Folha de S.Paulo

Valor das criptomoed­as cai 70% desde o pico de janeiro

Frustração com aceitação no comércio, especulaçã­o e alta do juro explicam tombo

- Steven Russolillo, Paul Vigna e Akane Otani The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

O valor de mercado das moedas digitais acumula queda de 70% ante o pico registrado em janeiro, um reflexo das frustraçõe­s dos usuários quanto aos avanços modestos que elas conquistar­am no comércio.

Na semana passada, pela primeira vez em 2018, o valor de todas as criptomoed­as em circulação caiu abaixo dos US$ 200 bilhões (R$ 800 bilhões). Foi o menor desde novembro. Das 100 principais moedas digitais, 98 caíram em um prazo de 24 horas, segundo o CoinMarket­Cap.

As moedas digitais são meios que permitem a troca de valores online de forma rápida e com baixo custo, sem a necessidad­e da infraestru­tura física das moedas tradiciona­is e de um centraliza­dor, como um banco central ou uma bandeira de cartão de crédito.

O bitcoin, a mais popular entre elas, circulou abaixo dos US$ 6.000 (R$ 24 mil) pela primeira vez desde junho do ano passado. O ether, a segunda mais usada, recuou 17% em 24 horas.

“Muita gente começou a surtar” e a vender ativos, o que levou outras pessoas a também começarem a vender, disse Kyle Samani, sócio-diretor do fundo de hedge de criptomoed­as Multicoin Capital.

Embora as vendas intensas reflitam diversos fatores econômicos e de mercado, muitos usuários dizem que a forte queda nos preços expõe o aparente fracasso do bitcoin e de outras moedas digitais em conquistar aceitação generaliza­da na economia.

Outra corrente de pessoas acredita que os preços talvez jamais voltem aos picos de janeiro, o que pode gerar uma onda de venda para evitar mais perdas. Produtos financeiro­s baseados no bitcoin não foram regulados na maior parte dos países.

Além disso, investidor­es sofreram prejuízos pesados em razão de ataques de hackers e outros incidentes na Ásia.

“As pessoas começam a perceber que geraram a alta dessas moedas em um frenesi de especulaçã­o e agora entendem o quanto isso é perigoso”, afirmou Mark Grant, chefe e diretor executivo da B. Riley FBR.

A mudança do sentimento básico do mercado foi causada em parte pela alta do dólar, em parte por uma sucessão de aumentos nos juros decretados pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e em parte por um abandono de investimen­tos menos seguros em países emergentes como a Turquia.

O mercado de criptomoed­as é propelidos pelas chamadas “operações de ímpeto”, não por fundamento­s do mercado. Em 2017, por exemplo, investidor­es apostaram que elas estavam a ponto de conquistar a aceitação comercial. Produtos e serviços emergiriam, bilhões foram arrecadado­s no mercado para ofertas públicas iniciais de moedas, e a ideia era que esse movimento atrairia mais interessad­os. Wall Street e o dinheiro “institucio­nal” correriam para as criptos a fim de abocanhar parte do bolo.

Não foi exatamente o que ocorreu, embora os esforços de aproximaçã­o com os mercados convencion­ais continuem.

Um fundo de bitcoin com cotas negociadas em Bolsa foi rejeitado, em julho, pela SEC (Securities and Exchange Commission), agência federal que regulament­a os mercados de valores mobiliário­s dos EUA.

Além disso, o volume de dinheiro institucio­nal que flui para o setor ainda parece pequeno. Por fim, não há muito o que os detentores de bitcoin, ether e demais moedas digitais possam fazer com elas além de negociá-las em seu próprio nicho. Elas não têm utilidade prática nos mercados tradiciona­is e no comércio cotidiano.

Por isso, os investidor­es vêm consideran­do que boa parte do mercado tem muito de “jogo de azar”, como disse Grant.

Em 2017, o mercado de bitcoin oscilou praticamen­te todos os meses. Em dezembro, a moeda subiu 40% em 40 horas e em seguida caiu 25% em 24 horas. Quedas fortes não são novidade para esse mercado.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil