Folha de S.Paulo

Coelhos contra o crime

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Após seis meses de intervençã­o federal na segurança, com resultados aquém dos desejados, Raul Jungmann está começando a entender o mecanismo. Ou a “metástase”, como ele define a situação. “Esse crime organizado que controla o território controla o voto, elege seus representa­ntes e participa do aparelhame­nto, ou seja, da distribuiç­ão de cargos que é feita para obter maioria do governo no Parlamento”, afirmou o ministro da Segurança Pública em entrevista ao repórter Rubens Valente.

Um mapa da influência do crime nas eleições de outubro mostra que, do total de 4.993 locais de votação no Rio de Janeiro, 637 estão em áreas dominadas por facções de traficante­s ou por milícias. Nelas só pode fazer campanha o candidato amigo. Um universo de 1,7 milhão de pessoas vota sob pressão ou com medo.

As organizaçõ­es criminosas instaladas dentro do estado dificultam, segundo o ministro, a investigaç­ão sobre o assassinat­o da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes: “Está claro que você tem estruturas que participar­am direta ou indiretame­nte desse crime que envolve milícias, envolve agentes públicos e de segurança e envolve políticos”. No momento, investiga-se um grupo de matadores de aluguel formado por policiais conhecido como Escritório do Crime.

O destino da intervençã­o, que não diminuiu tiroteios nem o número de mortes provocadas por policiais, está selado. Acaba em dezembro. Não por desejo de Jungmann. Os militares no comando da operação rejeitam a renovação do prazo até o fim de 2019. A decisão parece uma quebra de hierarquia. Mas foi acertada de antemão com o presidente Temer na assinatura do decreto.

Sintomatic­amente os candidatos a governador se posicionam contra a intervençã­o ou contra sua prorrogaçã­o. Também descartam um plano de segurança semelhante ao das UPPs. Devem ter coelhos escondidos na cartola.

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