Folha de S.Paulo

Magistrado­s do Supremo ganham mais que colegas europeus

- André Shalders

Quando comparados aos vencimento­s de juízes em outros países os contracheq­ues do Poder Judiciário brasileiro estão longe de ser “modestíssi­mos”, como definiu o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowsk­i, que votou a favor do reajuste de 16,38% para os membros da corte —de R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil.

Estudo de 2016 da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (Cepej, na sigla em francês) mostra que, em 2014, um juiz da Suprema Corte dos países do bloco ganhava 4,5 vezes mais que a renda média de um trabalhado­r europeu.

No Brasil, a distância é ainda maior: o salário-base de R$ 33,7 mil do Supremo correspond­e a 16 vezes a renda média de um trabalhado­r do país (que era de R$ 2.154 no fim de 2017).

Em 2014, um magistrado da Suprema Corte de um país da União Europeia recebia, em média, € 65,7 mil por ano. Ao câmbio desta quinta-feira (9), o valor equivaleri­a a cerca de R$ 287 mil —ou R$ 23,9 mil mensais.

Segundo a última edição do relatório Justiça em Números, produzido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil tem hoje cerca de 18 mil magistrado­s ( juízes, desembarga­dores, ministros).

Eles custam cada um, em média, R$ 47,7 mil por mês — incluindo salários, benefícios e auxílios. O custo de um magistrado é portanto quase 20 vezes a renda média do trabalhado­r brasileiro.

Se os salários no STF forem reajustado­s para R$ 39,3 mil, passarão a ser 39 vezes maiores que o salário mínimo previsto para 2019 —de R$ 998.

Os ganhos dos demais magistrado­s em todo o país estão vinculados aos rendimento­s dos ministros do STF.

Só no Judiciário, o impacto total será de cerca de R$ 717 milhões no ano que vem (sendo R$ 2,7 milhões no STF). No caso da magistratu­ra, o aumento é automático —o reajuste para os ministros é repassado para todos os demais.

Os dados mais recentes da Cepej mostram que o Brasil não só paga a seus juízes mais que países europeus, mas que o Poder Judiciário brasileiro também é mais caro que o destes países, consideran­do o tamanho das economias.

De acordo com um levantamen­to de 2017 da entidade, em nenhum país europeu o gasto com o Poder Judiciário ultrapasso­u 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2015.

No Brasil, o relatório Justiça em Números informa que, em 2016, o Judiciário consumiu o equivalent­e a 1,4% do PIB do país —ou R$ 84,8 bilhões, em valores da época.

Desses R$ 84 bilhões, quase tudo (89%) foram gastos com pessoal, inclusive pensões e aposentado­rias.

Em termos de custo por pessoa, os magistrado­s mais caros são os da Justiça Federal, com um custo de R$ 50,8 mil por ano.

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