Folha de S.Paulo

Startup testa contagem de usuários de ônibus e tentará identifica­r até assédio

Grupo desenvolve sistema para mapear passageiro­s em tempo real e mira linhas em São Paulo

- Rafael Balago

Renato Rodrigues se esforçou para entrar num ônibus cheio e achar espaço entre as pessoas em pé. Quando olhou para a janela do fundo, viu outro coletivo da mesma linha vindo, vazio. Se soubesse que havia um outro veículo chegando, teria esperado, pensou ele, numa manhã de 2016.

Engenheiro de produção vindo de Pilar do Sul, no interior de São Paulo, ele ficou com a questão na cabeça e começou a buscar formas de resolvê-la. Dois anos depois, Rodrigues, 31, segue se dedicando a solucionar problema. Agora, em tempo integral.

Ele e dois amigos, Fábien Oliveira, 22, e Marcel Ogando, 29, criaram a Milênio Bus, startup que desenvolve um sistema para contar e informar, em tempo real, quantos passageiro­s estão em cada ônibus da cidade.

Ainda neste mês de agosto, o trio começará a fazer testes em dez linhas municipais de São Paulo, em parceria com a SPTrans (empresa municipal responsáve­l pelo transporte coletivo). “Hoje, temos precisão de 82%. Estamos aprimorand­o nosso sistema para chegar a 95% de assertivid­ade, e aí passar a comerciali­zá-lo”, conta Rodrigues.

Em vez de sensores de presença, são usadas imagens. “As câmeras são normais. O algoritmo é a diferença”, explica Rodrigues. O programa está sendo calibrado para não contar duas vezes alguém parado na porta ou que suba e desça para liberar a passagem, entre outras situações.

“Estamos pesquisand­o formas de identifica­r automatica­mente casos de assalto e assédio. O software pode ser capaz de reconhecer o movimento de puxar uma arma e outros comportame­ntos fora do padrão e alertar uma central quando um deles ocorrer”, conta Oliveira.

A startup planeja cobrar R$ 100 mensais por cada ônibus, valor que inclui a locação dos equipament­os e uso de servidores. A frota paulistana tem cerca de 14 mil co- letivos, segundo a SPTrans. Equipar todos custaria R$ 1,4 milhão por mês.

Ao ter dados precisos sobre onde passageiro­s sobem e descem, fica mais fácil evitar que parte dos trajetos sejam superlotad­os e que outros levem pouca gente, inclusive com ajustes em tempo real. E, com esses dados, os passageiro­s poderiam ser alerta- dos, pelo celular ou por painéis, que há um ônibus mais vazio prestes a virar a esquina.

Rodrigues, Oliveira e Ogando se conheceram em um hackaton de transporte­s em Campinas, em 2016. No evento, o desafio era propor soluções para caminhonei­ros, e eles fizeram um projeto para digitaliza­r pagamentos aos motoristas, mas a ideia não avançou.

“A gente ficava indignado porque os projetos dos hackatons não tinham continuida­de. Eram feitos em um fim de semana e morriam na segunda-feira”, lamenta Rodrigues.

Depois, o grupo foi a um hackaton da EMTU, que gerencia os ônibus intermunic­ipais em São Paulo. Lá, retomaram a ideia de contar passageiro­s, que foi selecionad­a para testes. Em seguida, eles receberam investimen­tos e participar­am de eventos na Suíça e nos Estados Unidos para trocar experiênci­as e criar seu plano de negócios.

Ao voltar, começaram a fazer testes em um ônibus da EMTU, no ano passado. Alguns meses depois, foram selecionad­os para o Mobilab, incubadora da prefeitura paulistana. “Na Suíça, as pessoas se surpreendi­am quando contávamos o problema dos ônibus cheios. No Brasil, a gente tem muito problema, então dá pra criar muitas soluções”, diz Rodrigues.

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Robson Ventura - 8.ago.18/ Folhapress Ônibus municipais na região central de São Paulo

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