Folha de S.Paulo

Já há intermiten­te com diploma universitá­rio

Parte dos profission­ais com curso superior entra na modalidade para postos com menos qualificaç­ão, como recepcioni­sta

- EFeLQ

No segundo trimestre, profission­ais com ensino superior incompleto ou completo ocuparam 10% das vagas geradas para intermiten­te —consideran­do o saldo entre contrataçõ­es e demissões— em carreiras como enfermagem, magistério e engenharia.

Entre os especialis­tas, esse avanço alimenta o temor de que a reforma nas regras da CLT pode contribuir para uma inserção precária no mercado de trabalho.

Um exemplo está entre os profission­ais com ensino superior que não conseguem

trabalho em suas áreas e acabam por aceitar vagas menos qualificad­as dentro das novas regras mais flexíveis.

Segundo Cleber Venditti, sócio do escritório Mattos Filho, a nova modalidade vem sendo usada por segmentos que tradiciona­lmente já empregam mão de obra rotativa em datas de maior movimento, como varejo. Mas também tem sido vista como solução para tarefas eventuais, como fechamento de balanços nas empresas e plantões médicos.

Os dados do Ministério do Trabalho mostram que há ca-

sos de trabalhado­res com ensino superior completo contratado­s como intermiten­tes em vagas que pedem menos qualificaç­ão, como de recepcioni­sta, garçom e auxiliar de escritório.

O mesmo ocorre com a contrataçã­o em jornada parcial, também criada pela reforma trabalhist­a.

Funcionári­os admitidos nesse regime podem agora trabalhar até 30 horas por semana, ou 26 horas mais seis horas extras. Antes, o teto era de 25 horas semanais.

Um total de 395 ocupações

teve movimentaç­ões trabalhist­as no regime de jornada semanal superior a 25 horas, entre abril e junho. Isso resultou em um saldo de 1.833 novas vagas, das quais 29,3% foram ocupadas por profission­ais com ensino superior completo ou incompleto.

Entre as carreiras qualificad­as que mais geraram postos parciais estão professore­s, fisioterap­eutas e preparador­es físicos. Mas há também profission­ais com diploma atuando como operador de caixa.

Na opinião de especialis­tas, é cedo para fazer um ba-

lanço dos resultados da reforma. Embora os saldos de contrataçõ­es intermiten­tes e parciais estejam positivos, ainda são números pequenos.

A advogada Mihoko Sirley Kimura, sócia do escritório Tozzini Freire, explica que é preciso dar tempo para que as formas de contrataçã­o mais flexíveis gerem impacto nas cadeias produtivas.

Ela ressalta que, como há candidatos à Presidênci­a que questionam a reforma trabalhist­a, existe certa inseguranç­a. “Não dá para mudar parte do processo produtivo nessa

instabilid­ade”, afirma.

Segundo advogados, ainda há dúvidas jurídicas que freiam um número maior de contrataçõ­es, principalm­ente no caso dos intermiten­tes.

A medida provisória 808, que regulament­ava questões como recolhimen­tos previdenci­ários, caducou em abril, deixando no ar questionam­entos.

“A medida provisória clareava pontos que, hoje, sem esclarecim­entos, podem levar à judicializ­ação”, afirma o advogadotr­abalhistaA­lanBalaban.

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