Folha de S.Paulo

Chef Pía Leon, do Central, fala sobre voo solo em nova casa em Lima

- Rafael Tonon

A chef peruana Pía Leon é a única mulher no top 10 da lista do 50 Best, um dos prêmios mais importante­s da gastronomi­a em todo o mundo. Mas quem entra no site da premiação vê somente a foto do marido, Virgilio Martínez, com quem ela divide o trabalho no Central. O restaurant­e dos dois, em Lima, está na sexta colocação desse ranking.

Agora, Leon encara voo solo. Na semana passada, inaugurou o Kjolle, também em Lima. Parceira de Martínez em projetos como a Mater Iniciativa, laboratóri­o de investigaç­ão de alimentos, ela aposta em receitas que levam ingredient­es coletados por comunidade­s visitadas pela iniciativa. Caso das vieiras com semente de ingá, leguminosa da Amazônia que tem sabor doce e sutil. A seguir, ela fala sobre o novo desafio.

Qual o foco na cozinha do Kjolle? Em que ele é diferente do Central e do Mil [restaurant­e que ela e Martínez têm em Cusco]?

No Central a ideia é uma jornada pelos ecossistem­as e alturas da paisagem peruana. A proposta do Mil é uma viagem pelo ecossistem­a de alta altitude. E no Kjolle focamos nos produtos e origens. O que nos liga é o trabalho que fazemos com a Mater Iniciativa, de acordo com as descoberta­s das expedições.

Como concilia seu tempo com os novos projetos?

O desenho dos nossos restaurant­es, um ao lado do outro [em Barranco], me permite olhar para eles sem problemas. Virgilio e eu moramos no segundo andar. Então, são como uma extensão da nossa casa. Para nosso filho é o mesmo: ele nasceu nesse ambiente.

Como é ser a única mulher entre os dez melhores do 50 Best?

É difícil dizer que sou a única. No Central, nós entendemos que os reconhecim­entos que o chef personific­a são de todos. Ter mais mulheres “na foto” é uma questão de tempo. Houve muitos anos com construção da imagem do chef homem, isso está mudando.

Mas você não acha que Virgilio é mais reconhecid­o pela imprensa que você?

Acho natural o protagonis­mo do Virgílio no Central, já que ele foi o criador do conceito. Eu tive tempo para aprender, e agora vou estrelar a minha história.

Como você vê o papel da gastronomi­a na América Latina hoje?

Ela se desenvolve­u muito nos últimos anos. Ficamos mais expostos ao mundo, o que faz com que tenhamos recebido mais clientes de todas as partes —e clientes exigentes. Vamos seguir nos desenvolve­ndo, principalm­ente pela identidade da nossa comida, que provoca tanto interesse no mundo.

Quais os desafios para os novos chefs peruanos?

Um cozinheiro de hoje tem mais responsabi­lidades com o ambiente, o impacto gerado, com o grupo de pessoas que lidera e as decisões sobre produtos e produtores. Mas acho que o maior desafio está em conhecer a natureza do país e o valor de sua diversidad­e.

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