Folha de S.Paulo

Policiais e militares ganham destaque em chapas nesta eleição

Escalada da violência e candidatur­a de Jair Bolsonaro são fatores que impulsiona­m busca de cargos majoritári­os

- João Pedro Pitombo

A candidatur­a do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL) à Presidênci­a e a escalada da violência no país estimulara­m militares e policiais a participar­em das eleições deste ano.

Nos governos estaduais, oito buscam se eleger à cadeira principal e 12 a vice. Oito tentam vaga no Senado.

Pelo menos cinco policiais filiados ao PSL disputarão governo, vice ou Senado.

Em SP, Márcio França (PSB) e Paulo Skaf (MDB) terão como vices duas oficiais da Polícia Militar —a coronel Eliane Nikoluk e a tenente-coronel Carla Basson, respectiva­mente.

Eles tiraram as fardas para entrar na política. E ocuparão postos de destaque na disputa majoritári­a nos estados nas eleições deste ano.

Dois generais da reserva do Exército disputam governos estaduais. Um capitão, um major da PM e um brigadeiro reformado vão tentar o Senado. E oficiais e praças da PM, delegados da Polícia Civil e agentes da Polícia Federal serão vices em pelo menos cinco estados. São pelo menos 28 candidatos, 8 ao governo, 12 vices e 8 ao Senado.

Parte dos policiais já tinha carreira política e agora tenta um voo mais alto. É o caso dos deputados Marcelo Delaroli (PR) e Zaqueu Teixeira (PSD), ambos candidatos a vice-governador no Rio.

Zaqueu, que foi comandante-geral da Polícia Civil do Rio em 2002 e liderou as operações para prisão do traficante Elias Maluco, será vice candidato na chapa liderada por Índio da Costa (PSD).

“Nosso estado precisa de segurança e eu tenho minhas credenciai­s de uma história sólida nesta área”, afirma Zaqueu.

Já o deputado Marcelo Delaroli (PR), que chegou a negociar uma aliança com Eduardo Paes (DEM), fechou aliança com o senador Romário (Podemos), que também disputa o governo.

Ao anunciar a parceria, Romário destacou que Delaroli foi policial militar e tem atuação na área de segurança. A segurança pública do Rio de Janeiro está sob intervençã­o federal desde abril deste ano.

Em São Paulo, o governador Márcio França (PSB) e o candidato Paulo Skaf (MDB) terão como vices oficiais da PM. Em ambos os casos, são mulheres e sem experiênci­a prévia com política partidária.

Primeira mulher a assumir o comando da Polícia Militar no Vale do Paraíba, a coronel Eliane Nikoluk (PR) será a vice de França.

Desde que assumiu o governo em abril, com a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB), França buscou estreitar relações com a Polícia Militar. Homenageou uma cabo que ati- rou num assaltante no Dia das Mães e costuma prestar condolênci­as a familiares de policiais que morrem em serviço.

Na mesma linha, Paulo Skaf (MDB) escolheu a tenente-coronel Carla Basson com ênfase no combate à violência.

A escalada da violência também levou policiais a disputar eleições em chapas majoritári­as no Norte e Nordeste.

No Acre, os três principais candidatos terão policiais em suas chapas. O estado, segundo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é o segundo com maior taxa proporcion­al de mortes violentas, com 63,9 homicídios a cada 100 mil habitantes.

Além da escalada da violência, a candidatur­a de Jair Bolsonaro à Presidênci­a também foi um dos fatores que impulsiona­ram as candidatur­as dos militares. Pelo menos cinco policiais filiados ao PSL disputarão governo, vice ou Senado nos estados.

O exemplo é o Major Olímpio (PSL), principal aliado de Bolsonaro em São Paulo, que disputará o Senado.

Coautor de um estudo que aponta para o aumento da participaç­ão de militares em eleições do Brasil desde 1998, o cientista político Bruno Bolognesi, professor da UFPR (Universida­de Federal do Paraná), afirma que as candidatur­as de policiais costumam ter viés personalis­ta e são resultado da recente escalada da violência.

“Há uma inquietaçã­o severa da população em relação à questão da segurança. E isso faz com que candidatos com este perfil, das forças repressiva­s, ganhem terreno”, diz.

Não são apenas os partidos mais à direita, como o PSL de Bolsonaro, que terão policiais nas majoritári­as.

Entre os candidatos ao Senado, o capitão da PM Styvenson Valetim (Rede) é o principal candidato ao outsider no Rio Grande do Norte, estado cuja política é marcada pela influência de clãs familiares.

Styvenson foi coordenado­r das blitze da Lei Seca em Natal e ganhou popularida­de com vídeos nas redes sociais.

Em Sergipe, o cabo da PM Márcio Souza será candidato a governador pelo PSOL.

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