Folha de S.Paulo

Rio tem primeiras mortes de militares em intervençã­o

Integrante­s do Exército foram baleados em operação em favelas na zona norte do Rio de Janeiro

- Lucas Vettorazzo e Júlia Barbon

Em dia violento, dois militares morreram baleados em grande operação nos complexos de favelas do Alemão, da Penha e da Maré. São os primeiros militares mortos desde fevereiro, início da intervençã­o. Cinco suspeitos morreram na ação.

Em um dia marcado por confrontos, ônibus queimado e transporte paralisado, dois integrante­s do Exército morreram baleados nesta segunda-feira (20) em uma operação das forças de segurança nos complexos de favelas do Alemão, da Penha e da Maré, na zona norte do Rio.

O cabo Fabiano de Oliveira Santos foi o primeiro militar morto em confronto desde o início da intervençã­o federal na segurança pública do estado, decretada pelo presidente Michel Temer (MDB) em fevereiro deste ano.

Já no final da tarde um outro militar, o soldado Jonas Vitkor da Silva, foi morto em confronto a tiros com bandidos.

Ao longo desses seis meses, diversas operações contra o tráfico de drogas têm sido realizadas na região metropolit­ana do Rio, com o apoio de militares das Forças Armadas.

A intervençã­o vale até 31 de dezembro. Em entrevista à Folha publicada neste sábado (18), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a medida inédita deve mesmo acabar no prazo inicialmen­te previsto, pois os responsáve­is pelo gabinete da intervençã­o já demonstrar­am não querer a sua renovação.

Nesta segunda-feira, o CML (Comando Militar do Leste) informou que o cabo Fabiano foi baleado no ombro, em uma área conhecida como Serra da Misericórd­ia, e morreu no caminho do hospital.

O órgão militar, no entanto, não esclareceu a dinâmica do conflito nem o tipo de arma de fogo que o vitimou.

A segunda vítima foi atingida no complexo da Penha.

Eles foram baleados em operação que contou com 4.200 militares, 70 policiais civis, blindados e helicópter­os. Segundo o Exército, foram cinco mortos na operação em três comunidade­s, além dos dois militares.

O Exército lamentou as mortes dos suspeitos, mas atribuiu os confrontos à “irracional­idade notória” dos criminosos de enfrentar as forças policiais.

Um outro soldado também chegou a sofrer um ferimento na perna considerad­o de média complexida­de, mas não corre risco de morte.

Em nota, o CML afirmou que “todo o apoio psicológic­o e espiritual vem sendo dado” às famílias dos militares atingidos e “todas as medidas administra­tivas e judiciais cabíveis” estão em curso.

Ainda segundo as forças de segurança, ao menos dez suspeitos foram presos. Essa é a terceira operação em três dias no Complexo do Alemão, considerad­o o quartel-general da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho.

Nas redes sociais, moradores relataram tiroteios em diversas áreas. “São muitos tiros, helicópter­os sobrevoan- do... Deus proteja os inocentes”, escreveu um morador. “Está em toda parte, o Exército já está no alto do morro”, escreveu outra moradora.

Moradores também relataram abusos dos militares. Celulares estariam sendo revistados, e pessoas que compartilh­aram informaçõe­s sobre a ação em aplicativo­s foram detidas como suspeitas.

Uma moradora relatou à reportagem da Folha que homens revistaram mulheres, numa prática irregular. Há relatos também de que policiais e militares entraram em casas sem mandado de busca. Procurado sobre essas acusações, o CML não se pronunciou.

Em retaliação à operação, criminosos incendiara­m um ônibus na Linha Amarela, sentido Barra da Tijuca, próximo ao Complexo da Maré. Com o veículo em chamas, a via expressa ficou fechada por cerca de 40 minutos. A via, que margeia o Alemão, é uma das principais ligações entre o centro e a zona oeste do Rio.

O corredor expresso de ônibus, o BRT, também interrompe­u a circulação de ônibus devido a atos de vandalismo.

Em outro episódio de violência no Rio, uma perseguiçã­o seguida de tiroteio deixou seis suspeitos mortos na manhã desta segunda em Niterói, no acesso à ponte RioNiterói, uma das principais vias para a capital fluminense.

Segundo a polícia, o grupo havia deixado um baile funk com destino ao Complexo da Maré e, no trajeto, realizado um arrastão. O Exército, porém, aventava a possibilid­ade de eles terem fugido de uma operação nas imediações.

A intervençã­o federal na segurança do Rio completou seis meses na quinta (16). A medida ainda não reduziu os homicídios, acumula o maior índice de mortes por policiais desde 2008 e tem retirado menos armas das ruas.

Desde que chegaram ao Rio, os representa­ntes do governo federal também intensific­aram as operações em favelas, sem comprar ainda os materiais prometidos às polícias com o R$ 1,2 bilhão liberado pelo Planalto. Por outro lado, conseguira­m doações emergencia­is de equipament­os e ainda reduzir os roubos de carga e de rua.

Com a intervençã­o, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciá­rio estão sob comando federal, que nomeou intervento­r o general Walter Braga Netto, do Exército.

A medida foi decretada (às pressas e sem um plano pronto) logo depois do Carnaval deste ano, quando cenas de roubos em áreas nobres foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de inseguranç­a e vácuo no governo do estado.

Desde o início da intervençã­o, em fevereiro, mais de 400 suspeitos foram capturados em operações emergencia­is. Com UOL

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Ricardo Moraes/Reuters Prisão de suspeitos após confronto com militares no Complexo do Alemão, no Rio
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