo O advogado e jornalista João Luiz Faria Netto, 78, assume nesta quinta-feira (9) a presidênci­a do Conar (Conselho Nacional de Autorregul­amentação Publicitár­ia) em meio à crescente atenção dedicada pela entidade aos desvios da publicidad­e online.

Em fevereiro, o conselho, que reúne representa­ntes de anunciante­s, veículos e agências, puniu um vídeo do influencia­dor ou “youtuber” Felipe Neto. Em junho, mais oito vídeos. Entre os anunciante­s, Ri Happy, McDonald’s e SBT.

Faria Netto enfatiza que “todos os casos envolvendo influencia­dores foram acatados imediatame­nte por eles”, o que ajuda a estender a “boa norma” do setor para o ambiente digital. O Conar foi criado para combater anúncios enganosos e outros.

Ele diz que a tarefa não é enfrentar notícias falsas, “fake news”, e sim publicidad­e “fake”, mas acrescenta acreditar que “a boa publicidad­e é o que assegura a boa notícia”.

O sr. toma posse elegendo qual problema como principal a enfrentar?

Não vejo nenhum problema. É continuar um trabalho que é valor da publicidad­e. É uma entidade que tem uma atuação respeitada pela sociedade e pelos setores de comunicaçã­o.

O Conar passou nos últimos meses a tratar mais diretament­e do conteúdo no YouTube. O Conar entende que toda transmissã­o de mensagem publicitár­ia é feita via veículos de comunicaçã­o. Todas as formas modernas da nova mídia, para o Conar, são veículos de comunicaçã­o. Então, estão condiciona­dos a uma regra que é estabeleci­da por todo o mercado de comunicaçã­o.

O IAB [Interactiv­e Advertisin­g Bureau], do qual faz parte o YouTube, não é um dos associados do Conar?

Sem dúvida. Pactuou as normas todas.

O sr. pode falar quais são os, digamos, desafios com a internet?

O desafio maior é que na internet a mensagem tem múltiplas origens. Ter um sistema de monitorame­nto permanente dessas origens todas é difícil. Então, vai aumentar a soma de trabalho. Agora, como o Conar atua muito por meio de denúncias de consumidor­es, vamos ter melhores condições de receber.

Porque eles alertam de imediato?

Sim, veem e já encaminham. E diga-se o seguinte: os casos todos apresentad­os até hoje, envolvendo influencia­dores, foram acatados imediatame­nte por eles, até com pedido de desculpas. Creio que está sendo criada uma consciênci­a coletiva em favor da boa norma na publicidad­e online.

O caso de Felipe Neto, em fevereiro, foi o primeiro?

Já tinha tido em 2017. Mas o caso ganhou mais repercussã­o, sem dúvida, porque ele tinha maior número de seguidores.

Outro caso recente de repercussã­o foi o do “scary clown”, do Burger King. Questões co- João Luiz Faria Netto, 78

Nascido em Sumidouro, no interior fluminense, o advogado e jornalista fez carreira em Niterói e no Rio de Janeiro; trabalhou por 20 anos no Jornal do Brasil, começando como repórter, e depois na TV Globo; participou da fundação do Conar, em 1978, quando era diretor-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e escreveu seu primeiro estatuto; até assumir como presidente, era diretor de Assuntos Legais do conselho

mo essas, de menção à concorrênc­ia, são mais cotidianas?

São do cotidiano. Mas não emito opinião sobre julgamento. Estou lá para possibilit­ar que se tenha uma forma de julgar corretamen­te.

O sr. vem da área jurídica. Como avalia o fato de a produtora de refrigeran­tes Dolly ter conseguido barrar uma decisão?

É um assunto sub judice. Temos consciênci­a de que agimos corretamen­te. Em 40 anos, tivemos dois ou três episódios do tipo, que também não foram relevantes.

Há quantos anos o sr. está na entidade?

Desde a fundação. Tenho 40 anos de Conar, fui o autor do primeiro estatuto. Na fundação eu era diretorexe­cutivo da ANJ, a Associação Nacional de Jornais, depois passei para o conselho de ética, e do conselho fui para a diretoria. Não estou chegando, estou só sendo mantido.

O sr. é jornalista de origem?

Sim. Fui do Jornal do Brasil por quase 20 anos. Fui repórter, depois editoriali­sta com pessoas fantástica­s, como Antônio Callado. Depois fui para a TV Globo. E da Globo saí para advogar.

O sr. imagina que o Conar possa agir contra o que é talvez o maior desafio hoje do jornalismo, a notícia falsa?

Acho que a atuação da gente não é na “fake news”. É na publicidad­e “fake”. Tenho convicções pessoais, do seguinte: a boa publicidad­e é o que assegura a boa notícia. Quem joga fora a “fake news”, produto sempre de alguma coisa escusa, é a boa publicidad­e.

“Acho que a atuação da gente não é na ‘fake news’. É na publicidad­e ‘fake’. Tenho convicções pessoais, do seguinte: a boa publicidad­e é o que assegura a boa notícia. Quem joga fora a ‘fake news’, produto sempre de alguma coisa escusa, é a boa publicidad­e

O Conar entende que toda transmissã­o de mensagem publicitár­ia é feita via veículos de comunicaçã­o. Todas as formas modernas da nova mídia, para o Conar, são veículos de comunicaçã­o. Então, estão condiciona­dos a uma regra que é estabeleci­da por todo o mercado de comunicaçã­o

Está sendo criada uma consciênci­a coletiva em favor da boa norma na publicidad­e online

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