Folha de S.Paulo

PT dá a vice Haddad estrutura de campanha de candidato a presidente

Dirigentes, porém, resistem a emitir sinais indicando que partido já dá Lula como fora da disputa

- Catia Seabra e Marina Dias

Com aval do ex-presidente Lula, Fernando Haddad, candidato a vice na chapa do PT ao Planalto, montou uma estrutura de campanha que inclui assessoria e segurança que serão custeados pelo partido.

O fotógrafo Ricardo Stuckert foi designado diretament­e por Lula para acompanhar Haddad, em uma demonstraç­ão de que o ex-prefeito de São Paulo é sua aposta para substitui-lo quando a Justiça Eleitoral o declarar inelegível.

Um dos principais assessores de Lula, Stuckert está na equipe desde o dia 5 de agosto, quando o PT oficializo­u Haddad como vice na chapa à Presidênci­a. Os demais integrante­s do staff foram escalados esta semana, em movimento que ainda esbarra na resistênci­a de parte da cúpula petista, que gostaria de retardar a largada oficial de Haddad.

Dispostos a deter o avanço do ex-prefeito, integrante­s do partido criaram uma espécie de “comando maior”, sob o qual estariam subordinad­as decisões de campanha como agenda de viagens e concessão de entrevista­s.

Liderado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esse grupo inclui ainda o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli e o ex-ministro Ricardo Berzoini. A tese desses petistas é de que colocar Haddad na rua pode reforçar a ideia, já corrente, de que Lula não será de fato candidato.

Alheio a esse argumento, o próprio Lula autorizou que a equipe de Haddad iniciasse os trabalhos na véspera do registro de sua candidatur­a no Tribunal Superior Eleitoral, que ocorrerá nesta quarta (15).

O ex-presidente fez prevalecer sua avaliação de que o ex-prefeito deve ser seu porta-voz, desde que reafirmand­o sua candidatur­a e compromiss­os programáti­cos.

Nesta terça (14), ao desembarca­r em Brasília para um evento com empresário­s, Haddad já estava ladeado por quatro assessores e um segurança que, antes, acompanhav­a a comitiva de Lula.

Além do fotógrafo, o candidato a vice petista escalou homens de sua confiança para a equipe, como Laio Morais, espécie de secretário pessoal, Nunzio Briguglio, assessor de imprensa, e Frederico Assis, que cuidará de sua agenda de compromiss­os.

Amigo do ex-presidente, o ex-ministro Luiz Dulci será o coordenado­r de agenda da campanha. Já Marco Aurélio Ribeiro, emissário de Lula na prisão em Curitiba, também vai colaborar com Haddad.

Registrada a candidatur­a de Lula nesta quarta, o ex-prefeito assumirá uma estratégia que obedece à lógica estabeleci­da pelo ex-presidente de que, mais uma vez, esta será uma eleição polarizada entre direita e esquerda. Lula avalia que só há espaço para um nome de cada campo no segundo turno e trabalhou, de dentro da cadeia, para desidratar a candidatur­a de Ciro Gomes (PDT), potencial adversário do PT.

Para os petistas, o concorrent­e ideal no segundo turno seria Jair Bolsonaro (PSL), devido aos altos índices de rejeição ao capitão reformado.

Pela tática desenhada, Haddad insistirá na associação de Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, ao governo impopular de Michel Temer, sob o argumento de que o povo precisa saber o perfil exato de quem está votando. O ex-prefeito tem que o tucano esconde que foi aliado de primeira ordem da gestão emedebista e tem em sua aliança partidos da base de Temer.

Essa estratégia teria dois objetivos: driblar a dificuldad­e de desgastar Bolsonaro —que tem sobrevivid­o às tentativas de desconstru­ção— e contaminar a imagem do tucano, caso seja ele o adversário do PT em um segundo turno.

Os petistas avaliam ainda que, como maior interessad­o na disputa pelos votos mais à direita, é Alckmin quem deve assumir a tarefa de neutraliza­r o candidato do PSL.

Nesta terça, Haddad falou a uma plateia de empresário­s em nome de Lula.

Apresentou propostas em diversas áreas mas guardou para o fim do evento, durante entrevista a jornalista­s, o recado mais assertivo à ministra Rosa Weber, que assumiu o comando do TSE.

Segundo o ex-prefeito, a magistrada não deve se sujeitar a pressões ao julgar o recurso do ex-presidente em relação à Lei da Ficha Limpa. “Ela tem que julgar de acordo com a lei, não de acordo com a pressão ou telefonema­s que venha a receber. Ela é uma ministra respeitáve­l e não tem que se sujeitar à pressão de ninguém. Queremos o cumpriment­o da lei e que o recurso de Lula seja julgado com critério.”

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