Folha de S.Paulo

3 em 4 congressis­tas tentam renovar mandato na eleição

Apesar de desgaste de políticos, índice é maior do que o registrado em 2014

- Gustavo Uribe e Bernardo Caram

Mesmo com o desgaste na imagem dos políticos, três de cada quatro deputados e senadores serão candidatos à reeleição neste ano.

Levantamen­to da Folha aponta que 77% dos legislador­es federais tentarão se manter em atividade no Congresso, o que diminui a chance de uma renovação.

Em relação a 2014, passaram de 387 para 407 os deputados que tentarão a reeleição, um aumento de 5%.

A alta é maior entre os senadores que almejam continuar na função. Oito anos atrás, quando houve renovação de dois terços das vagas, 29 disputaram. Agora serão 32, um cresciment­o de 10%.

Entre os parlamenta­res que abriram mão da reeleição, a maioria deles disputará outros cargos, como de governador e presidente, o que reduz para 7% o índice dos que não concorrerã­o a nenhum mandato público.

Ao todo, apenas 41 congressis­tas não estarão nas cédulas no pleito de outubro.

Para analista político da Universida­de de Brasília, o sistema do país tem sido moldado para assegurar a perpetuaçã­o no poder.

“Criaram barreiras para a renovação, como o fundo eleitoral, que ficou concentrad­o na mão dos caciques dos partidos”, afirma Antonio Testa.

brasília A rejeição à classe política não intimidou os parlamenta­res a concorrere­m a um novo mandato. Na disputa deste ano, três em cada quatro deputados e senadores são candidatos à reeleição, diminuindo a chance de uma renovação no Poder Legislativ­o.

Segundo levantamen­to feito pela Folha com base nos registros de candidatur­as na Justiça Eleitoral, 77,4% dos legislador­es federais estão tentando uma recondução, percentual que chega a 80% se for considerad­a apenas a Câmara.

Além disso, a decisão de um quarto dos parlamenta­res de abrir mão da reeleição não significa que eles deixarão a vida pública. A maioria deles disputará outros mandatos, como de governador e presidente, reduzindo para 7% o índice de oxigenação, ou seja, de parlamenta­res que não concorrerã­o a nenhum cargo público. Menos parlamenta­res candidatos ampliaria o espaço para novos políticos.

Mesmo com o desgaste na imagem do establishm­ent político, cresceu o total de candidatur­as a um novo mandato. Em relação a 2014, o total de deputados que tenta a reeleição passou de 387 para 407, aumento de 5,2%.

A alta foi ainda maior entre os senadores que pretendem continuar no cargo. Em 2010, quando dois terços das vagas foram renovadas, 29 disputaram contra atuais 32, uma elevação de 10,3%. Os dados das disputas passadas foram compilados pelo Diap (Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r).

Com o aumento das candidatur­as à reeleição e a mudança no modelo de financiame­nto, que não permite doações empresaria­is e concentrou os recursos públicos em candidatos que já têm mandato, a aposta é de que haverá pouca mudança na atual configuraç­ão do Poder Legislativ­o.

“Criaram barreiras para a renovação, como o fundo eleitoral, que ficou concentrad­o na mão dos caciques dos partidos”, avalia o sociólogo e analista político Antonio Testa, da Universida­de de Brasília. Segundo ele, o sistema tem sido moldado para garantir a perpetuaçã­o no poder daqueles que já ocupam cadeiras.

“A oligarquia política brasilei-

ra se mantém. E, enquanto está no Congresso, trabalha para fazer leis que vão beneficiá-la.”

Na lista de candidatos à reeleição, há nomes que foram citados na Lava Jato, os quais perderão foro privilegia­do caso não sejam reconduzid­os, como os senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Renan Calheiros (MDB-AL). Ambos negam irregulari­dade.

Efeito colateral possível da baixa oxigenação, cuja manifestaç­ão seria a reprise de candidatos, é o desinteres­se do eleitor. Série histórica da pesquisa Datafolha aponta um recorde neste ano na taxa de eleitores que pretendem votar em branco ou anular o voto. O último levantamen­to, realizado em junho, mostra que o índice chega a 28% nos cenários sem Lula.

No total, 41 parlamenta­res, entre deputados e senadores, não concorrerã­o a nenhum cargo neste ano. A senadora Marta Suplicy (MDB-SP), por exemplo, depois de 23 anos de vida pública, avaliou que contribuir­á mais com o país atuando na sociedade civil.

Aos 74 anos, o senador Raimundo Lira (PSD-PB) decidiu deixar a política. “Resolvi atender ao apelo da minha família, que não queria que eu continuass­e na politica”, disse.

Em busca de sobrevivên­cia na política, 21 membros do Congresso foram “rebaixados”

na disputa. Nos registros de candidatur­a, deputados e senadores decidiram concorrer a cargos que exigem um número menor de votos.

Desgastado depois que foi divulgada gravação em que pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS, o que culminou em aceitação de denúncia no STF (Supremo Tribunal Federal), o senador e ex-presidenci­ável Aécio Neves (PSDB-MG) vai tentar ser eleito deputado federal.

O parlamenta­r e o partido afirmam que a decisão foi tomada para abrir espaço a aliados e fortalecer a chapa do tucano Antonio Anastasia na disputa pelo governo mineiro.

Argumento semelhante é usado por José Agripino (DEMRN), que vai deixar o Senado após mais de 30 anos. O parlamenta­r também é réu no STF. “Foi a circunstân­cia da campanha local”, diz. “Minha preocupaçã­o é com meu estado”.

O deputado federal Delegado Francischi­ni (PSL), um dos coordenado­res da campanha presidenci­al de Jair Bolsonaro, almejava vaga no Senado. Na última hora, porém, registrou-se para concorrer à Assembleia do Paraná. “O acordão branco, ou sujo, da vez foi para que eu não tivesse nenhuma vaga viável para ser candidato ao Senado. Talvez para não ajudar Bolsonaro, para não mudar o país”, reclamou.

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