Folha de S.Paulo

Há esperança

Há consenso a respeito da necessidad­e de recolocar o país na rota do cresciment­o

- Benjamin Steinbruch

O país vive um momento difícil. A menos de 50 dias da eleição, é impossível fazer qualquer prognóstic­o sobre quem vai governar o Brasil nos próximos quatro anos.

Gostaria, porém, de lançar um olhar otimista a respeito das propostas que estão sendo postas na mesa, mesmo que tenha de me arrepender disso no futuro próximo, porque por enquanto os planos não são suficiente­mente detalhados.

É possível notar uma certa convergênc­ia dos candidatos mais bem cotados em relação a temas cruciais do momento.

Há, por exemplo, na direita, no centro e na esquerda, um claro consenso a respeito da necessidad­e de recolocar o país na rota do cresciment­o. Até os mais ortodoxos assessores econômicos de candidatos concordam que não será possível superar os problemas atuais sem a retomada imediata da geração de empregos para mais de 13 milhões de brasileiro­s.

Para isso, a revitaliza­ção da atividade produtiva, com investimen­to em infraestru­tura e reindustri­alização, é essencial.

Nessa linha, outro pensamento consensual diz respeito à necessidad­e de expandir o crédito e, muito importante, com juros civilizado­s. Não há um único candidato que tenha a coragem de contrariar essa proposta. E a concentraç­ão bancária está sendo colocada por quase todos como causa prepondera­nte desse problema.

Por outro lado, até o mais excêntrico dos assessores concorda que será necessário fazer uma reforma tributária, não para aumentar a carga já elevada, mas principalm­ente para a simplifica­ção dos impostos. Trata-se —e ninguém discorda disso— de substituir os cinco tributos incidentes sobre a venda de bens e serviços (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por um único. Essa unificação, sempre pretendida, enfrenta uma dificuldad­e prática, pois, mesmo apoiando a medida, governador­es e prefeitos temem ser prejudicad­os no momento da mudança. A solução, portanto, pode ser uma transição gradual do atual modelo para o novo.

Existe concordânc­ia geral também sobre a obrigatori­edade de reformar a Previdênci­a. Apesar das divergênci­as sobre o modelo dessa reforma, considera-se que o Estado não poderá arcar com os déficits previdenci­ários crescentes e que, além de cortar privilégio­s, o novo sistema precisa levar em conta a questão do envelhecim­ento da população.

A educação é um tema preferido dos candidatos. O discurso genérico, felizmente, vem sendo substituíd­o por propostas mais práticas sobre a ênfase no ensino básico, a valorizaçã­o do professor e a formação técnica. O país já tem experiênci­as positivas que podem ser replicadas, como a do Ceará.

Segurança é outro tema que une os principais candidatos. Há indignação com os mais de 60 mil assassinat­os e 50 mil estupros por ano. Para enfrentar essa calamidade, propõese o combate efetivo ao crime organizado, com ações de inteligênc­ia, a modernizaç­ão da sistema prisional e a atualizaçã­o das políticas contra as drogas e para o controle de armas.

Se há pensamento­s consensuai­s sobre esses importante­s aspectos, é possível afirmar que nem tudo está perdido. Vamos para a eleição de outubro com a esperança de que o eleito tenha coragem e competênci­a política para levar adiante esses programas.

A despeito de todos os problemas, o Brasil continua sendo um país viável. Num momento em que os emergentes voltam a ser pressionad­os por inflação e contas externas (vide Turquia e Argentina), nosso país tem situação confortáve­l, com inflação de 4% ao ano e reservas de quase US$ 400 bilhões.

O que nos aflige são a recessão e o desemprego. Se o eleito for fiel a suas propostas e não cometer estelionat­os eleitorais, haverá esperança.

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