Folha de S.Paulo

Candidatos à Presidênci­a estreiam em debate morno

Apenas nanicos Boulos e Daciolo destoaram em encontro promovido pela Band

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O primeiro debate com presidenci­áveis das eleições de 2018, na noite de ontem, foi marcado por poucas acusações políticas. Os principais candidatos evitaram fazer ataques pessoais. A presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nome do PT, não foi autorizada pela Justiça.

Em um primeiro debate morno, promovido pela Bandeirant­es, os candidatos à Presidênci­a evitaram, com algumas exceções, ataques diretos e trazer temas polêmicos à tona na noite desta quinta (9).

Presidenci­áveis como Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) não foram confrontad­os com seus pontos fracos, como o escândalo da Dersa, no caso do ex-governador de São Paulo, ou o temperamen­to explosivo do ex-governador do Ceará.

A ausência de Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, contribuiu para um embate menos caloroso. Nesse cenário, Guilherme Boulos, do PSOL, tentou assumir o papel de portavoz da esquerda e se apresentou como “do partido de Marielle Franco”, vereadora assassinad­a no Rio de Janeiro em março.

Foi ele, inclusive, que protagoniz­ou um dos únicos confrontos em que o tom das acusações se elevou. Boulos questionou Jair Bolsonaro (PSL) sobre a funcionári­a de seu gabinete Walderice Santos da Conceição, que, segundo mostrou a Folha, trabalha num comércio de açaí em Angra dos Reis, onde o deputado federal tem uma casa.

“Quando a Folha de S.Paulo foi lá, ela estava de férias. Ela é essa senhora, humilde, trabalhado­ra”, disse Bolsonaro.

Ao ser questionad­o por Boulos se ele não tinha vergonha de manter uma “funcionári­a fantasma” e de ter auxílio moradia da Câmara mesmo tendo imóvel em Brasília, Bolsonaro respondeu que teria vergonha se “tivesse invadindo as casas dos outros”, numa provocação ao líder do MTST (Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto).

“E não vim pra cá bater boca com um cidadão desqualifi­cado como esse aí”, completou Bolsonaro, encerrando sua fala antes do tempo.

Além de Boulos, o Cabo Daciolo (Patriota) também destoou do clima mais ameno, atirando sobre praticamen­te todos os opositores.

Dos 13 candidatos à Presidênci­a definidos nas convenções, apenas oito participar­am do debate: além de Bolsonaro, Alckmin, Ciro, Boulos e Daciolo, foram convidados Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB).

Todos se enquadram na determinaç­ão da lei eleitoral de que devem ser convidados candidatos de partidos ou coligações que tenham pelo me- nos cinco congressis­tas.

O outro seria Lula. O PT chegou a pedir à Justiça que ele fosse autorizado a participar via videoconfe­rência.

Com o pedido negado, o partido resolveu fazer um debate paralelo, com o vice e potencial titular da chapa, Fernando Haddad (leia abaixo). O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi o mais demandado pelos opositores mais bem posicionad­os nas pesquisas de intenção de voto, que evitaram Bolsonaro.

Marina, por exemplo, pressionou o ex-governador de São Paulo por sua aliança com o chamado “centrão” (DEM, PP, PR, PRB e SD).

“O sr. diz que é candidato à Presidênci­a porque quer mudar o Brasil. No entanto, fez aliança com o centrão, que é a base de sustentaçã­o do governo Temer. [...] O sr. acha que isso é fazer mudança?”, questionou a candidata da Rede.

Ciro, por sua vez, disse que a reforma trabalhist­a, defendida no debate por Alckmin como “necessária”, “foi um erro” e “introduziu muita inseguranç­a” no país. “Essa selvageria nunca fez nenhum país do mundo prosperar”, afirmou o candidato do PDT.

Questionad­o em temas como violência contra a mulher e segurança pública, Bolsonaro manteve posições como a defesa da castração química para estuprador­es e um referendo para facilitar a venda de armas aos “cidadãos de bem”.

“A violência só cresce no Brasil devido a uma equivocada política de direitos humanos. [...] O cidadão de bem, esse foi desarmado. O bandido continua bem armado.”

Alvaro Dias foi um dos que mais tratou do tema da Lava Jato, dizendo que a operação “deve ser institucio­nalizada” como política de combate à corrupção, e citando novamente o juiz Sergio Moro como seu futuro ministro da Justiça.

Segundo a assessoria da Bandeirant­es, o debate teve pico de 7,5 pontos de audiência, segundo o Ibope, e média de 6,1 pontos na Grande São Paulo. Cada ponto representa 71.855 casas ou 201.061 telespecta­dores.

“O condomínio está cheio de lobo mau querendo comer o dinheiro da vovozinha [sobre o tema da educação] Marina Silva (Rede)

“Bolsonaro, todo mundo é racista, sabe machista que você e homofóbico Meirelles não é o candidato do Temer. Aqui tem 50 tons de Temer Guilherme Boulos (PSOL)

Um dos maiores aliados [do PSDB], que é o DEM, diz que [o Bolsa Família] escraviza as pessoas Henrique Meirelles (MDB)

O grande problema da nação hoje é a falta de amor Cabo Daciolo (Patriota)

Meu estimado Cabo, tive muito prazer em lhe conhecer hoje Ciro Gomes (PDT)

A violência só cresce no Brasil devido a uma equivocada política de direitos humanos Jair Bolsonaro (PSL)

Vamos ampliar [o Bolsa Família] com dinheiro da ‘Bolsa Banqueiro’ Geraldo Alckmin (PSDB)

O sr. [Meirelles] que esteve lá que deveria ter a explicação [sobre por que a economia desandou] Alvaro Dias (Podemos)

 ?? Marlene Bergamo/Folhapress ?? Da esq. para a dir., os candidatos à Presidênci­a Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT), em debate televisivo na noite desta quinta-feira (9)
Marlene Bergamo/Folhapress Da esq. para a dir., os candidatos à Presidênci­a Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT), em debate televisivo na noite desta quinta-feira (9)
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Marlene Bergamo/Folhapress Candidatos a presidente durante debate promovido pela TV Bandeirant­es nessa quinta, em SP
 ?? Diego Padgurschi/Folhapress ?? Haddad e Gleisi fazem debate paralelo
Diego Padgurschi/Folhapress Haddad e Gleisi fazem debate paralelo

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