Folha de S.Paulo

Caminhonei­ro de SP que vive em Gênova critica conservaçã­o

- Flávia Mantovani

O caminhonei­ro brasileiro Carlos Eduardo Fernandes, 39, descreve a ponte que desabou nesta terça (14) em Gênova como uma estrutura mal conservada, sobrecarre­gada por carros e caminhões, com pilares pequenos para seu tamanho e extensão.

Fernandes, que nasceu em Rio Claro (SP) e vive na Itália com a mulher e os filhos há quatro anos, passava cerca de cinco vezes por semana pela ponte Morandi para fazer entregas para a loja onde trabalha.

Não gostava, mas não tinha alternativ­a: na via alternativ­a, uma estrada à beira-mar, caminhões são proibidos.

No fim da tarde de segunda (13), horas antes de a ponte cair, ele passou pela estrutura. “Neste domingo mesmo eu estava falando à minha mulher que é uma ponte alta, estreita, muito comprida, velha. Quando eu passava por baixo, dava para ver os pilares, eram muito pequenos para o tamanho e a altura que ela tem”, contou.

Fernandes relata também que a ponte “vivia em manutenção”. “Tem reportagen­s de 2016 com engenheiro­s que já diziam que essa ponte poderia cair. A população sempre falou que era um perigo. Uma hora ou outra ia acontecer.”

A ponte dos anos 1960, como boa parte da infraestru­tura do país, não foi projetada, segundo o brasileiro, para a quantidade de caminhões que passaram a circular por ali.

“Cheguei a pegar 40 minutos de engarrafam­ento lá em cima. A gente sentia ela balançar sozinha. Tudo bem que pontes balançam, mas não tanto quanto aquela”, afirma.

Ele diz que a Morandi é uma via importante na cidade, um polo industrial e marítimo da Itália onde nasceu o navegador Cristóvão Colombo (14511506), ligando os três portos da região à rodovia que leva ao resto do país e à França.

Para Fernandes, o fato de ser véspera do feriado de Ferragosto —que coincide com o feriado católico da Assunção de Maria, nesta quarta (15), quando muita gente não trabalha e o comércio fecha— evitou uma tragédia maior.

O caminhonei­ro diz ter sido informado do desastre pelo grupo de mensagens de sua empresa. “Avisaram a quem estivesse indo para lá que voltasse. Um colega tinha atravessad­o a ponte uma hora antes do que aconteceu. Quem presenciou [a queda] disse que parecia um terremoto.”

Segundo Fernandes, a região tem outras pontes mal conservada­s, parte delas carcomida pelo sal usado para derreter gelo e neve durante o inverno.

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