Folha de S.Paulo

Posse no Paraguai mantém poder colorado

Mario Abdo Benítez assume nesta quarta-feira levando ao poder ala mais tradiciona­l do partido de atual presidente

- Sylvia Colombo Marcos Brinditti/Reuters

O novo presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, 46, toma posse nesta quarta-feira (15) recuperand­o o poder para a ala tradiciona­l do Partido Colorado.

Apesar de o atual presidente, Horacio Cartes, ter a mesma filiação, ambos pertencem a distintas alas da legenda. Os chamados cartistas são novos colorados, em geral afiliados depois ou junto a Cartes.

Já os da ala abdista são minoritári­os, mas representa­m a ala tradiciona­l deste partido, de linha conservado­ra. O pai de Marito, como é chamado o novo presidente, foi secretário pessoal do ditador Alfredo Stroessner, que governou de 1954 a 1989.

No Senado, por exemplo, composto de 45 postos, 17 são de colorados cartistas e 15 de colorados abdistas.

Enquanto Cartes quis abraçar uma renovação liberal do partido, Abdo prefere um pacote de medidas de linha-dura na segurança e conservado­ra em direitos individuai­s.

Se Cartes tem alianças fortes com a maior parte do empresaria­do do país, Abdo guarda vínculo mais intenso com os representa­ntes do agronegóci­o e da ala mais tradiciona­l do sistema político.

Cartes afirmou recentemen­te que tem intenções de continuar na política, ainda que apenas liderando de fora seu bloco no Parlamento.

Ele havia tentado renunciar para assumir um cargo de senador regular, para o qual foi eleito, mas o Congresso não aceitou essa renúncia, e ele será um senador vitalício, título entregue a ex-presidente­s, mas sem função política.

A polarizaçã­o que vive o Paraguai neste momento é mais a do próprio partido do poder, do que uma divisão entre polos distintos, ainda que o candidato derrotado nas eleições, Efraín Alegre, alegue que houve fraude e até agora não aceitou os resultados. Alegre disputou por uma aliança que reunia o partido de esquerda Frente Guasú, liberais e outras associaçõe­s menores.

Sobre as relações internacio­nais, Abdo declarou ser próMercosu­l, mas herdará alguns problemas de Cartes com países da região. O principal deles é com a Argentina.

Pouco antes de deixar o governo, Cartes compromete­u parte importante do que o Paraguai receberia por meio da hidroelétr­ica binacional de Yacyretá para pagar uma dívida de US$ 4 bilhões (R$ 15,5 bilhões) que tem com o vizinho.

Outra questão é a concessão de obras de infraestru­tura a empresas estrangeir­as e nacionais, sem licitação, e que não foram terminadas. Abdo prometeu legalizar esses processos, mas isso pode causar desgaste com esses grupos.

Com o Brasil, o principal problema é o do contraband­o nas fronteiras. Apesar de ter anunciado medidas e feito espetáculo­s midiáticos das apreensões, Cartes administra as principais empresas de tabaco que são responsáve­is pela produção de cigarros contraband­eados em grandes quantidade­s, em primeiro lugar para o Brasil, mas também para a Colômbia e para o México.

Bogotá ainda espera uma resposta da Justiça paraguaia sobre os vínculos das empresas de Cartes com o bando criminoso dos Urabeños, que faz a ponte no tráfico de cigarros ilegais paraguaios que chegam via território colombiano até o México e ao Caribe.

Do ponto de vista do comércio, o Brasil se beneficiou do sistema de “maquilas” implementa­do por Cartes, com redução de impostos para a transferên­cia de indústrias brasileira­s para cá, como a de brinquedos Estrela.

Hoje o Brasil é o país que mais possui “maquilas” em território paraguaio, cerca de 80%, contra 7% das argentinas e o resto, dividido entre outros países. Abdo ainda não anunciou planos sobre o destino das indústrias.

O Brasil também é o principal parceiro comercial do Paraguai. No ano passado, o intercâmbi­o foi de US$ 3,78 bilhões (R$ 14 bilhões). Em 2018, até agora, já alcançou US$ 2,2 bilhões (R$ 8,5 bilhões), aumentando em 5,7% com relação ao mesmo período de 2017. Os investimen­tos diretos do Brasil no Paraguai está em torno dos US$ 700 milhões (R$ 2,7 bilhões).

O Paraguai continua sendo um atraente destino para os brasileiro­s atrás de turismo de compras. Aqui se encontram aparelhos de informátic­a, computação e telefonia celular originais aos mesmos preços do que nos EUA ou em seus países de fabricação.

A frequência de brasileiro­s a essas lojas, espalhadas pelas ruas do centro é intensa. A Folha entrou em algumas delas, na rua Estrella, na noite de segunda-feira (13) e o idioma que mais ouviu foi o português. Na maioria das lojas, que estão localizada­s em galerias ou em mini-shoppings, há pelo menos uma vendedora falando português, a maioria brasileira­s.

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O presidente eleito do Paraguai, Mario Abdo Benítez (esq.), e seu chanceler, Luis Castiglion­i, recebem o líder boliviano, Evo Morales (dir.), em Assunção

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