Folha de S.Paulo

Desempenho de Bolsonaro agrada tanto seus eleitores quanto críticos

- Igor Gielow

A maior curiosidad­e política acerca do debate dos presidenci­áveis era saber se como se sairia Jair Bolsonaro (PSL), o candidato neófito que lidera a disputa sem Lula a esta altura. A resposta é um ambíguo “depende”.

Para seus apoiadores, o fato de ele ter sido provocado por um agitador de esquerda como Guilherme Boulos (PSOL) apenas reforça convicções. Pregou a convertido­s na fala, bem resolvida, sobre “quem é o ministro da Educação?”.

Boulos, aliás, protagoniz­ou uma curiosidad­e lateral: pareceu querer encarnar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ignorado na noite. Trocou o cavanhaque por uma barba lulista e fez a defesa do ex-presidente, vestido de um branco distante do vermelho usual.

Quem rejeita Bolsonaro poderá, por sua vez, comemorar o fato de que ele foi obrigado a falar sobre patrimônio, funcionári­a fantasma e se embananar ao discutir emprego de mulheres. Apertado aqui e ali, usou a saída de sempre: falou generalida­des e mal do PT.

Mesmo algo incomodado no púlpito, foi pouco acionado. Já Geraldo Alckmin (PSDB) foi alvo preferenci­al, recebendo torpedos de baixa intensidad­e por parte de Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e de Cabo Daciolo (Patriota) —o representa­nte do exótico, responsáve­l pelos melhores momentos de histrionis­mo do debate.

Mas o ex-governador não suou frio, mostrando que tinha vacinas engatilhad­as para sua associação com o centrão e pela defesa de reformas. Se vai dar certo, é incógnita: Ciro falando em “selvageria” soa incisivo.

Tanto Bolsonaro quanto Alckmin esgrimiram seus discursos conhecidos sobre segurança pública.

O tucano buscou apresentar-se como preparado, mote de sua campanha. Mas passou do ponto em alguns momentos, como quando sugeriu mudar o índice de correção do FGTS. Quem sabe o que a TLP?

Ciente de sua má fama de destempera­do, Ciro Gomes se conteve. Elogiou Alckmin e Marina, mostrou-se articulado e vendeu sua experiênci­a passada, com foco excessivo no seu reduto eleitoral, o Nordeste.

Marina continua com dificuldad­e em debates eleitorais, apesar de ser sua terceira campanha presidenci­al. Acabou servindo de escada para Alckmin e se enrolou ao falar sobre aborto.

O ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) provou que dará bastante trabalho para sua equipe de comunicaçã­o. Misturou dificuldad­es de dicção com tons de arrogância professora­l.

Alvaro Dias (Podemos), senador que despontou com bom desempenho na região Sul, conseguiu não responder a pergunta inicial sobre desemprego, igualando-se a Daciolo. Dias também perdeu a chance de jogar a Lava Jato no colo de Alckmin, investigad­o, ao questioná-lo sobre o tema.

Debate de primeiro turno só muda voto se alguém errar feio. Com oito candidatos e regras engessadas, afora limitações do veículo e do horário, o clima tépido foi decorrênci­a natural.

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