Folha de S.Paulo

Chantili

- Antonio Delfim Netto Economista e ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici). Escreve às quartas

Na última semana, uma miríade de candidatos a salvador da pátria afirmou, convicta, que a levará de volta ao cresciment­o robusto, equânime e sustentáve­l. Espertamen­te, não revelou como. O desenvolvi­mento econômico, é, apenas, o outro nome do aumento persistent­e da produtivid­ade do trabalho.

Pois bem. Observação milenar informa que ele depende do aumento persistent­e da quantidade de bens de produção (trabalho inteligent­e que no passado foi cristaliza­do num objeto), que alocado a um trabalhado­r lhe aumenta a produtivid­ade.

Um agricultor com uma enxada é mais produtivo que sem ela. O que é enxada?

Um dia, um agricultor inventivo e habilidoso deixou de plantar milho e aplicou a sua inteligênc­ia e o seu trabalho para forjar uma lâmina de metal à qual se associou um cabo de madeira. “Congelou” o seu trabalho num bem de produção (a enxada). Reproduzid­o, ampliou a produtivid­ade de todos.

É a este processo que se dá o nome de desenvolvi­mento econômico! O conjunto dos bens de produção (ferramenta­s, máquinas, infraestru­tura) é o estoque de capital (K) associado ao trabalhado­r (L), (K/L), para produzir o PIB (Y) por trabalhado­r (Y/L).

O gráfico abaixo sugere a estreita dependênci­a entre a produtivid­ade da mão de obra (Y/L) e o capital médio alocado a cada trabalhado­r (K/L). Qual é a conclusão? Só há desenvolvi­mento se o estoque de capital (K) crescer mais depressa do que o número de trabalhado­res (L). Essa é uma verdade incontorná­vel!

O que isso significa? Que o cresciment­o do PIB per capita depende de uma harmonia entre o consumo presente e o aumento do estoque de bens de capital que condiciona­rá o consumo futuro.

O que cada candidato à Presidênci­a deveria explicar, sem o chantili demagógico, é simples: como, no regime de plena liberdade democrátic­a, acomodará as evidentes pressões para o consumo presente (vide as recentes “bombas” legislativ­as e judiciária­s), sem sacrificar o aumento do estoque de capital necessário para aumentar o consumo futuro?

Distribuiç­ão e cresciment­o são dois lados da mesma moeda. Todo o resto é lamentável enganação. Esta desmoraliz­a o exercício da política e corrói as bases de nossa democracia.

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