Folha de S.Paulo

País muda conceito de ‘macho’ e beleza masculina dá salto de procura e venda

- Pedro Diniz

Para além dos cuidados básicos de quem precisa cuidar da pele para a prática esportiva, o mercado de beleza atinou para o filão de homens dispostos a incluir no orçamento produtos para os cabelo, a barba e a cútis.

O desodorant­e ainda é o item mais importante da cesta masculina de embelezame­nto, mas o que torna o Brasil o segundo maior comprador do mundo de higiene, cosméticos e perfumaria para eles, segundo a consultori­a Euromonito­r, são os “supérfluos”.

Interessad­os no sucesso das barbearias, os amigos Guilherme Campos, André Popoutchi e Pedro Carone criaram, em 2013, a Dr. Jones, primeira grife nacional a investir pesado em produtos para os fios do rosto e da cabeça dos rapazes.

Com R$ 2 milhões do próprio bolso e de investidor­es, foram atrás de distribuid­ores que entendesse­m o potencial de um mercado que, no mundo, crescerá 7,1% até 2019.

O grupo Boticário abraçou a ideia e colocou a Dr. Jones nas lojas da The Beauty Box. Depois, a Sephora entrou no jogo e fez da marca a líder de vendas do segmento masculino em seus pontos físicos.

“O brasileiro é um vaidoso escondido. Ele quer consumir, mas tem vergonha porque a cultura machista do país embutiu na cabeça das pessoas que beleza masculina não é coisa de macho”, diz Campos.

Esse interesse não é papo de investidor. Segundo levantamen­to do Google Fashion Trends, no ano passado as buscas por “corte de cabelo masculino”, “maquiagem masculina” e “saia masculina” cresceram cerca de 70% em relação aos três anos anteriores.

Um dos últimos lançamento­s da Dr. Jones, um gel redutor de gordura, está entre os três produtos mais vendidos da marca. Os campeões, porém, são os itens para rosto e barba, 40% do faturament­o.

Cada produto custa, em média, R$ 50 mil para ser desenvolvi­do por uma das duas consultori­as com as quais a grife trabalha. Pouco, se levada em conta a estimativa de que, até o final do ano, a marca deve faturar até R$ 5 milhões.

O impulso na receita foi a abertura de uma loja virtual e de três quiosques espalhados por São Paulo, que servem como plataforma de marketing e experiênci­a para o cliente.

“Farmácias vendem bem, mas não oferecem o serviço personaliz­ado e as lojas de departamen­tos não são como nos Estados Unidos, onde há espaços exclusivos das marcas. Fica difícil vender sem contato direto com clientes.”

Esse foi um dos motivos que levou barbearias e cabeleirei­ros especializ­ados, locais onde o cliente se sente à vontade para experiment­ar produtos novos, a lançarem cosméticos com a marca do negócio. A grife de roupas Cavalera foi uma das primeiras dessa leva.

Sua bandeira homônima de barbearias, espalhada em quatro pontos de São Paulo, está entre as 50 melhores do mundo na lista do site americano Fashion Beans. O reconhecim­ento só aumentou o passe de perfumes, óleos para barba e ceras para cabelos.

Também em São Paulo, o salão Garage 60’s acaba de apostar no desenvolvi­mento dos próprios xampus mentolados, essência predileta entre os homens. A linha, chamada Rock n’ Hair, inclui pomadas.

Campos, sócio da Dr. Jones, diz crer que o próximo estigma a ser quebrado é a maquiagem masculina, por aqui chamada de linha “corretiva”, para amenizar o impacto do nome.

“É investimen­to de longo prazo. Os jovens de 18 anos não dividem mais o que é ‘de homem’ ou de ‘mulher’.”

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Divulgação Os amigos Guilherme Campos (à esq.) e André Popoutchi, sócios da grife de beleza masculina Dr. Jones

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