Eleição preocupa mais no Brasil do que crise financeira
Embora o Brasil seja afetado pelas turbulências na Turquia na rasteira dos países emergente, especialistas ressaltam que a economia brasileira guarda diferenças relevantes da turca, e questões internas devem se apresentar como fator maior de volatilidade.
“Quando crises como essas acontecem, como vimos com a Argentina, investidores começam a olhar mais atentamente os riscos políticos e econômicos nos emergentes. Há um risco político no Brasil por causa das eleições, o que justifica o aumento do prêmio nos ativos brasileiros”, afirma Rachel Ziemba, presidente da Ziemba Insights e especialista em mercados emergentes.
Marco Casarin, economista-chefe para América Latina da consultoria inglesa Oxford Economics, também avalia o Brasil como um dos países vulneráveis a mudanças de apetite ao risco dos investidores.
“O Brasil também pode sofrer um pouco nesse ano no quesito vulnerabilidade em razão da falta de clareza sobre eleições, ou seja, por dúvidas sobre se o próximo governo manterá seu compromisso com o ajuste fiscal e as reformas estruturais que o governo [do presidente Michel] Temer largou pela metade”, diz.
Casarin ressalta, no entanto, que a Turquia tem conjunturas econômicas diferentes das do Brasil.
“Não apenas temos um déficit em conta-corrente minúsculo se comparado ao da Turquia como nossa dívida externa de curto prazo é mínima e inteiramente coberta pelas reservas, ao contrário da deles”, afirma.
Ele acrescenta ainda que o Brasil registra inflação baixa e crescimento abaixo do potencial. “A Turquia tem uma inflação acima da meta há bastante tempo, com uma economia superaquecida e crescimento baseado em crédito.”
Outros emergentes, em situação mais frágil, tendem a sofrer mais, como a África do Sul e a Argentina.
O primeiro tem um déficit em conta-corrente elevado.
Já o vizinho sul-americano fechou acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em junho, depois de o peso argentino mergulhar numa forte desvalorização.
Nesta segunda, a moeda recuou 3,8%, sob impacto da crise turca e de um escândalo de corrupção que envolveu políticos e empresários argentinos. No ano, a queda é de 38%.
“Tenho convicção de que, passada a volatilidade inicial, essas moedas voltarão aos níveis da semana passada, e apenas a Turquia vai experimentar uma mudança significativa na sua taxa de câmbio”, diz Casarin.