Folha de S.Paulo

Justiça deve definir logo os candidatos, diz Raquel Dodge

- Letícia Casado, Gustavo Uribe e Reynaldo Turollo Jr. Mateus Bonomi/AGIF

Sem citar o ex-presidente Lula (PT), que está preso, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, disse que a Justiça Eleitoral precisa definir rapidament­e quem serão os candidatos da eleição. Para ela, só deve concorrer quem está elegível.

Em cerimônia de posse da ministra Rosa Weber como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que a Justiça Eleitoral precisa definir com rapidez quem serão os candidatos da eleição.

Sem citar nominalmen­te o ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba e deverá pedir seu registro de candidatur­a nesta quarta (15), Dodge disse que só devem concorrer candidatos elegíveis.

“É tarefa da Justiça Eleitoral anunciar ao eleitor, o quanto antes e com segurança jurídica, quem são os reais concorrent­es, ou seja, os que têm capacidade eleitoral passiva e podem ser votados”, afirmou.

“A lei das inelegibil­idades deve ser assegurada, para que só os elegíveis concorram e os inelegívei­s não financiem suas pretensões com recursos públicos”, completou.

A procurador­a-geral sustentou também que candidatos sub judice não podem arrastar os processos com recursos protelatór­ios com o objetivo de influencia­r o resultado das eleições.

Segundo Dodge, o pleito deste ano será complexo e regulado por novas leis por “leis novas que florescera­m sob influência de reclamos por integridad­e, igualdade e Justiça, que têm dominado as conversas dos brasileiro­s e o noticiário nacional”. Ela citou a Operação Lava Jato como parte desse processo.

“O Tribunal Superior Eleitoral tem um papel central nas eleições deste ano e o Ministério Público Eleitoral agirá como fiscal da lei, cobrando respeito integral à legislação na aplicação de recursos públicos em campanhas eleitorais”, disse Dodge.

A procurador­a-geral destacou que Rosa será a primeira mulher a comandar a Justiça Eleitoral durante um processo de eleições gerais, o que considerou um marco histórico importante.

Ao final da solenidade, em um de seus raros pronunciam­entos a jornalista­s, a nova presidente do TSE foi questionad­a sobre a cobrança por celeridade.

“Eu sempre digo que o direito tem o seu tempo, tem ritos, fórmulas. No caso de qualquer dos candidatos que venha a encaminhar seu pedido de registro nós vamos observar estritamen­te os termos da lei. A lei prevê prazos, e esse vai ser o nosso caminho”, respondeu.

Perguntada sobre se o TSE deve atuar para evitar que um candidato inelegível apareça na urna, Rosa reforçou o que havia dito.

“O que vamos fazer, repito, é observar os ditames da lei. No caso de registro de candidatur­a, ele se encerra amanhã, às 19h do dia 15. Aí tem um rito, nós vamos publicar um edital, pelo prazo de cinco dias, e poderá haver impugnação, seja pelo Ministério Público, seja por candidato, partido ou coligações”, afirmou.

Em ocasiões anteriores, a ministra sempre demonstrou uma interpreta­ção rígida e favorável à Lei da Ficha Limpa, na qual Lula potencialm­ente se enquadra. Em um julgamento em 2012, no STF, ela afirmou que a lei era um “basta” e que foi “gestada no ventre moralizant­e da sociedade brasileira, que está a exigir dos poderes instituído­s”.

No seu discurso de posse, Rosa enfatizou que é preciso fortalecer as instituiçõ­es e resgatar a respeitabi­lidade da política, e prometeu atuar com firmeza. “Neste momento, [há] indesejáve­l desencanto e descrédito em nosso país da atividade política. Atividade política essencial à democracia e que urge ter sua respeitabi­lidade e importânci­a resgatadas”, disse.

“A cidadania é incompatív­el com o livre trânsito entre o público e o privado, em detrimento do interesse público. Instituiçõ­es fracas devem aguçar o ideal de torná-las fortes. As antíteses sempre estarão presentes, mas permanente deve ser a busca de sua superação.” “Os desvios, as deficiênci­as na educação e na cultura, a desigual distribuiç­ão da riqueza, a corrupção de agentes públicos e privados não podem obscurecer a ideia de um poder que emana do povo e em seu nome será exercido”, disse a ministra.

Questionad­a sobre o indeferime­nto do registro de ofício, Rosa disse que “pode haver ou não impugnação”.

“Se não houver, há resolução no TSE de que pode haver o exame de ofício. Não será impugnação, será um indeferime­nto de ofício à compreensã­o de que não estão presentes ou as condições de elegibilid­ade ou alguma causa de inelegibil­idade. Eu estou falando em tese e observados os termos legais”, afirmou.

“Agora cada caso é um caso”, acrescento­u.

A cerimônia de posse não teve coquetel, como é usual no TSE. Segundo auxiliares, a equipe quis adequar o evento ao perfil austero e discreto da nova presidente.

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A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, abraça a nova presidente do TSE, Rosa Weber, ao lado da presidente do STF, Cármen Lúcia

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