Folha de S.Paulo

Promessa para 2012, linha do metrô completa dois anos de obras paradas

Governo de São Paulo e concession­ária travam disputa por término de contrato da linha 6-laranja

- Fabrício Lobel

Prometida para 2012, a linha de metrô que ligaria o extremo norte ao centro de São Paulo, com paradas em algumas universida­des, completa dois anos com suas obras paralisada­s. Não há nem prazo para a retomada.

O aniversári­o se dá diante de uma disputa judicial e da deterioraç­ão dos quarteirõe­s que se tornaram canteiros de obras e hoje acumulam lixo e atraem usuários de droga.

Anunciada em 2008, a linha 6-laranja foi celebrada como a primeira PPP (Parceria Público Privada) no país a construir e administra­r uma ligação de metrô —com um percurso entre Brasilândi­a e Liberdade e que foi apelidada de “linha das universida­des”.

A expectativ­a do morador que leva duas horas de ônibus para fazer esse trajeto foi interrompi­da no rastro da operação Lava Jato. Empresas no eixo da PPP, como Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC Engenharia, viraram alvo de investigaç­ões. Sem financiame­nto, elas paralisara­m as obras com apenas 15% de avanço.

O consórcio ainda tentou negociar a troca de sócios e convidou uma gigante estatal chinesa. Mas, no início deste ano, após avaliar o projeto, os chineses desistiram da linha, e as negociaçõe­s para a retomada das obras fracassara­m.

A linha 6-laranja já consumiu R$ 1,7 bilhão em obras civis (sendo 41% disso em recursos do governo estadual), além de R$ 984 milhões pagos a título de desapropri­ações.

O governo Márcio França (PSB) estima que a situação deverá continuar a mesma pelo menos nos próximos três meses, até que consiga encerrar o contrato vigente com o consórcio construtor. Só depois disso o governo iniciará um novo processo de contrataçã­o de uma empresa para tocar o restante das obras.

Segundo o governo, um processo na Justiça iniciado pelas construtor­as durante as discussões pelo fim do contrato atrasa todo esse trâmite.

Já as construtor­as dizem que o atraso na obra se justifica pela demora do governo em realizar desapropri­ações e indenizaçõ­es aos donos dos imóveis que foram demolidos ao longo do traçado da linha.

O consórcio argumenta ainda que esse processo na Justiça não tem nenhuma relação com o término do contrato para a construção da linha. Diz também que o governo estadual atrasa o término do contrato de maneira intenciona­l e descabida, apenas para fazer com que o consórcio pague multas e assuma os custos pela manutenção dos antigos canteiros de obra. O governo refuta essa acusação.

Só em multas por atraso já teriam sido aplicados R$ 73 milhões (outros R$ 43 milhões deverão ser cobrados pelo governo de SP, fruto de seis autuações diferentes até aqui).

O consórcio diz ter gasto R$ 20 milhões apenas neste ano para cercar e cuidar dos antigos pontos de obra.

Nesse custo está também a manutenção dos shields usados na obras (conhecidos popularmen­te como tatuzões). Os dois equipament­os que fariam a perfuração dos túneis do metrô foram produzidos na China especifica­mente para essa obra e estão desmontado­s à espera de alguma definição, após o fim do contrato.

Só os procedimen­tos de término desse contrato se arrastam desde março, ainda sob a gestão Geraldo Alckmin (PSDB), que deixou o governo em abril para disputar a eleição presidenci­al. A previsão inicial era que tudo estivesse acertado até junho.

Enquanto isso, os antigos canteiros das obras e as áreas com imóveis demolidos atraem usuários de droga, descarte irregular de lixo e pragas como ratos e baratas.

“É cada rato, barata, pombo e ladrão que saí desse terreno”, reclama o motorista de van escolar Elias Lima, 35, vizinho do que já deveria ser a estação Brasilândi­a do metrô.

Em 2016, operários e retroescav­adeiras começaram a demolir casas e lojas, mas as obras travaram, e o que ficou para trás foi um amontoado de escombros, lixo e mato alto.

Os terrenos são cercados por tapumes que podem ser facilmente abertos. Após anos sob sol, chuva e depredaçõe­s, os tapumes estão pichados, quebrados ou remendados com tábuas e portas.

O clima de abandono favorece o descarte irregular de lixo feito pela própria população. O lixo atinge a calçada e avança sobre o asfalto —toma uma faixa inteira da via. A concession­ária diz que a limpeza pública é responsabi­lidade da prefeitura da cidade.

“A concession­ária Move São Paulo entrou com uma ação na Justiça, que determinou que fosse feita uma perícia. Essa questão judicial acabou estendendo o prazo previsto [para a ruptura do contrato] Secretaria dos Transporte­s Metropolit­anos de São Paulo

A protelação do término do contrato somente ocorre por interesse do Poder Concedente [governo de SP], que busca, de forma intenciona­l e descabida, onerar a Move São Paulo com aplicação de multas e manter sob responsabi­lidade desta, por tempo indetermin­ado, as atividades de manutenção e preservaçã­o dos canteiros Concession­ária Move São Paulo

 ?? Diego Padgurschi/Folhapress ?? Canteiro com obra parada da linha 6-laranja do metrô na marginal Tietê, na zona norte de São Paulo
Diego Padgurschi/Folhapress Canteiro com obra parada da linha 6-laranja do metrô na marginal Tietê, na zona norte de São Paulo
 ?? Rivaldo Gomes 31.jul.2018/Folhapress ?? Lixo acumulado no que deveria ser o acesso à estação Brasilândi­a
Rivaldo Gomes 31.jul.2018/Folhapress Lixo acumulado no que deveria ser o acesso à estação Brasilândi­a

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