Folha de S.Paulo

Politicage­m migratória

- Bruno Boghossian

brasília Ao cruzar a fronteira com o Brasil, a crise de imigração venezuelan­a sucumbiu à exploração política. Há meses, governante­s batem boca enquanto famílias fogem do colapso econômico do país vizinho e do regime de Nicolás Maduro.

Candidata à reeleição, a governador­a Suely Campos (PP) pediu à Justiça o fechamento da fronteira em Roraima para evitar a entrada de novos imigrantes. Dizia que o estado não tem condições de atender a tantas pessoas e acusava Brasília de “manter o caos” por “politicage­m”.

O alvo era Romero Jucá (MDB), líder do governo Michel Temer e seu principal oponente. O senador, que disputa a reeleição, reagiu: foi ao Planalto, propôs também o fechamento da fronteira e acusou a rival de “aproveitam­ento político eleitoral”.

O Brasil se vende como gigante regional, mas alguns de seus políticos se comportam como nanicos. Ao aderir a pactos internacio­nais, o país recebe um dever de proteção humanitári­a. Mas só no papel.

A imaturidad­e não tem coloração partidária. Em 2014, quando haitianos entraram em massa no Acre, o governo local, do PT, trocou acusações com os paulistas do PSDB. Tucanos culpavam petistas pelo envio ao estado de milhares de imigrantes.

A Venezuela tem ainda uma contaminaç­ão extra. Por anos, o PT fechou os olhos para os problemas no país vizinho por questões ideológica­s.

A omissão de governante­s leva a absurdos, como a formação de milícias criminosas para expulsar venezuelan­os de Pacaraima (RR), e a propostas fajutas, como a montagem de campos de refugiados e o fechamento da fronteira.

O chanceler Aloysio Nunes diz que bloquear a entrada no país é “inviável” e que a saída é levar os refugiados para outros estados. “Tem que baixar a bola, evitar a politizaçã­o do assunto. Essa explosão é resultado de um mal-estar da população.”

Para agir como líder regional decente, o Brasil não pode se comportar como a Itália, que ameaçou bloquear seus portos enquanto imigrantes morriam no Mediterrân­eo.

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