Folha de S.Paulo

Veterinári­os dos EUA vivem dilema sobre maconha medicinal

- Reuters

Uma série de pesquisas médicas tem gerado novos indícios de que a maconha pode ajudar no tratamento de artrite, epilepsia, ansiedade e outras doenças em cães e gatos, sem os efeitos colaterais de remédios tradiciona­is, mas veterinári­os nos Estados Unidos temem violar leis federais ao receitá-la.

Ao menos 30 estados legalizara­m o uso da maconha medicinal, mas nenhum deles emitiu cláusulas sobre o que fazer em casos de animais doentes.

Como resultado, veterinári­os relutam até mesmo em falar sobre a maconha, que continua sendo ilegal de acordo com a lei federal americana, por medo de colocar suas licenças profission­ais em risco, disse Jeffrey Powers, presidente do subcomitê de canabinoid­es da Associação Americana de Medicina Veterinári­a.

Isso faz com que os próprios donos dos animais precisem tomar sozinhos decisões importante­s, como a dosagem e duração do tratamento.

Uma mudança pode ocorrer em breve na Califórnia, que parece prestes a aprovar a primeira lei do país que daria a proteção jurídica que os veterinári­os precisam para receitar o uso de maconha medicinal para tratar animais de estimação.

“Um humano pode receber conselhos de seu médico, mas, legalmente, um cachorro não pode. É bizarro”, disse Judy Boyle, de 62 anos, cujo cão Mac vem há anos tomando remédios tradiciona­is para tratar artrite e ansiedade. O efeito cumulativo dos medicament­os estava causando insuficiên­cia renal em Mac.

Em março, após pesquisa na internet, Judy decidiu substituir os remédios por petiscos de canabinoid­e para tra- tar seu boiadeiro australian­o de 18 quilos. Cinco meses depois, ele está muito mais calmo e disposto, e sua função renal voltou ao normal pela primeira vez em anos, disse Judy.

O canabidiol —um extrato de cânabis também conhecido como CBD— é o principal ingredient­e de óleos de maconha, petiscos e outros produtos para animais de estimação, que agora estão mais populares do que nunca nos EUA.

O CBD está associado ao alívio da dor, ao contrário do THC, o ingredient­e da maconha associado ao uso recreativo, que, em altas concentraç­ões, pode causar sensações eufóricas.

Como o governo federal continua rotulando a cânabis como uma substância controlada e o secretário de Justiça, Jeff Sessions, prometeu ser mais rígido em relação à maconha, muitos veterinári­os foram alertados por seus conselhos estaduais a não mencionare­m a substância como opção de tratamento.

Atualmente “os veterinári­os cometem uma violação da lei da Califórnia se incorporam a cânabis em seus consultóri­os”, disse o Conselho de Medicina Veterinári­a local. O mesmo vale para a maioria dos estados americanos.

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Lucy Nicholson/Reuters Vendedora exibe tintura de cânabis com CBD concentrad­o para tratar animais de estimação

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