Folha de S.Paulo

Niilismo é marcante do começo ao fim do livro, diz organizado­r da edição

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são paulo Para o escritor e tradutor Bernardo Ajzenberg, que organizou “Quase Antologia” a partir de um material bruto de mais de 1.700 crônicas, o elemento que une os textos é o niilismo.

“Não dá para defini-lo seriamente como um anarquista. É um anarquista entre aspas. Ele é mais um niilista em relação à vida, à política ou mesmo à cultura. O niilismo é marcante do começo ao fim [do livro]”, afirma Ajzenberg.

A partir do material bruto, o organizado­r chegou a 429 textos e, então, aos quase 230 presentes no livro.

Outro elemento que marca todas as crônicas, afirma, é uma certa “nonchalanc­e” — aquele ar relaxado, sem ansiedade ou entusiasmo, de quem está jogando conversa fora.

Um dos critérios, é claro, foi selecionar as crônicas que sobreviver­am ao teste do tempo. A ideia é que elas sejam compreendi­das sem a necessidad­e de dezenas de notas de rodapé —que são, como sabemos, o arame farpado da leitura.

Os temas que Ajzenberg escolheu são muitos, mas ele tentou equilibrá-los. Há a política, naturalmen­te, mas também perfis culturais, textos sobre esportes e também comentário­s históricos.

O Rio de Janeiro, espaço onde a crônica nacional surgiu e se aclimatou a um estilo brasileiro, também é o assunto de várias delas —e é como se Cony escolhesse de forma consciente dialogar com essa tradição, que remonta a nomes como José de Alencar e Olavo Bilac.

“Era importante dar conta de todos esses temas. Uma coisa legal é que o Cony está perto e está longe ao mesmo tempo. Ele está na Lagoa [no Rio] e falando das Guerras Púnicas, saltando de uma coisa para outra com facilidade. É saboroso”, diz Ajzenberg.

O organizado lembra ainda que, como de 2005 a 2017 Cony já estava em idade mais avançada e, por isso, escrevendo dentro de casa, por vezes o autor assumia um tom de confissão em relação a seus limites —como em textos em que fala da falta de assunto, tema clássico da crônica.

A morte, por exemplo, é um tema recorrente —para falar da eutanásia ou sobre a própria morte. Em uma delas, por exemplo, Cony escreve: “Se eu morrer amanhã, não levarei saudade de Donald Trump. Também não levarei saudade da Operação Lava Jato nem do mensalão. Não levarei saudade dos programas do Ratinho, do Chaves, do Big Brother em geral”.

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