Folha de S.Paulo

Defensores do veto festejam; ativistas querem nova proposta logo

- Flávia Mantovani

Ativistas da liberação do aborto na Argentina afirmam que, apesar do amargor da derrota no Senado nesta quinta (9), já se mobilizam para voltar a propor a legalizaçã­o.

“Hoje mesmo já começamos a planejar como continuar”, diz a comunicado­ra Ana Correa, uma das organizado­ras da marcha feminista Ni Una Menos. “Tenho convicção de que falta um dia menos para que o aborto seja legal na Argentina. O movimento de mulheres não pode ser parado.”

Para ela, a influência da igreja e o medo de desagradar às suas bases eleitorais foram determinan­tes. “Houve pressão de setores religiosos como eu não via desde a volta da democracia”, afirma. “E tem a questão geracional, o nível de conscienti­zação sobre o tema é maior entre os jovens.”

Ana aponta que senadores de províncias com maior taxa de gravidez adolescent­e, abortos clandestin­os e mortalidad­e materna votaram contra a lei. “Foi uma correlação perversa.”

Para a socióloga e historiado­ra feminista Dora Barrancos, 77, o resultado foi uma “pequena derrota”.

“Tínhamos expectativ­a a respeito de alguns indecisos que lamentavel­mente se transforma­ram em contrários”, diz. “Mas, em uma perspectiv­a mais ampla, nós ganhamos, porque esse movimento já não volta atrás. Mais de 20 milhões de mulheres foram às ruas.”

Já os argentinos que se opõem à liberação comemoram o resultado. Gustavo Volpe, 54, presidente da organizaçã­o Rosario te Quiero Provida, afirma que não se trata de uma vitória da igreja ou de algum grupo etário ou social, mas do povo como um todo.

“O que aconteceu foi uma festa de democracia. Não foi um decreto, houve um voto no Congresso, deu-se o debate em todo o país. O povo se expressou e politicame­nte o tema foi votado. Ganhou a defesa da vida.”

Ele, que acredita haver vida desde a concepção, acha que o tema voltará ao Congresso em alguns anos, mas não teme a legalizaçã­o em um futuro próximo. “Uma geração inteira já disse que não. Vai passar muito tempo até que isso mude.”

A cientista política Mariana Ravazzola, 44, também festejou. “Os que nos opomos somos vistos como atrasados. Não é isso. Não se pode comparar aborto ao divórcio ou ao casamento gay, há uma vida aí.”

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