Folha de S.Paulo

Márcio França mira eleitor tucano frustrado com Doria

Governador se apresenta como terceira via, em meio à disputa de PT e PSDB

- Joel Silva - 19.ago.18/Folhapress -Gabriela Sá Pessoa e Thais Bilenky

são paulo A campanha do governador de São Paulo, Márcio França (PSB), à reeleição vai mirar o eleitor tradiciona­lmente tucano que não simpatiza com o ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) e se identifica com propostas de centro-esquerda.

Colaborado­res do pessebista avaliam que esta eleição abrirá espaço a uma terceira via, que foi sufocada nos últimos anos pela polarizaçã­o entre petistas e tucanos.

Com o desgaste de ambos os partidos, apontam um vácuo a ser preenchido pelo candidato que conquistar o eleitor sem posições predefinid­as.

Na leitura dos pessebista­s, há dois PSDBs no estado: o de Doria e o de nomes como o expresiden­te Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador Alberto Goldman, que já fez severas críticas publicamen­te ao ex-prefeito paulistano.

Em 2014, Geraldo Alckmin (PSDB) reelegeu-se governador vencendo em 644 dos 645 municípios do estado. Nesse espólio, há o paulista que se frustrou com Doria depois de sua renúncia à Prefeitura de São Paulo e com a imposição de seu estilo descrito como acelerado pela campanha de França, que não respeita ritos do setor público.

Além desse grupo, há também o eleitor que se decepciono­u com o PT, depois de escândalos de corrupção envolvendo suas lideranças entre elas o ex-presidente Lula.

Paulo Skaf (MDB) também se coloca como terceira via. Para enfrentá-lo, aliados de França pretendem explorar seu perfil empresaria­l, ligado às entidades patronais da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo que ele comanda há anos.

Na saída dos estúdios da TV Bandeirant­es, após o debate na quinta-feira (16), o governador afirmou que seu objetivo ali tinha sido, “acima de tudo, demonstrar que o quadro era um pouco repetitivo”.

Naquela noite, três dos secretário­s mais fortes de Geraldo Alckmin que permanecer­am na gestão França acompanhar­am a comitiva do governador no estúdio.

As presenças de Saulo de Castro (Governo), aliado de longa data de Alckmin, Mágino Alves (Segurança) e Márcio Elias Rosa (Justiça) eram uma alfinetada nos apoiadores de Doria, exibindo alckmistas ao lado de França.

Em sua primeira pergunta no debate, França antagonizo­u com Doria ao questionar o ex-prefeito sobre o fechamento de unidades de saúde na capital. A intenção era tentar colar no tucano a imagem de que ele não tem sensibilid­ade social.

Segundo a campanha do governador, a parcela de eleitores indefinido­s busca um nome que consiga de forma ponderada apontar um novo jeito de governar, que não signifique uma ruptura absoluta.

Seus auxiliares querem dar respostas às preocupaçõ­es desse eleitor com o dia a dia, a inseguranç­a com o emprego, dependênci­a do estado na saúde, aposentado­ria e educação e com a segurança pública.

“A nossa proposta de campanha é ofertar um novo jeito de governar São Paulo, que já está em curso, que significa uma mudança segura”, afirma Felipe Soutello, marqueteir­o de Márcio França.

Soutello trabalhou para Skaf e Kassab em eleições passadas e é citado pela cúpula do PSB paulista como um especialis­ta em tucanos. Ele assumiu a campanha na semana passada, substituin­do Paulo de Tarso —que já trabalhou com Marina Silva e Lula e, em 1989, criou o jingle “Lula Lá”.

Preocupaçã­o com os gastos na propaganda e a indisponib­ilidade de Tarso para se dedicar integralme­nte a França por comandar outras eleições pelo país foram as razões com que os pessebista­s justificar­am a mudança.

A troca, porém, também deixa implícita a desistênci­a de dialogar com o voto progressis­ta, ao menos no primeiro turno.

Para auxiliares de França, o candidato do PT, Luiz Marinho —hoje empatado com o pessebista nas pesquisas, na casa dos 5%— tem potencial para alcançar 15% dos votos. Para eles, trata-se de um eleitorado fiel, que não vai deixar de votar no petista para apostar no PSB nas urnas.

O campo azul, formado pelos nomes que se apresentam como de direita liberal, está mais congestion­ado. Ao mesmo tempo, tem maior margem para crescer em um estado majoritari­amente conservado­r. É nesse aspecto que França espera extrair vantagem da relação com Alckmin, seu antecessor.

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O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), na Festa do Peão em Barretos, no interior do estado

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