Rio tem primeiras mortes de militares em intervenção
Integrantes do Exército foram baleados em operação em favelas na zona norte do Rio de Janeiro
Em dia violento, dois militares morreram baleados em grande operação nos complexos de favelas do Alemão, da Penha e da Maré. São os primeiros militares mortos desde fevereiro, início da intervenção. Cinco suspeitos morreram na ação.
Em um dia marcado por confrontos, ônibus queimado e transporte paralisado, dois integrantes do Exército morreram baleados nesta segunda-feira (20) em uma operação das forças de segurança nos complexos de favelas do Alemão, da Penha e da Maré, na zona norte do Rio.
O cabo Fabiano de Oliveira Santos foi o primeiro militar morto em confronto desde o início da intervenção federal na segurança pública do estado, decretada pelo presidente Michel Temer (MDB) em fevereiro deste ano.
Já no final da tarde um outro militar, o soldado Jonas Vitkor da Silva, foi morto em confronto a tiros com bandidos.
Ao longo desses seis meses, diversas operações contra o tráfico de drogas têm sido realizadas na região metropolitana do Rio, com o apoio de militares das Forças Armadas.
A intervenção vale até 31 de dezembro. Em entrevista à Folha publicada neste sábado (18), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a medida inédita deve mesmo acabar no prazo inicialmente previsto, pois os responsáveis pelo gabinete da intervenção já demonstraram não querer a sua renovação.
Nesta segunda-feira, o CML (Comando Militar do Leste) informou que o cabo Fabiano foi baleado no ombro, em uma área conhecida como Serra da Misericórdia, e morreu no caminho do hospital.
O órgão militar, no entanto, não esclareceu a dinâmica do conflito nem o tipo de arma de fogo que o vitimou.
A segunda vítima foi atingida no complexo da Penha.
Eles foram baleados em operação que contou com 4.200 militares, 70 policiais civis, blindados e helicópteros. Segundo o Exército, foram cinco mortos na operação em três comunidades, além dos dois militares.
O Exército lamentou as mortes dos suspeitos, mas atribuiu os confrontos à “irracionalidade notória” dos criminosos de enfrentar as forças policiais.
Um outro soldado também chegou a sofrer um ferimento na perna considerado de média complexidade, mas não corre risco de morte.
Em nota, o CML afirmou que “todo o apoio psicológico e espiritual vem sendo dado” às famílias dos militares atingidos e “todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis” estão em curso.
Ainda segundo as forças de segurança, ao menos dez suspeitos foram presos. Essa é a terceira operação em três dias no Complexo do Alemão, considerado o quartel-general da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho.
Nas redes sociais, moradores relataram tiroteios em diversas áreas. “São muitos tiros, helicópteros sobrevoan- do... Deus proteja os inocentes”, escreveu um morador. “Está em toda parte, o Exército já está no alto do morro”, escreveu outra moradora.
Moradores também relataram abusos dos militares. Celulares estariam sendo revistados, e pessoas que compartilharam informações sobre a ação em aplicativos foram detidas como suspeitas.
Uma moradora relatou à reportagem da Folha que homens revistaram mulheres, numa prática irregular. Há relatos também de que policiais e militares entraram em casas sem mandado de busca. Procurado sobre essas acusações, o CML não se pronunciou.
Em retaliação à operação, criminosos incendiaram um ônibus na Linha Amarela, sentido Barra da Tijuca, próximo ao Complexo da Maré. Com o veículo em chamas, a via expressa ficou fechada por cerca de 40 minutos. A via, que margeia o Alemão, é uma das principais ligações entre o centro e a zona oeste do Rio.
O corredor expresso de ônibus, o BRT, também interrompeu a circulação de ônibus devido a atos de vandalismo.
Em outro episódio de violência no Rio, uma perseguição seguida de tiroteio deixou seis suspeitos mortos na manhã desta segunda em Niterói, no acesso à ponte RioNiterói, uma das principais vias para a capital fluminense.
Segundo a polícia, o grupo havia deixado um baile funk com destino ao Complexo da Maré e, no trajeto, realizado um arrastão. O Exército, porém, aventava a possibilidade de eles terem fugido de uma operação nas imediações.
A intervenção federal na segurança do Rio completou seis meses na quinta (16). A medida ainda não reduziu os homicídios, acumula o maior índice de mortes por policiais desde 2008 e tem retirado menos armas das ruas.
Desde que chegaram ao Rio, os representantes do governo federal também intensificaram as operações em favelas, sem comprar ainda os materiais prometidos às polícias com o R$ 1,2 bilhão liberado pelo Planalto. Por outro lado, conseguiram doações emergenciais de equipamentos e ainda reduzir os roubos de carga e de rua.
Com a intervenção, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciário estão sob comando federal, que nomeou interventor o general Walter Braga Netto, do Exército.
A medida foi decretada (às pressas e sem um plano pronto) logo depois do Carnaval deste ano, quando cenas de roubos em áreas nobres foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado.
Desde o início da intervenção, em fevereiro, mais de 400 suspeitos foram capturados em operações emergenciais. Com UOL