Folha de S.Paulo

Reajustes devem acarretar gasto extra de R$ 42 bi em 2019

Salários de servidores e benefícios podem consumir 71% da folga no teto de despesas federais no novo governo

- Flavia Lima

Com o aumento para juízes, reajustes de outras categorias e correção de pensões, aposentado­rias e benefícios, o novo governo terá conta extra de R$ 42,1 bilhões.

O valor equivale a 71% dos R$ 59,3 bilhões permitidos como despesas adicionais em 2019, conforme a regra do teto de gastos federais.

O cálculo considera R$ 1,4 bilhão da aprovação do reajuste salarial de ministros do Supremo Tribunal Federal, que precisa ter a chancela do Congresso, e os efeitos sobre o Judiciário federal.

Outros R$ 14,7 bilhões virão da alta estimada pela regra do salário mínimo sobre os gastos previdenci­ários.

Na conta ainda há R$ 26 bilhões da folha de pessoal ativo e inativo e do reajuste prometido aos servidores.

Sobrariam R$ 17,2 bilhões para eventuais gastos adicionais.

O reajuste dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) é mais um elementoex­plosivopar­aascontas públicas. Somando o aumento dos juízes, o de outras categorias­deservidor­eseoefeito­dainflação sobre o salário mínimo —que serve de base para corrigir pensões, aposentado­rias e benefícios—, o novo governo receberá em 2019 uma conta extra de R$ 42,1 bilhões.

O valor equivale a 71% dos R$ 59,3 bilhões previstos como despesas adicionais no próximo ano, segundo a regra do teto de gastos.

Sobrariam R$ 17,2 bilhões para eventuais gastos adicionais em qualquer área —saúde, educação ou investimen­tos públicos. Em outras palavras, o gasto praticamen­te já está batendo no teto.

A conta de salários inclui o reajuste do STF e efeitos sobre o Judiciário (na esfera federal), caso aprovado, de R$ 1,4 bilhão, indica projeção das consultori­as da Câmara e do Senado.

Na quarta-feira (8), o STF aprovou proposta de reajuste de 16,38% —uma alta de dois dígitos já descontada a inflação—, o que levará os salários de ministros a R$ 39,3 mil.

Os gastos incluem ainda a folha de pessoal ativo e inativo prevista no Ploa (Projeto de Lei Orçamentár­ia), hoje em elaboração, no valor de R$ 26 bilhões, segundo fontes da equipe econômica.

Esse número inclui reajuste estimado em R$ 7 bilhões prometido a servidores de carreiras do Executivo, que o governo busca postergar para 2020.

Há ainda o impacto do aumento previsto pela regra do salário mínimo sobre os gastos previdenci­ários.

Levantamen­to feito por Fábio Klein, especialis­ta em contas públicas da consultori­a Tendências, indica que só a regra do mínimo deve elevar os gastos previdenci­ários em R$ 14,7 bilhões.

A regra do salário mínimo fala em reajuste segundo a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) mais cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes.

Ela afeta os gastos do governo porque, no Brasil, o mínimo não corrige apenas o piso da remuneraçã­o do trabalhado­r. É pago também na forma de benefícios previdenci­ários e de assistênci­a social.

Cada aumento de R$ 1 no mínimo, diz Klein, tem efeito de R$ 301 milhões nas contas.

A regra do mínimo está prevista em lei e vale até 2019. Caberá ao próximo presidente revisar ou não a regra na proposta em 2020, a ser enviada em abril ao Legislativ­o.

Parte dos economista­s defende que ela seja revista, justamente em razão de seus impactos sobre as contas do governo. Uma saída seria recompor benefícios previdenci­ários apenas pela inflação.

Mas é difícil dizer à sociedade que é preciso rever uma regra que favorece mais de 22 milhões de pessoas apenas na Previdênci­a e, ao mesmo tempo, justificar aumentos dados à elite do funcionali­smo.

Para Klein, o primeiro ano do próximo governo não será nada fácil. Restrições fiscais severas e temas politicame­nte sensíveis irão dominar a agenda e os conflitos salariais estarão no centro da polêmica política-orçamentár­ia.

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