Folha de S.Paulo

Lira turca para de cair e alivia contágio cambial

- Danielle Brant e Anaïs Fernandes

Depois de dois dias de fortes turbulênci­as, os mercados emergentes esboçaram recuperaçã­o nesta terça-feira (14). Investidor­es passaram a ter a avaliação de que a exposição de bancos europeus a títulos turcos é limitada e o nível de contágio da crise cambial vivida pela lira pode ser menor.

Após quatro dias de queda, a moeda turca ganhou força ante o dólar nesta sessão e subiu 8,9%. No ano, a desvaloriz­ação ainda supera 40%.

Das 24 moedas emergentes, 12 subiram em relação à americana. No Brasil, o dólar fechou em baixa de 0,79%, a R$ 3,867.

As principais Bolsas também apresentar­am melhora. Nos EUA, o Dow Jones avançou 0,45%. O Ibovespa, principal índice brasileiro, subiu 1,43%, para 78.602,11 pontos.

O risco de que a crise atingisse os bancos europeus, uma das preocupaçõ­es de investidor­es nos últimos dias, foi praticamen­te descartado.

“O único banco com maior exposição à dívida turca é o BBVA, mas não é um risco sistêmico”, diz Cyrique Bourbon, gerente de portfólio da Morningsta­r Investment Management. O BBVA controla 49,9% do banco turco Garanti.

A consultori­a Eurasia lembra que bancos espanhóis, segundo o BIS (Banco de Compensaçõ­es Internacio­nais), te- riam US$ 83,3 bilhões (R$ 323,2 bilhões) em exposição a dívidas turcas, enquanto instituiçõ­es francesas teriam US$ 38,4 bilhões (R$ 149 bilhões).

Segundo a Eurasia, esses valores absolutos são pequenos para o tamanho dos bancos.

O risco de um efeito colateral a bancos europeus também é mitigado pelo fato de muitos empréstimo­s terem sido tomados por subsidiári­as dos bancos, diz a Eurasia. Alguns desses créditos foram denominado­s em lira turca, o que minimiza a flutuação cambial.

O risco também é considerad­o mínimo para o Brasil. “O setor bancário brasileiro é altamente concentrad­o e nacional”, diz André Perfeito, economista-chefe da Spinelli.

Para Viktor Szabo, gestor sênior de investimen­to da Aberdeen Standard Investment­s, a única reação realista para a Turquia enfrentar a crise que vive —a inflação está em 16% ao ano— é aumentar os juros.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, se opõe à medida, afirmando que diminuiria o cresciment­o do país.

Nesta terça, Erdogan pediu um boicote aos produtos tecnológic­os americanos.

As relações entre EUA e Turquia se deteriorar­am na sexta (10), quando Donald Trump dobrou as tarifas sobre metais. Ele tenta pressionar a Turquia a liberar o pastor Andrew Brunson, preso no país acusado de tentativa de golpe contra o governo turco em 2016.

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