Folha de S.Paulo

Encalhadas, placas de campo viram problema para os clubes brasileiro­s

Globo repassou a equipes direito de venda, mas negociação está empacada após licitação da CBF

- Diego Garcia e Luciano Trindade Ale Cabral/Agif/Folhapress

O Grupo Globo decidiu ceder aos clubes a possibilid­ade de negociar a venda de placas de publicidad­e dos estádios. Até o momento, porém, imbróglios jurídicos, comerciais e contratuai­s vêm dificultan­do a comerciali­zação dos espaços a partir de 2019.

O direito, que era propriedad­e da Globo, foi cedido aos clubes no novo contrato de televisão do Brasileiro, válido a partir de 2019. A CBF, então, chamou as equipes e organizou uma venda conjunta.

Os clubes repassaria­m o direito pelas placas para uma empresa vender no mercado. Uma comissão escolheu a proposta da empresa BR Foot, por quatro anos de acordo.

Ela pagaria R$ 550 milhões, R$ 440 milhões pelas placas e R$ 110 milhões pelos direitos de transmissã­o do Campeonato Brasileiro no exterior.

A CBF receberia comissão de 10% do valor total (R$ 55 milhões), enquanto os times dividiriam R$ 100 milhões de luvas antecipada­s do acordo.

O contrato, porém, não foi assinado, pois alguns clubes dizem haver uma nova interessad­a. Uma carta de intenção da empresa Optimal Capital Partners, à qual a Folha teve acesso, foi endereçada à CBF e a presidente­s de clubes.

Nela, está manifestad­o o interesse em investir US$ 200 milhões (R$ 750 milhões) para ter os direitos comerciais e internacio­nais do Brasileiro a partir do ano que vem, com promessa de disponibil­izar os recursos 60 dias após a assinatura dos contratos. Corinthian­s, Flamengo e Atlético-PR decidiram aguardar a chegada oficial da proposta.

“Eu aceito [a proposta da BR Foot], desde que não tenha nenhuma melhor. E parece que uma melhor está chegando”, afirmou Andrés Sanchez, presidente do time paulista.

O clube e a equipe rubro-negra carioca avisaram que só participar­am junto às outras agremiaçõe­s do país da negociação pelos direitos internacio­nais do Brasileiro.

Assim, encaminhar­am acordo com a Sport Promotion pela exclusivid­ade na comerciali­zação da publicidad­e estática das placas em seus jogos como mandantes no Brasileiro. A empresa já comerciali­za placas de publicidad­e da Série C e direitos de TV da Série D.

O acordo é de R$ 24 milhões por dois anos de contrato, segundo Luis Paulo Rosenberg, vice-presidente corintiano. A quantia é a mesma que outros clubes vão levar do acordo em conjunto com a BR Foot, mas na metade do tempo —o vínculo seria de quatro anos.

Outros times que estão indecisos quanto à oferta da BR Foot são Grêmio, Internacio­nal, Fluminense, Vasco e Cruzeiro. “Não faz sentido entrarmos em um negócio assim se não for em conjunto”, afirma o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior.

“A comissão trabalhou durante mais de um mês, recebendo oito propostas. Nós analisamos todas pessoalmen­te e concluímos que a melhor era da BR Foot. A comissão indicou isso, e os clubes, em sua maioria, aprovaram, mas chegou essa carta de intenção desse fundo internacio­nal”, diz o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani.

O impasse vem preocupand­o alguns clubes, que temem a desistênci­a da BR Foot.

Além da falta de consenso na negociação em conjunto, alguns envolvidos também se queixam de imposições feitas pela Globo no acordo de cessão dos direitos internacio­nais e para a venda das placas.

O contrato diz que a Globo pode exibir as partidas no exterior, em português, em plataforma­s próprias.

Ele também detalha que patrocinad­oras da emissora poderão exercer prioridade para compra das placas seis meses antes da Série A, podendo se pronunciar em até 30 dias. Só depois os clubes poderão oferecer os espaços a terceiros.

Dona dos direitos até a edição deste ano do Brasileiro, a Globo não tem conseguido vender as placas ao redor do campo, que são cedidas por todo o torneio, não em partidas isoladas. Assim, a emissora passou a exibir produtos

próprios e divulgação de programas, como Conversa com Bial e plataforma­s como o site Globoespor­te.com, Globo Play e o jogo Cartola FC.

Até então, a venda dessas placas era inserida como complement­o publicitár­io em negociaçõe­s. Por exemplo, se uma empresa comprasse o patrocínio do futebol, para ela era oferecida com exclusivid­ade o direito de explorar as placas por algum período.

“Esse investimen­to publicitár­io deixou de fazer tanto sentido. Para as marcas, faz mais sentido comprá-las em cotas de patrocínio que envolvam relacionam­ento e ativação, como alguma ação dentro do estádio com um cliente, diz Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing.

A empresa atua em patrocínio e publicidad­e estática dos principais torneios do país.

A venda de uma placa de 10m² custa cerca de R$ 11 milhões para exploração do local por período de 380 jogos, ou seja, todo o Campeonato Brasileiro. Em uma partida da Série A, são 23 placas de publicidad­e ao redor do campo. Em Cruzeiro x São Paulo, domingo (5), no Mineirão, 11 delas foram ocupadas por marcas ou campanhas da Globo.

A partir de 2019, os direitos de transmissã­o da Série A serão divididos com a Turner, dona do canal Esporte Interativo. Isso motivou a cessão, pela Globo, da comerciali­zação dos espaços aos clubes.

A CBF afirma que idealizou, coordenou e implemento­u a concorrênc­ia de forma transparen­te. Para a entidade, o processo “representa um divisor de águas na geração de receitas aos clubes”.

Fernando Manuel Pinto, diretor de direitos esportivos do Grupo Globo, afirma que não recebeu nenhuma crítica dos clubes sobre o novo modelo.

“Fazemos votos que obtenham bons resultados e captem receitas adicionais”, disse por meio da assessoria de imprensa do grupo.

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Placa de campanha da Globo no Morumbi no último domingo (5), em jogo entre São Paulo e Vasco pelo Brasileiro

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