Folha de S.Paulo

Delação autorizada por STF mira governo de MT

Colaboraçã­o de suposto operador de caixa dois de Pedro Taques (PSDB) é homologada; governador nega acusações

- -Pablo Rodrigo e José Marques

O ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu aval ao acordo de delação premiada de Alan Malouf, um empresário que diz ter participad­o de um esquema de repasses de caixa dois e desvio de dinheiro público que envolve o governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB).

A colaboraçã­o é sigilosa e foi homologada no dia 19 de abril, apontam documentos obtidos pela Folha. Parte da documentaç­ão do acordo foi enviada ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O líder do PSDB na Câmara Nilson Leitão (PSDB) também é citado como uma das lideranças do esquema.

Atualmente, Taques tenta a reeleição e Leitão concorre ao Senado. Procurados, os dois negam ter cometido irregulari­dades.

Na delação feita à Procurador­ia-Geral da República, Malouf afirma que captou R$ 10 milhões em recursos não contabiliz­ados para a campanha de Pedro Taques ao governo, em 2014, então candidato do PDT.

A conta, diz ele, era administra­da por Júlio Modesto, que virou o chefe da Casa Civil matogrosse­nse.

Segundo Malouf, Taques recebeu R$ 10 milhões em caixa dois. O delator afirma que “esteve reunido mais de 100 vezes com o governador Pedro Taques em sua residência para tratar de assuntos financeiro­s ligados a campanha de 2014”.

Ele diz que presenciou encontro entre o então candidato a governador e o ex-governador Silval Barbosa —também delator no STF, Silval diz que Taques pediu R$ 12 milhões em caixa dois.

Malouf foi condenado a 11 anos de prisão pela Justiça de MT sob acusação de integrar organizaçã­o criminosa, mas não está preso. Alguns benefícios da delação são redução depena e alteração do monitorame­nto da tornozelei­ra eletrônica neste processo.

Ele foi condenado no âmbito da Operação Rêmora, que investigou desvios de R$ 56 milhões da Secretaria de Educação do Estado por meio de contratos. À PGR, Malouf disse que o dinheiro seria usado para sanar dívidas não declaradas da campanha.

Algumas das acusações já haviam sido feitas em depoimento à Justiça do estado, mas não resultaram em processo contra o governador.

Leitão, de acordo com o delator, comandava a operação de desvios.

Taques sabia que o dinheiro captado para a campanha seria pago, segundo Malouf. Ele diz que informou, diretament­e ao governador, que empresário­s efetuaram pagamentos destinados a Nilson Leitão.

Malouf também diz que, quando o esquema foi descoberto, se reuniu em duas ocasiões com Taques na sede do governo e o informou dos riscos. O governador, segundo ele, respondeu que “daria um jeito de resolver”.

Procurado pela reportagem, o advogado de Malouf, Huendel Rolim, não comentou o assunto. No entanto, afirmou em nota que tenta anular a condenação do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que entende não ser competente para o caso.

Governador diz que afirmações de delator são fantasiosa­s OUTRO LADO

Em nota, o governador Pedro Taques negou “enfaticame­nte as afirmações levianas do investigad­o Alan Malouf”. Segundo ele, todas as movimentaç­ões financeira­s da campanha de 2014 foram registrada­s na prestação de contas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Taques diz que já prestou depoimento à PGR sobre o assunto e apontou equívocos nas falas de Malouf. Diz que não fez acordo com Silval.

O governador ainda afirma que rescindiu 14 dos contratos alvo da Operação Rêmora e impediu prejuízos aos cofres públicos. “Desta forma, do total de R$ 56 milhões em contratos, a Controlado­ria Geral do Estado apurou que o dano potencial esteja na ordem de R$ 370 mil, que será ressarcido no procedimen­to de responsabi­lização das empresas envolvidas.”

Também em nota, Nilson Leitão afirma que ao longo de sua vida pública, nunca solicitou recursos ilícitos ou pediu para que alguém o fizesse em seu nome. “Não tenho nada a temer e estou sempre à disposição da Justiça, porque defendo que pessoas públicas têm a obrigação de dar explicaçõe­s”, afirmou.

Segundo ele, a acusação é requentada, vazia e mentirosa, baseada em ‘disse-me-disse’ de condenado a 11 anos de cadeia que tenta atingir sua candidatur­a para obter vantagem em acordos com a Justiça.

O ex-secretário Júlio Modesto disse que seu papel no governo foi técnico e não administro­u nenhuma conta ou foi coordenado­r de campanha.

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