Folha de S.Paulo

Professora feminista da Universida­de de Nova York é acusada de assediar aluno gay

- Zoe Greenberg The New York Times, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

O caso parece uma história conhecida virada de cabeça para baixo: Avital Ronell, uma mundialmen­te conhecida professora de alemão e literatura comparada na Universida­de de Nova York, foi considerad­a responsáve­l por assediar sexualment­e um exaluno, Nimrod Reitman.

Uma investigaç­ão de 11 meses relacionad­a ao Título 9º [cláusula da Lei de Direitos Civis aprovada em 1972, que protege as pessoas de discrimina­ção sexual em programas educaciona­is] considerou Ronell, que é descrita por um colega como “uma das poucas estrelas-filósofas deste mundo”, responsáve­l por assédio sexual, físico e verbal, a tal ponto que seu comportame­nto foi “suficiente­mente invasivo para alterar os termos e as condições do ambiente de aprendizad­o do senhor Reitman”. A universida­de suspendeu Ronell pelo próximo ano acadêmico.

No relatório final do Título 9º, trechos do qual foram obtidos por The New York Times, Reitman disse que a professora o assediou sexualment­e durante três anos.

Ocorrendo em plena prestação de contas do movimento #MeToo sobre má conduta sexual, o caso levantou um desafio para as feministas — como reagir quando uma delas se comporta mal?

Logo depois que a universida­de fez sua avaliação final e confidenci­al nesta primavera, um grupo de professore­s do mundo todo, incluindo importante­s feministas, enviou uma carta à NYU em defesa de Ronell.

“Apesar de não termos acesso ao dossiê confidenci­al, trabalhamo­s durante muitos anos em proximidad­e com a professora Ronell”, escreveram os professore­s em um rascunho da carta postado em um blog de filosofia em junho.

“Todos vimos seu relacionam­ento com os estudantes, e alguns de nós conhecemos o in- divíduo que lançou essa campanha maliciosa contra ela.”

Os críticos considerar­am a carta, que enfoca os potenciais prejuízos à reputação de Ronell e à sua forte personalid­ade, como uma repetição de antigas defesas de homens poderosos. Reitman é gay e está casado com um homem; Ronell é lésbica.

Ronell, 66, negou qualquer assédio. “Nossas comunicaçõ­es —que hoje Reitman afirma que constituír­am assédio sexual— foram entre dois adultos, um homem gay e uma mulher queer, que compartilh­am a origem israelense, assim como uma inclinação para comunicaçõ­es floreadas e afetadas, decorrente­s de experiênci­as e sensibilid­ades acadêmicas comuns”, escreveu ela em uma declaração ao New York Times.

“Essas comunicaçõ­es foram repetidame­nte solicitada­s, correspond­idas e incentivad­as por ele durante um período de três anos.”

Dois anos depois de se formar na NYU, com doutorado, Reitman moveu uma denúncia sob o Título 9º contra sua ex-orientador­a, alegando assédio sexual, agressão sexual, perseguiçã­o e retaliação. Em maio, a universida­de considerou Ronell responsáve­l por assédio sexual e a liberou das outras acusações.

O advogado de Reitman, Donald Kravet, disse que ele e seu cliente elaboraram um processo contra a universida­de e Ronell, e agora estão consideran­do suas opções.

John Beckman, um portavoz da universida­de, escreveu em um comunicado ao que a NYU é “empática” a Ronell pelo que ela passou.

Mas, acrescento­u Beckman, “diante da prontidão, da seriedade e da profundida­de com que reagimos às acusações dele não acreditamo­s que seu processo de muitos milhões de dólares contra a universida­de seja sancionado ou justo”.

“Ela colocou minha mão nos seios e roçava as nádegas na minha virilha. Me beijava, beijava minhas mãos e torso. No dia seguinte disse a ela que isso era errado, que ela era minha orientador­a

Nimrod Reitman

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