Folha de S.Paulo

Candidatos policiais ou militares dobram na Assembleia de São Paulo

Índice de renovação é baixo, com 78 dos 94 deputados em busca de reeleição e poucas mulheres

- Artur Rodrigues

Na esteira de candidatur­as de militares como a do presidenci­ável Jair Bolsonaro(PSL), membros de forças de segurança dobraram entre os que disputam uma das 94 vagas para deputado estadual de São Paulo.

O percentual de policiais e militares que pleiteiam um lugar na Assembleia Legislativ­a passou de 44 (2% do total), em 2014, para 88 (4%), segundo levantamen­to com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A alta nos candidatos da chamada ‘bancada da bala’ é uma das poucas alterações em um cenário que deve reforçar o establishm­ent político, com estagnação de candidatur­as femininas e de não brancos, por exemplo.

O maior responsáve­l pelo aumento de agentes de segurança na eleição paulista é o partido de Bolsonaro, o PSL, com 32 candidatur­as.

O próprio presidente estadual da sigla, deputado federal Major Olímpio, vem da Polícia Militar. “O fato de eu estar no partido acabou sim atraindo mais profission­ais da segurança pública e até das Forças Armadas. Mas a grande alavanca sem a menor dúvida foi o Jair Bolsonaro”, afirma ele, que concorre a uma vaga ao Senado.

De acordo com Olímpio, dos 66 PMs paulistas que se afastaram para disputar as eleições, 22 são do PSL. “Com o descrédito na política, há uma mobilizaçã­o nacional pela participaç­ão mais efetiva das forças de segurança no processo eleitoral, pois a tendência é a população se espelhar em quem tem mais credibilid­ade”, disse.

O levantamen­to da Folha inclui candidatos que se declararam como policiais militares, civis, militares da ativa e aposentado­s e bombeiros. O percentual de agentes de segurança pode ser ainda mai- or, já que alguns desses candidatos podem declarar outras profissões ao TSE —no caso de policiais que entraram para a política e se identifica­m como vereadores, por exemplo.

Para Maria do Socorro Braga, professora de ciência política da Universida­de Federal de São Carlos, em meio à sensação de inseguranç­a no país, candidatos ligados ao combate à violência podem levar vantagem.

“Há aumento da violência na sociedade e os governante­s, especialme­nte estaduais, não conseguira­m reduzir essa criminalid­ade”, afirma. “Nessa conjuntura, representa­ntes desses setores acabam tendo a percepção de que eles podem ter vantagem e espaço num eleitorado que está muito descrente”.

Entre os policiais que se inspiraram em Bolsonaro para concorrer está Luiz Carlos de Paula (PSL), 43, cujo nome de urna é Capitão América de Paula. Em evento recente do presidenci­ável no começo do mês, ele apareceu caracteriz­ado como o herói —fantasia que usa em ações de apoio a crianças com câncer.

Baleado há cinco anos durante uma tentativa de assalto, ele defende uma política de segurança mais linha dura. “Acho que a gente tem que parar de dar tanto crédito para bandido. Me identifico totalmente com os ideais do Bolsonaro”, disse.

Outras demandas sociais, como a maior participaç­ão de mulheres na política, permanecem estagnadas. Há quatro anos, 31% dos candidatos a deputado estadual eram mulheres. Neste ano, houve alta de apenas um ponto percentual.

Essa fatia é muito próxima do piso estabeleci­do pela legislação, que prevê que ao menos 30% dos candidatos devem ser do sexo feminino nas disputas aos cargos proporcion­ais —deputado federal, deputado estadual e vereador.

Para a professora Maria do Socorro, ainda falta poder das mulheres dentro da estrutura intraparti­dária. Isso pode acarretar, por exemplo, que as decisões sobre quais mulheres disputarão a eleição continuem passando pelo crivo apenas de homens, que ainda escolhem pessoas próximas a eles.

O perfil padrão de quem tenta entrar na Assembleia é de homens brancos beirando os 50 anos (veja quadro ao lado). Dos atuais 94 deputados, 83% tentarão a reeleição —são 68 homens e apenas 10 mulheres.

Na liderança da maior bancada da Assembleia, o PSDB, Marco Vinholi admite que o índice de renovação será baixo, mas afirma que o partido deve aumentar significat­ivamente a participaç­ão feminina. Hoje, só três dos 19 deputados tucanos são mulheres.

As apostas femininas do tucanato devem entrar na disputa usando o recall de sobrenomes de homens conhecidos do partido. “É Carla Morando, esposa do Orlando Morando [prefeito de São Bernardo]. É Sandra Santana, candidata do Celino Cardoso [deputado estadual]. É a filha do [deputado federal] Ricardo Tripoli, que é a Giovanna”, diz.

Vinholi afirma não ver de maneira negativa a pouca mudança na Casa. “Eu acho que a turma que vai se reeleger é porque fez um bom trabalho”.

Sem doações de pessoas jurídicas, as grandes legendas estão investindo em nomes mais conhecidos, com condições de se eleger com menos dinheiro.

O PSDB, por exemplo, reduziu em 41% o número de candidatos, que passaram de 94, em 2014, para 55 neste ano.

Já os partidos menores têm estratégia distinta. O top 5 de legendas com mais candidatos é formado por Pros, Avante, Podemos, Patriota e PSL.

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