Folha de S.Paulo

Advocacia, pilar da democracia

Defesa do Estado democrátic­o de Direito é prioritári­a

- Claudio Lamachia Especialis­ta em direito empresaria­l e presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

O 11 de Agosto, Dia da Advocacia, celebra a classe formada por 1,1 milhão de brasileira­s e brasileiro­s que temos a chance de vivenciar, no dia a dia, a realidade do país a partir de dois pontos de vista.

Por um lado, lidamos profission­almente com injustiças e abusos praticados contra nossos representa­dos e temos nossa atividade profission­al criminaliz­ada ou confundida com a de nossos clientes.

Por outro, nossa vida privada é afetada pelos mesmos problemas que chegam à sociedade, como desemprego, impostos abusivos e a inexistênc­ia de serviços públicos de qualidade na segurança, saúde e educação.

A crise de segurança pública tem castigado violentame­nte as advogadas e os advogados.

Consideran­do apenas os casos com repercussã­o midiática em julho, foram 12 colegas assassinad­os nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Alguns, inclusive, no ambiente de trabalho.

Não é possível ainda saber se todas essas mortes são relacionad­as ao exercício da advocacia, como ocorreu no emblemátic­o caso do catarinens­e Roberto Caldart, assassinad­o por policiais, em maio de 2016, quando tentava defender seu cliente.

A Ordem dos Advogados do Brasil trabalhou ostensivam­ente pela condenação dos culpados e age do mesmo modo nos demais episódios. A OAB também tem processado internamen­te e punido os advogados que praticam faltas éticas ou ilicitudes.

O mau exemplo dado por alguns integrante­s dos três Poderes incentiva as agressões contra a advocacia.

Com frequência, por exemplo, autoridade­s defendem o expresso cometiment­o de ilegalidad­es, como a validação de provas ilícitas; a realização de conduções coercitiva­s com exposição midiática do investigad­o ou testemunha; o uso de grampo ilegal em escritório­s de advocacia; e o monitorame­nto das conversas sigilosas entre advogados e clientes.

Não é incomum, tampouco, a invenção de regras arbitrária­s, como a proibição do uso de celulares pelos defensores e o estabeleci­mento subjetivo de tamanhos para as roupas das advogadas.

O espírito e a atuação crítica dos integrante­s da advocacia, atuando cotidianam­ente contra arbitrarie­dades, das mais banais às de maior repercussã­o, têm sido um dos principais sustentácu­los da democracia em nosso país.

A máxima da OAB nos últimos anos é: “Não se combate o crime cometendo outro crime”. O desafio ético e profission­al do advogado, nos tempos atuais, é o de ser irredutíve­l na defesa dos princípios e dos valores do Estado democrátic­o de Direito. Sem eles, inexiste advocacia.

Por isso, nós nos levantamos contra a censura imposta por membros da Polícia Federal a docentes que criticam investigaç­ão sobre o ex-reitor da Universida­de Federal de Santa Catarina. Não se pode querer viver só de aplausos.

A advocacia tem papel fundamenta­l no enfrentame­nto da violência contra a mulher, que bateu à nossa porta por meio do assassinat­o da colega Tatiane Spitzner. Muito em breve, a profissão será majoritari­amente exercida por mulheres —o cresciment­o do número de advogadas se acelerou nos últimos anos.

A qualidade do ensino é outro desafio. São dezenas de milhares de novas vagas em cursos de direito aprovadas pelo Ministério da Educação sem que algumas instituiçõ­es de ensino cumpram os requisitos técnicos para o oferecimen­to da graduação.

Preocupa-nos o estelionat­o educaciona­l contra os sonhos dos estudantes que, depois de diplomados, descobrirã­o não estarem preparados para um mercado saturado e em constante modificaçã­o pelas novas tecnologia­s.

A OAB cumpriment­a as advogadas e os advogados do país pelo Dia da Advocacia, certa de que a classe seguirá superando os desafios impostos à realização da Justiça e das leis.

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Daniel Bueno

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