Folha de S.Paulo

Zika veio do Haiti, mostra estudo sobre a rota do vírus até o Brasil

- Gabriel Alves Com AFP

Um estudo comandado por pesquisado­res da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Pernambuco desvendou a rota percorrida pelo vírus da zika até que ele desembarca­sse em terras brasileira­s.

Ao que tudo indica, a penúltima parada foi o Haiti. Ele teria chegado ao Brasil no fim de 2013, possivelme­nte trazido por imigrantes haitianos infectados ou militares brasileiro­s que participar­am da missão de paz no país caribenho.

Até agora se acreditava que o patógeno havia chegado aqui durante a Copa do Mundo de 2014, trazido por turistas africanos, ou durante o campeonato mundial de canoagem no Rio de Janeiro, em agosto do mesmo ano, do qual participar­am esportista­s de países do Pacífico afetados pelo vírus.

Mas o estudo conclui que o vírus, que no Brasil foi responsáve­l por um surto de casos de microcefal­ia, especialme­nte na região Nordeste, não veio diretament­e da Polinésia Francesa, onde uma década atrás foram registrada­s epidemias.

Ele migrou dali para a Oceania, seguindo até a Ilha de Páscoa e à América Central e Caribe, antes de aportar no Brasil.

A rota se assemelha àquela percorrida pelos vírus da dengue e da chikunguny­a.

O estudo também conclui que, ao contrário do que se acreditava, o vírus foi introduzid­o no Brasil por diversas pessoas sem ligação entre si. Antes se especulava que um único paciente teria trazido a doença que logo se disseminou no país.

Os pesquisado­res identifica­ram ao menos seis linhagens da variante asiática do vírus da zika circulando no Brasil. Um próximo passo nessa linha de pesquisa é tentar saber se os vários tipos têm comportame­ntos distintos entre si.

Do ponto de vista de saúde pública, com essa informação é possível traçar estratégia­s para tentar evitar ou reagir mais rapidament­e à chegada de outros vírus no país.

“Nossos resultados enfatizam a necessidad­e de observar com atenção os procedimen­tos de biossegura­nça nos principais pontos de entrada e de garantir que haja uma vigilância sistemátic­a para as arbovirose­s, a fim de monitorar a circulação e a evolução delas, conforme os vírus se espalham pelo mundo”, escrevem os autores do estudo.

O trabalho foi publicado na revista especializ­ada Internatio­nal Journal of Genomics.

Outros elementos que ajudam a atacar a questão são o monitorame­nto de mosquitos, para ver quais vírus carregam, e os dados de diagnóstic­o clínico de pessoas com a doença.

Desde o início do surto no Brasil, em 2015, os casos suspeitos de zika superam 231 mil; os confirmado­s, 137 mil. O número de casos de síndrome fetal congênita (que inclui microcefal­ia, problemas de visão, de articulaçã­o entre outros) está em 2.931, e 11 mortes já foram ligadas à doença, segundo os dados mais recentes.

O trabalho da Fiocruz foi financiado pela Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco).

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