Folha de S.Paulo

Vice, general Mourão diz que agrega estabilida­de a Bolsonaro

- Talita Fernandes

Filiado do PRTB, o general da reserva Hamilton Mourão foi escolhido nos últimos instantes como vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL).

Ele diz que agregará discrição e estabilida­de para a campanha, marcada por polêmicas do deputado federal. Em entrevista à Folha, reconheceu que a relação com o Congresso será difícil, caso ele e Bolsonaro sejam eleitos. “Não tem fórmula de bolo.”

O sr. foi escolhido de última hora e forma com Bolsonaro uma chapa puro sangue militar. Em que isso agrega à campanha?

Desde o início eu fui uma opção para ele, por isso que eu me filiei a um partido político quando eu entrei para a reserva. Ele tentou as outras opções que ele tinha e todo mundo sabe que não foram bem sucedidas. No último momento ele teve que me chamar.

Eu acho que eu agrego estabilida­de para ele porque ele sabe que ele vai ter um companheir­o de chapa que não vai procurar ter luz própria e que vai apoiá-lo incondicio­nalmente. Pode ser que eu traga voto de outros segmentos da ala mais conservado­ra da sociedade que veem na minha figura alguém capaz de agregar um conhecimen­to, um discernime­nto, experiênci­a de vida.

Uma dificuldad­e de serem apenas dois partidos coligados é a negociação com o Congresso. Como será isso?

Posso até ser ingênuo, mas eu vejo que nosso relacionam­ento com o Congresso tem que se dar em torno de ideias. Eu sei que o Bolsonaro tem cem, cento e poucos deputados que estão com ele, óbvio que não é uma massa de manobra capaz de assegurar uma maioria para ele, mas é um primeiro passo.

Até hoje nenhum governo conseguiu fazer dessa forma, com Hamilton Mourão, 64 Natural de Porto Alegre (RS), é general reformado do Exército. Filiado ao nanico PRTB, é hoje presidente do Clube Militar

Em 5 de agosto foi escolhido vice da chapa em que Jair Bolsonaro (PSL) vai concorrer à Presidênci­a da República

ideias. Como sozinho o Bolsonaro espera mudar isso?

Será difícil. Não tem forma de bolo isso aí, vai ter que manobrar, usando um termo militar. Quando você está esbarrando com uma enorme resistênci­a você tem que manobrar. Sem ceder àqueles argumentos que lhe são caros e pelos quais foi eleito pela população, terá que ceder em outros, talvez.

O sr. promete discrição, mas ganhou holofote negativame­nte ao chamar índios de indolentes e dizer que a malandrage­m do brasileiro veio dos africanos. Eu acho que isso foi ultrapassa­do. É uma palestra que eu faço em vários lugares do país. Antes eu fazia e não era candidato a nada e ninguém dava bola. É uma palestra em que eu traço um perfil da nossa origem, não é para denegrir nem A, nem B e nem C. A questão é nós somos um cadinho, a junção, uma miscigenaç­ão de três culturas com as coisas boas e as coisas não tão boas assim. Esse episódio já rendeu o que tinha que ter rendido.

O sr. é a favor de programas como o Bolsa Família?

Eu julgo que esse programa não pode ser eterno. À medida em que você vai gerando capacidade, vai colocando as pessoas em condições de se inserirem no mercado de trabalho eles têm que ser retirados desse programa para não ficar o resto da vida dependendo do estado. Mas hoje tem que continuar.

A Petrobras deve ser privatizad­a?

No caso da Petrobras, o Bolsonaro já declarou e eu aguardo as diretrizes dele. Isso tem que ser bem estudado: quais são as atividades da Petrobras que podem ser cedidas à iniciativa privada porque a Petrobras é uma empresa que apesar de todos os problemas que ocorreram tem um corpo técnico capacitado e que pode tocar a empresa de forma com eficiência gerencial, sem jogar fora recurso e sem ser inserida num papel de corrupção.

Outras estatais devem ser privatizad­as como a Caixa e Banco do Brasil, por exemplo?

O que eu vejo é que eles não podem ser utilizados politicame­nte. Quando você deixa de utili- zar os servidores concursado­s dessas entidades para gerenciála­s ou nomeia servidores que estão exclusivam­ente comprometi­dos com partidos políticos você causa problemas.

O sr. já se referiu à campanha do Bolsonaro como amadora. Por quê?

É amadora porque é uma campanha iniciante. Essa é a primeira campanha presidenci­al do Bolsonaro. Ele fez campanhas para deputado que são totalmente distintas de uma presidenci­al. Ele está querendo melhorar suas equipes, agora é uma campanha de recurso reduzido. Ela é uma campanha que tem que se restringir a esses recursos e ao crowdfundi­ng que ele fez.

Bolsonaro vem sendo criticado por posições considerad­as preconceit­uosas. Isso atrapalha na conquista de eleitor?

Essa imagem foi colocada no Bolsonaro de forma errônea. Ele tem os pensamento­s dele, aforma de ele pensarem relaçãoa conservado­rismo, família e coisas do gênero. Mas ele não é um apessoa racista, em absoluto.

Bolsonaro saiu das Forças Armadas mostrando indiscipli­na e insubordin­ação, pontos caros aos militares. Isso não pega mal?

Bolsonaro teve na sua época, deu alguns problemas dentro da Força. Mas depois saiu, foi eleito vereador, deputado e ao longo desse período foi estabelece­ndo relacionam­ento diferente. Os eventuais desacertos de uma fase da vida dele tumultuada foram superados.

Bolsonaro quer nomear militares para ministério­s dizendo que isso evitaria casos de corrupção, mas também há militares corruptos. Temos pessoas honestas e competente­s dos dois lados da moeda, do lado civil e do lado militar. Bolsonaro tem que escolher pessoas competente­s independen­tes de vestirem farda ou terno e gravata. Não é porque nós somos uma instituiçã­o baseada em valores, valores de honra, de dever e de pátria, que não apareçam as frutas podres.

“Pode ser que eu traga voto de outros segmentos da ala mais conservado­ra da sociedade que veem na minha figura alguém capaz de agregar um conhecimen­to, um discernime­nto, experiênci­a de vida

Eu vejo que nosso relacionam­ento com o Congresso tem que se dar em torno de ideias. Eu sei que o Bolsonaro tem cem, cento e poucos deputados que estão com ele, óbvio que não é uma massa de manobra capaz de assegurar uma maioria para ele, mas é um primeiro passo

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Rafael Hupsel - 5.ago.18/Folhapress O candidato a vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB)

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