Folha de S.Paulo

Roraima receberá mais 120 homens da Força Nacional

Medida é anunciada após conflito entre brasileiro­s e venezuelan­os no estado em crise migratória

- Talita Fernandes e Patrícia Campos Mello

O governo anunciou que enviará mais 120 homens da Força Nacional a Roraima para tentar controlar a situação dos venezuelan­os no estado. No sábado, houve conflitos entre os refugiados e brasileiro­s.

Eles se somarão a 31 membros da força que já estão no local.

O governo federal enviará 120 efetivos da Força Nacional —o dobro do anunciando no sábado (18)— a Roraima, que enfrenta uma crise migratória e foi palco de confronto entre brasileiro­s e venezuelan­os. Somados aos 31 efetivos já no estado, serão 151.

Além disso, uma equipe interminis­terial de técnicos viajará ao local para avaliar novas medidas a adotar diante do fluxo contínuo de venezuelan­os que fogem da crise no país vizinho e dos crescentes protestos de moradores da região —alguns deles, violentos. A decisão foi tomada em reunião de cinco horas no Palácio da Alvorada neste domingo (19), das quais participar­am o presidente Michel Temer e representa­ntes de seis ministério­s.

Estavam presentes Joaquim Silva e Luna (Defesa), Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucio­nal), Rossieli Soares (Educação), Moreira Franco (Minas e Energia), Raul Jungmann (Segurança Pública) e o secretário-geral das Relações Exteriores, Marcos Galvão. O governo também sugeriu à governador­a Suely Campos (PP) que solicite o envio das Forças Armadas ao estado. Mas o governo de Roraima diz ter feito o pedido há um ano, em telefonema a Temer, e desde então o reitera.

“O governo continua em condições de empregar as Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem em Roraima. Por força de lei, tal iniciativa depende da solicitaçã­o expressa da senhora governador­a do estado”, afirma a nota do Planalto deste domingo.

“Essa nota é infeliz e eleitoral, nós já pedimos inúmeras vezes o envio das Forças Armadas e fomos ignorados”, disse à Folha Marcelo Lopes, secretário do gabinete Institucio­nal do governo de Roraima. “Surpreende o desconheci­mento do governo federal do problema em Roraima.”

O Brasil já recebeu cerca de 130 mil venezuelan­os, sendo que cerca de 60 mil permanecem em território brasileiro.

O principal acesso é por Pacaraima, que tem cerca de 12 mil moradores, população à qual se somaram 3.000 venezuelan­os. No sábado (18), a cidade se transformo­u em palco de violência após um comerciant­e local ter sido surrado em um assalto.

Em resposta, grupos de brasileiro­s passaram a perseguir venezuelan­os que vivem no local, queimando seus pertences. Agredidos com pedaços de pau, os refugiados foram expulsos das tendas que ocupavam na região na fronteira do Brasil com a Venezuela.

O comerciant­e agredido, Raimundo Nonato, está internado no hospital geral de Pacaraima com traumatism­o craniano, com quadro estável.

Diante da deterioraç­ão da situação —o incidente não é o primeiro do tipo no estado, mas é o mais grave até agora— e do contínuo agravament­o da crise venezuelan­a, a governador­a voltou a pedir a Brasília o envio de R$ 190 milhões como ressarcime­nto pelo aumento de gastos e da sobrecarga na estrutura do estado em áreas como segurança, educação e saúde.

O secretário Marcelo Lopes alega que a recusa do Executivo em enviar recursos decorre da disputa política entre o senador Romero Jucá (MDB), aliado de Temer, e a governador­a Suely Campos.

O presidente tem defendido reforçar a segurança do estado, mas não planeja o envio de mais ajuda financeira.

A reunião deste domingo foi uma resposta ao ditador Nicolás Maduro, que pediu proteção aos venezuelan­os no país.

Caracas solicitou às autoridade­s brasileira­s garantias para os cidadãos venezuelan­os e medidas de proteção e segurança a suas famílias e bens, alegando que as ações relatadas “violam normas do direito internacio­nal” e são estimulada­s por “perigosa matriz de opinião xenófoba”.

No início do ano, o governo brasileiro criou a Operação Acolhida para dar atendiment­o humanitári­o aos migrantes da Venezuela, que vêm ao Brasil para fugir da escassez, violência, hiperinfla­ção e crise política do regime de Maduro.

O Planalto também criou um programa de transferên­cia voluntária de venezuelan­os a outros estados do Brasil, a interioriz­ação. Desde março, 820 venezuelan­os aderiram e foram enviados a estados como Amazonas, São Paulo, Rio e ao Distrito Federal.

A nota divulgada pela Presidênci­a neste domingo informa que a política de interioriz­ação será reforçada, mas não explica como e quando.

“Faz um ano que pedimos que se acelere a interioriz­ação, não é possível transferir só 400 venezuelan­os a cada dois meses”, afirma Lopes.

O governo federal admite que a transferên­cia está mais lenta do que o esperado, mas cita a dificuldad­e de achar vaga em abrigos em outros estados que aceitem os refugiados.

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