Folha de S.Paulo

‘Ilha da fantasia’, Brasília tem ‘mesada’ de R$ 13 bi da União

Apesar de ter polícias e grande parte dos funcionári­os da saúde e educação pagos pelo governo federal, GDF entrou em crise e teve de atrasar salários

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Localizada a 30 quilômetro­s da Praça dos Três Poderes, a comunidade Sol Nascente compete em tamanho com a Rocinha, no Rio.

Com cerca de 100 mil habitantes em área equivalent­e a mil campos de futebol, entre seus poucos serviços públicos constam três escolas e uma unidade básica de saúde.

Não há nenhuma delegacia e grande parte das casas não tem esgoto e ocupa ruas sem asfaltamen­to, onde há sujeira por todo lado devido à precarieda­de na coleta de lixo.

A Sol Nascente fica em Ceilândia, região administra­tiva do GDF (Governo do Distrito Federal), que não faz parte do Ranking de Eficiência dos Estados – Folha por ser um território diminuto e sem muni- cípios para dividir obrigações na saúde e educação, como ocorre nos estados.

Mas a maior diferença é que o GDF recebe uma espécie de “mesada” da União, o que ajuda a justificar o apelido de “ilha da fantasia” de Brasília.

Em 2017, o valor do Fundo Constituci­onal do Distrito Federal (criado em 1988 e regulament­ado em 2002) chegou a R$ 13 bilhões, mais do que a receita corrente líquida individual de 14 estados brasileiro­s.

O fundo paga todos os policiais civis, militares e bombeiros e grande parte dos servidores na saúde e educação.

Quase a metade dos rendimento­s de ativos, inativos e pensionist­as do GDF é coberta pelo dinheiro do fundo.

Salários de R$ 18 mil para médicos e R$ 8.700 no magistério público, entre outras categorias, fazem com que a média de todos os rendimento­s no GDF, onde há proporcion­almente mais servidores, seja 87% maior do que a nacional (R$ 4.100 ante R$ 2.200).

A alta renda e o dinheiro extra da União permitem que o GDF tenha indicadore­s elevados nas áreas de saúde, educação, infraestru­tura e segurança. Seu ponto fraco é justamente as finanças, por conta da folha de pagamentos.

“O GDF tem condições financeira­s espetacula­res, como um quarentão que continua morando com os pais. Mesmo assim, fez a gracinha de quase falir”, diz Cláudio Hamilton dos Santos, pesquisado­r do Ipea, sobre a recente crise financeira do governo local.

Por conta de uma série de aumentos ao funcionali­smo e problemas de gestão até 2014, o GDF chegou a ficar sem dinheiro em caixa para pagar os salários em dia.

O governo atual acabou cancelando uma série de reajustes prometidos e enfrentou 32 categorias em greve antes de regulariza­r as contas.

“Nos últimos três anos, conseguimo­s viver com menos do que arrecadamo­s e haverá zero aumento para o funcionali­smo em quatro anos”, diz Leany Lemos, exsecretár­ia de Planejamen­to do GDF.

Segundo ela, uma das principais iniciativa­s da gestão foi priorizar a infraestru­tura no Sol Nascente, com cerca de R$ 400 milhões em investimen­tos programado­s.

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Igo Estrela/Folhapress Comunidade Sol Nascente, em Ceilândia (a 30 km da Praça dos Três Poderes), no Distrito Federal, tem cerca de 100 mil habitantes e quase nenhum serviço público
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