Folha de S.Paulo

Mercado para todos

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Acerca de condições para negócio entre Itaú e XP.

Ao impor condições para a aprovação da compra de parte da XP Investimen­tos pelo Itaú, o Banco Central deu um passo importante no sentido de preservar a concorrênc­ia no setor financeiro.

Tomada após quase 15 meses de análise do negócio, a decisão da autoridade monetária estabelece regras mais restritiva­s do que as já determinad­as pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), em março.

Maior banco privado do país, o Itaú teve sua participaç­ão na XP, líder em seu segmento do mercado, limitada a 49,9% do capital total e 30% do capital votante.

Em 2022, poderá comprar mais 12,5% das ações, mas em qualquer hipótese estará impedido de deter mais de 40% daquelas com direito a voto. Também essa etapa futura dependerá de aprovação do BC.

Além disso, o banco não está autorizado a interferir na gestão da empresa de investimen­tos nem a ter acesso à sua base de clientes por 15 anos. Ambos deverão atuar de forma independen­te, sem integração comercial ou operaciona­l.

Os termos do acordo representa­m uma sinalizaçã­o eloquente ao mercado e parecem marcar uma nova posição do Banco Central.

Deveriam ficar para trás, de fato, os tempos em que os grandes bancos conseguiam comprar concorrent­es para retirá-los do mercado, com o beneplácit­o implícito ou explicito das autoridade­s —possivelme­nte mais preocupada­s com a resistênci­a do sistema a crises.

Uma das razões para os juros exorbitant­es e os custos excessivos da intermedia­ção financeira para consumidor­es e empresas no país, afinal, é a elevada concentraç­ão já existente. Apenas quatro grandes bancos —Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú e Bradesco— respondem por quase 80% do crédito nacional.

As condições para algum aumento da concorrênc­ia no setor parecem promissora­s. A recente queda da taxa Selic, do BC, tende a reforçar o interesse do público em outras plataforma­s de serviços.

Também proliferam as fintechs, empresas que baseiam sua atuação em tecnologia para prover soluções em áreas como investimen­tos, cartões e concessão de crédito.

A fim de que a competição possa florescer e reduzir custos para consumidor­es e empresas de forma perene, porém, cabe às autoridade­s fortalecer o ambiente regulatóri­o. Medidas que impeçam os bancos de dificultar o acesso aos dados (como o cadastro positivo) e facilitem a velocidade de recuperaçã­o de garantias são cruciais.

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