VENCEDOR DE CONCORRÊNCIA PELO PACAEMBU DEVE SAIR NESTA SEMANA
Sob resistência de morador, gestão definirá vencedor de concorrência; edifício deve substituir tobogã
Nadador utiliza a piscina do complexo esportivo do Pacaembu, em São Paulo; a gestão Bruno Covas (PSDB) prevê abrir na quinta-feira (16) os envelopes de interessados em assumir as instalações do estádio nos próximos 35 anos
A gestão Bruno Covas (PSDB) prevê abrir nesta quinta (16) os envelopes de interessados em assumir a operação do complexo do Pacaembu pelos próximos 35 anos.
A definição do vencedor da concorrência, disputada por consórcios de empresas dos ramos de construção, educacional e esportivo, poderá marcar a primeira conquista do projeto de desestatização da administração tucana iniciado por João Doria (PSDB).
Atualmente candidato ao governo paulista, Doria conta com a concessão do estádio como primeiro e por enquanto único triunfo do programa que pode ser capitalizado durante a campanha eleitoral.
Para isso, a gestão Covas ainda tenta evitar que a Justiça atenda nesta semana a um pedido da Associação Viva Pacaembu para suspender a abertura dos envelopes.
A entidade, composta por moradores do bairro, contesta a concessão por ver risco de infração ao tombamento do estádio, por ser contra a demolição do tobogã e temer eventos com som alto —segundo a prefeitura, as regras serão iguais às de hoje, com máximo de 45 decibéis à noite e 50 decibéis de dia.
A gestão Covas diz que a reforma deverá seguir os parâmetros definidos em projeto aprovado pela prefeitura e por órgãos de preservação do patrimônio municipal e estadual (Conpresp e Condephaat). Ele foi elaborado por consórcio do qual participa empresa do ex-jogador Raí.
A intervenção mais radical é a derrubada do tobogã para a construção de um edifício translúcido, reduzindo a capacidade do estádio de 40.199 para 26.824 pessoas.
Esse edifício multiuso deve ter sua vocação definida pelo consórcio ganhador. Possibilidades que já chegaram à mesa da prefeitura envolvem a criação de hotel, restaurantes, escritórios para empresas de inovação (uma espécie de incubadora) e uma faculdade.
No subsolo do edifício deve ser construído um estacionamento com 650 vagas. O piso térreo funcionaria como uma passagem entre o estádio e o centro esportivo, dissolvendo a barreira imposta pelo tobogã —que, para a empresa, teria “baixa qualidade arquitetônica”, deturparia o conceito original do estádio (foi construído depois) e ofereceria uma visão ruim do campo.
Além disso, há a intenção de instalação de coberturas nas arquibancadas laterais (leste e oeste) e a completa reforma das instalações hidráulica e elétrica —no ano passado, diversas partidas de futebol no estádio foram interrompidas devido a quedas de energia.
O edital abrange o estádio e o clube e não engloba o Museu do Futebol, que pertence ao governo do estado, nem a praça Charles Miller.
“Nossa visão para o futuro do complexo do Pacaembu é ancorada em três pilares: primeiro, transformar o Pacaembu em Parque Urbano Esportivo, aberto para a população todos os dias da semana. Segundo, restaurar o estádio, respeitando as diretrizes do tombamento, mas adaptando as normas atuais de segurança e conforto. Terceiro, criar um espaço para hospedar empresas da economia criativa e um mercado gastronômico”, diz Paulo Velasco, empresário que é sócio de Raí.
Segundo a prefeitura, está garantido no edital que nada mudará para aqueles que frequentam o clube, que continuará aberto gratuitamente para a população que desfruta das piscinas e quadras. Atualmente, basta fazer um cadastro na secretaria do clube para ter acesso a ele.
O valor mínimo de outorga que deve ser pago pelas interessadas é de R$ 37 milhões. O vencedor será o consórcio que oferecer o maior valor. A prefeitura projeta R$ 500 milhões em ganhos ao município em mais de três décadas, incluindo outorga, investimentos e novos impostos.
Em 2017, segundo a gestão Covas, houve gastos de R$ 8,3 milhões, contra receita de R$ 2,3 milhões do Pacaembu.
Pelo planejamento de Doria, já deveriam estar nas mãos da iniciativa privada pelo menos o primeiro pacote de parques, que inclui o Ibirapuera, os cemitérios e o Anhembi.
Além de dificuldades na Câmara e no Tribunal de Contas do Município, a prefeitura atribui o atraso ao que chama de “judicialização excessiva” e ao calendário eleitoral, diz Wilson Poit, secretário de Desestatização e Parcerias.
No caso dos parques, o governador Márcio França (PSB), rival de Doria nas eleições, negou em julho a cessão de áreas do Ibirapuera que pertencem ao estado, alegando não ter sido consultado.
Com isso, Covas teve que reformular o pacote, deixando só o Ibirapuera (excluindo áreas estaduais) e o parque Lajeado (zona leste), sem outros quatro que também ficariam sob responsabilidade privada.
No começo do mês, a Justiça decidiu que os prédios do Anhembi não podem ser demolidos, o que não impede a privatização diretamente, mas pode inviabilizá-la — dificilmente haveria interessados nessas condições.
“A judicialização excessiva, o calendário eleitoral e o desconhecimento do que é desestatização, concessão e privatização colaboram para atrasar, mas sou otimista e acho que conseguiremos realizar [o pacote prometido por Doria]”, diz Poit. Para ele, é possível ter dez editais de concessão abertos até o final de 2018, incluindo o terminal de ônibus Princesa Isabel e os parques.
Parte do dinheiro que a prefeitura planeja amealhar com a concessão do Pacaembu deve ser destinada a oficinas de artes marciais em regiões periféricas, segundo o secretário de Esportes e Lazer, João Farias.
“O Pacaembu exige recursos que a secretaria hoje não tem. Ele come orçamento que poderia estar sendo direcionado para atividades nos mais de 40 clubes da cidade”, diz. “Caratê, judô, tae kwon do, jiu jitsu, capoeira. Você não tem ideia do tamanho da demanda. Tem fila de espera quando conseguimos abrir vagas.”