Lira turca para de cair e alivia contágio cambial
Depois de dois dias de fortes turbulências, os mercados emergentes esboçaram recuperação nesta terça-feira (14). Investidores passaram a ter a avaliação de que a exposição de bancos europeus a títulos turcos é limitada e o nível de contágio da crise cambial vivida pela lira pode ser menor.
Após quatro dias de queda, a moeda turca ganhou força ante o dólar nesta sessão e subiu 8,9%. No ano, a desvalorização ainda supera 40%.
Das 24 moedas emergentes, 12 subiram em relação à americana. No Brasil, o dólar fechou em baixa de 0,79%, a R$ 3,867.
As principais Bolsas também apresentaram melhora. Nos EUA, o Dow Jones avançou 0,45%. O Ibovespa, principal índice brasileiro, subiu 1,43%, para 78.602,11 pontos.
O risco de que a crise atingisse os bancos europeus, uma das preocupações de investidores nos últimos dias, foi praticamente descartado.
“O único banco com maior exposição à dívida turca é o BBVA, mas não é um risco sistêmico”, diz Cyrique Bourbon, gerente de portfólio da Morningstar Investment Management. O BBVA controla 49,9% do banco turco Garanti.
A consultoria Eurasia lembra que bancos espanhóis, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais), te- riam US$ 83,3 bilhões (R$ 323,2 bilhões) em exposição a dívidas turcas, enquanto instituições francesas teriam US$ 38,4 bilhões (R$ 149 bilhões).
Segundo a Eurasia, esses valores absolutos são pequenos para o tamanho dos bancos.
O risco de um efeito colateral a bancos europeus também é mitigado pelo fato de muitos empréstimos terem sido tomados por subsidiárias dos bancos, diz a Eurasia. Alguns desses créditos foram denominados em lira turca, o que minimiza a flutuação cambial.
O risco também é considerado mínimo para o Brasil. “O setor bancário brasileiro é altamente concentrado e nacional”, diz André Perfeito, economista-chefe da Spinelli.
Para Viktor Szabo, gestor sênior de investimento da Aberdeen Standard Investments, a única reação realista para a Turquia enfrentar a crise que vive —a inflação está em 16% ao ano— é aumentar os juros.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, se opõe à medida, afirmando que diminuiria o crescimento do país.
Nesta terça, Erdogan pediu um boicote aos produtos tecnológicos americanos.
As relações entre EUA e Turquia se deterioraram na sexta (10), quando Donald Trump dobrou as tarifas sobre metais. Ele tenta pressionar a Turquia a liberar o pastor Andrew Brunson, preso no país acusado de tentativa de golpe contra o governo turco em 2016.