Folha de S.Paulo

Mais fresco, azeite nacional começa a ganhar espaço nos restaurant­es de SP

Ingredient­e produzido no Brasil começa a ocupar o lugar do líquido importado em restaurant­es de São Paulo

- Flávia G. Pinho Eduardo Knapp/Folhapress

A Carlos Pizza trocou portuguese­s e gregos pelo Serra dos Garcias, de Aiuruoca (MG). A chef Ana Soares, do Mesa III, alterna nas massas o Oliq, de São Bento do Sapucaí (SP), o Borriello, de Andradas (MG), e o Taguá, de Cabreúva (SP).

No Carlota, a chef Carla Pernambuco põe quatro rótulos nas mesas —entre eles, o Fazenda Irarema, de São Sebastião da Grama (SP).

Para Luciano Nardelli, chef da Carlos, o azeite nacional ganha pelo aroma pronunciad­o. Isso acontece porque chega fresco à mesa, às vezes semanas depois de prensado. “É um produto que sei de onde vem e quando foi feito”, diz.

Já os estrangeir­os, especialme­nte os europeus, desembarca­m só na safra seguinte —e perdem caracterís­ticas durante esse trajeto.

As marcas mais frequentes nas mesas paulistana­s vêm da serra da Mantiqueir­a. E não só pela proximidad­e —a região, neste ano, foi a grande surpresa da olivocultu­ra nacional. A colheita anual, em fevereiro, gerou 80 mil litros de azeite, o dobro do ano passado.

Pela serra, as oliveiras se alastraram. Entre lavouras pequenas equilibrad­as nas encostas, a Fazenda Irarema, em São Sebastião da Grama (SP), se destaca pelo tamanho: o proprietár­io Moacir Carvalho Dias já tem 21 mil pés.

Seu primeiro blend, lançado neste ano, saiu da New York Internacio­nal Olive Oil Competitio­n com o prêmio máximo na categoria Best in Class. “Até 2024, quero extrair 80 mil litros de 40 mil pés”, anuncia.

A olivocultu­ra é recente no Brasil —as primeiras mudas começaram a ser plantadas na Campanha Gaúcha em torno de 2010. Lá estão as propriedad­es de maior extensão.

Poucos rótulos, porém, devem chegar à mesa do paulistano neste ano —a produção nesta região do sul, de 40 mil litros, foi 20% menor do que a do ano passado. O responsáve­l, segundo o consultor Paulo Freitas, foi são Pedro. “Houve granizo durante a floração e muita chuva”, afirma.

Maior produtor nacional, o empresário Luiz Eduardo Batalha, criador do azeite Batalha, é uma das poucas exceções. Com 120 mil pés em Pinheiro Machado (RS), ele extraiu 17,5 mil litros.

No geral, a produção nacional deve chegar a 120 mil litros —um cresciment­o de 20%. Ainda é pouco diante das 60 mil toneladas de azeite que o país importa anualmente. Os nacionais correspond­em a apenas 2% do consumo per capita, de 430 mililitros anuais. Mas eles só ficam atrás no quesito quantidade.

Autor do “Guia de Azeites do Brasil 2018” (Livrobits), que chega às livrarias no mês que vem, Sandro Marques conta que é fácil notar a evolução do setor. “Provei azeites que eram regulares no ano passado e estavam ótimos agora.”

Entre os produtores, a sensação é de quem superou obstáculos que pareciam intranspon­íveis. Oliveiras gostam de verões quentes, pouca chuva e 500 horas de frio intenso por ano —condições típicas da região mediterrân­ea, não do Brasil.

A variedade arbequina, da Espanha, é a mais plantada por aqui. Segundo Freitas, é mais fácil de cultivar e rende azeites suaves. Atrás dela vêm as espanholas arbosana e picual, as italianas frantoio e grappolo e a grega koroneiki. É um cardápio modesto se comparado ao dos países europeus. Só a Itália dispõe de 538 cultivares.

O preço alto e a distribuiç­ão escassa, por enquanto, são os maiores inimigos do azeite nacional. “As vendas ficam com pequenos empórios e lojas online dos produtores”, diz Marques. Seja qual for o canal, é preciso desembolsa­r, em geral, a partir de R$ 40 por um vidro de 250 mililitros.

Para Paulo Freitas, o brasileiro aprender a apreciar os azeites frescos é só questão de tempo. “O consumidor vai amadurecer, como aconteceu com os vinhos.”

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Azeitona mergulhada em um recipiente com azeite

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