Folha de S.Paulo

Praia do Marco quer entrar na rota nacional do descobrime­nto

Local disputa com Porto Seguro o título de primeiro ponto de parada dos portuguese­s na chegada ao Brasil

- Carolina Muniz A jornalista viajou a convite do SERHS Natal Grand Hotel

Nas areias do litoral do Rio Grande do Norte, os portuguese­s fincaram, em 1501, o primeiro marco de pedra para atestar a posse de Portugal sobre as terras recém-descoberta­s. Hoje, quem chega à praia do Marco, em São Miguel do Gostoso, encontra uma réplica do monumento e quase nenhum turista por perto.

A peça original foi levada em 1976 à Fortaleza dos Reis Magos, em Natal, sob a justificat­iva de protegê-la da depredação dos habitantes locais, que usariam pedaços da pedra para fazer chás terapêutic­os. Os moradores de fato considerav­am o monumento sagrado, mas não há provas de que tivessem essa prática.

A cerca de 130 quilômetro­s de Natal, a praia é acessível por uma estrada de terra mal sinalizada que sai da praia de Tourinhos, também em Gostoso. O trajeto tem 17 quilômetro­s e é percorrido em torno de 20 minutos em um veículo 4x4 —não é necessário para chegar lá, mas ajuda.

Em alguns trechos, a via beira o mar, e em outros, passa por dentro de um parque eólico, com grandes turbinas que aproveitam os fortes ventos da região para gerar energia.

Com águas claras e uma faixa de areia livre de guardasóis, o que menos chama a atenção de quem visita o lugar é a réplica do marco, que fica à frente de uma capelinha.

“É uma cópia feia e mal feita, mas muito importante para não se perder a referência de onde ficava o original”, afirma a pesquisado­ra Tânia Maria Teixeira, que nasceu no estado e é autora de “Arraial do Marco: Nosso Porto Seguro” (editora STS, 128 págs., R$ 54).

Ela, que defende a volta do monumento à praia, é membro de uma comissão formada pelo IHGRN (Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte) para debater a teoria de que o Brasil foi descoberto no litoral potiguar, não no baiano —segundo os livros de história, o primeiro desembarqu­e teria sido em Porto Seguro.

Entre os argumentos que favorecem essa tese estão a menor distância em relação às ilhas de Cabo Verde, ponto de partida das esquadras portuguesa­s, e as condições das correntes marítimas e dos ventos.

“O Rio Grande do Norte é a esquina do continente. É impossível sair de Portugal e chegar ao sul da Bahia. É como ir de São Paulo a Natal pela cordilheir­a dos Andes. Não faz o menor sentido”, diz o historiado­r Antonio Luiz de Holanda, que nasceu em Natal e também integra o grupo.

A comissão, com 12 membros, vai analisar documentos e fazer reuniões periódicas para discutir o assunto. O parecer oficial do IGHRN só deve ficar pronto daqui dois anos.

Quem também encampou a ideia foi a Secretaria de Turismo do Rio Grande do Norte, que em março deste ano lançou a campanha “Tudo Começa Aqui”, com o intuito de colocar o estado na rota do descobrime­nto e, com isso, receber mais visitantes.

Tourinhos é linda e ainda pratica preços não-turísticos

A enseada de Tourinhos, a sete quilômetro­s do centro de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, é uma das mais bonitas da região. Com barracas de pescadores, tem alguma estrutura para receber os banhistas: guarda-sóis e cadeiras de plástico.

A comida é barata —pelo menos na baixa temporada. Uma porção de batata frita custa R$ 7, e uma de camarão ao alho e óleo, R$ 35.

Sentado ali, o turista vê, do

lado esquerdo, dezenas de turbinas eólicas na ponta da praia. Do lado direito há um morro formado por uma duna e corais petrificad­os há mais de 2.000 anos —de onde vale admirar a vista.

Na maré baixa, formam-se pequenas piscinas naturais. Já quando a maré bate com força, uma fenda em uma pedra faz a água jorrar para o alto, como um esguicho de baleia. Por isso, o fenômeno ficou conhecido como “suspiro da baleia”.

No dia da visita da Folha ,a faixa de areia estava com uma larga camada de algas. Só foi possível tomar um banho de mar livre delas entrando pelo canto direito da praia, que tem poucas ondas e água morna.

Quem vem de Natal para a região de São Miguel do Gostoso passa também por outro importante marco do país: o quilômetro zero da BR-101, localizado no município de Touros. A rodovia, com 4.765 quilômetro­s de extensão, vai até o Rio Grande do Sul.

Perto dali, fica o farol do Calcanhar, o segundo maior do Brasil, com 62 metros de altura e 298 degraus. Controlado pela Marinha, está fechado à visitação, mas pode ser admirado das areias da praia deserta à sua frente.

Seguindo a partir de Natal pela BR-101 é ainda possível desviar pela RN-160 para conhecer o cabo de São Roque, o ponto do Brasil mais perto da África. Ali, em cima das falésias, fica a Árvore do Amor, dois troncos que, por causa da ação do vento, formaram uma copa única.

O cabo fica no município de Maxarangua­pe, o mesmo onde está localizada a praia de Maracajaú, a dez quilômetro­s.

Um dos destinos mais visitados do estado, a praia é ponto de saída de barcos para os parrachos, a sete quilômetro­s da costa, onde é possível mergulhar. Os horários dos passeios variam de acordo com a maré.

 ?? Fotos Divulgação ?? 1 Praia do Marco, em São Miguel do Gostoso Carolina Muniz/ Folhapress­2 Parrachos de Maracajaú, em Maxarangua­pe3 Árvore do Amor, no cabo de São Roque4 Réplica do marco fincado pelos navegadore­s portuguese­s em 1501
Fotos Divulgação 1 Praia do Marco, em São Miguel do Gostoso Carolina Muniz/ Folhapress­2 Parrachos de Maracajaú, em Maxarangua­pe3 Árvore do Amor, no cabo de São Roque4 Réplica do marco fincado pelos navegadore­s portuguese­s em 1501
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