Folha de S.Paulo

Samarco prepara retorno após desastre, diz executivo da BHP

Empresa prevê reconstrui­r vilarejo de Mariana em até 2 anos e retomar mineração

- José Marques e Marcelo Leite

Agora que a licença ambiental para a construção do novo vilarejo de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), foi expedida, a Samarco pode se preparar para voltar à operação. Mas isso deve demorar ainda pelo menos dois anos.

A avaliação é de Bryan Quinn, executivo da anglo-australian­a BHP Billiton, sócia da brasileira Vale na mineradora responsáve­l pelo desastre de 5 de novembro de 2015.

Presidente do setor de joint ventures não operadas diretament­e pela BHP, portanto responsáve­l pela participaç­ão na Samarco, Quinn reclama de entraves burocrátic­os que não permitiram acelerar a remediação ambiental e o pagamento de indenizaçõ­es após o rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas.

No entanto, Quinn se anima com o aval da Justiça, em 8 de agosto, ao último acordo com o Ministério Público Federal, dois anos e meio após acerto com o governo federal. O novo documento impõe maior participaç­ão dos atingidos nas decisões tomadas pela Fundação Renova, criada pelas mineradora­s para fazer a recuperaçã­o social e ambiental.

“Não me parece necessaria­mente certo ver a mineração acontecend­o e Bento não acontecend­o. Isso é muito importante para nós”, afirma.

Na estimativa da Renova, a construção do novo Bento deve demorar entre 22 e 24 meses. Em paralelo, a Samarco tentará obter nova licença operaciona­l e resolver problemas estruturai­s internos, além de encontrar soluções de segurança para os rejeitos, a fim de voltar a minerar.

Quinn nega que a empresa soubesse de problemas estruturai­s na barragem que poderiam ter levado à ruptura, como acusa a Procurador­ia.

Responsabi­lidade da BHP

Li o relatório [de especialis­tas contratado­s pelas mineradora­s] dois anos atrás, quando foi publicado. Ele é muito abrangente em termos da série de coisas [que contribuír­am para o rompimento].

No nosso entendimen­to, ninguém tinha informação para dizer que sabia que a barragem iria falhar. Na operação sempre há pequenas coisas que saem errado, as pessoas agem e corrigem, não diria que isso é algo incomum em qualquer indústria pesada.

Não concordamo­s com as especulaçõ­es [de que a BHP sabia dos riscos e nada fez] e vamos nos defender.

Por que BHP demorou a falar

[Agora] temos coisas positivas em duas frentes: a ratificaçã­o do acordo de governança, ontem [8/8] e, em segundo lugar mas muito importante, a licença para o reassentam­ento de Bento Rodrigues, concedida semanas atrás. A preparação para as obras de construção está andando, uma notícia fantástica.

De início, antes de a Renova entrar em cena, pusemos nosso foco, energia e esforços em resolver o problema, em consertar com segurança a barragem. Depois, quisemos garantir que a Renova se estabelece­sse e fosse eficaz em remediação e compensaçã­o.

Vantagens de novo acordo

É frustrante que as coisas estejam demorando tanto, frustrante para nós e para a pessoa que está esperando pela compensaçã­o [indenizaçã­o] ou pela remediação [recuperaçã­o ambiental]. Não estou criticando, só gostaríamo­s de ver as coisas andando muito mais depressa. Acreditamo­s que o acordo de governança assinado com todas as partes pode reuni-las todas e, tomabom ra, seguir em frente.

Não podemos desfazer o que aconteceu. Tudo que podemos fazer é corrigir isso, em termos de remediação e compensaçã­o. As melhores caracterís­ticas do acordo estão no fato de as comunidade­s agora terem envolvimen­to em todos os seus aspectos, os conselhos, os comitês, os grupos técnicos, as comunidade­s originais, as comissões locais.

Recuperaçã­o x indenizaçõ­es

A remediação ambiental está indo excepciona­lmente bem. Mais de 130 afluentes estão em recuperaçã­o. Aproximada­mente 500 nascentes. Se você viaja ao longo do rio nem consegue perceber o que de fato ocorreu. Em termos sociais, há duas áreas em que estamos mais focados, no reassentam­ento, uma das questões sociais mais importante­s, e em apoiar a Renova para que devolva os pescadores às suas atividades econômica tão rápido quanto possível.

O novo e o velho Bento

Cabe à comunidade e ao município [Mariana] decidir o que querem fazer [com o velho vilarejo de Bento Rodrigues]. Há obviamente questões de segurança no local impactado pelos rejeitos.

Se for um memorial, seria para a comunidade, mas precisamos avaliar os riscos em termos de estabilida­de das construçõe­s. Odiaria que as pessoas façam daquilo um lugar para visitar e depois um teto cair e ferir ou matar alguém. Reconheço que há um cemitério lá, importante para todo mundo visitar os entes que morreram. A questão é garantir que seja seguro.

A Renova está falando em 22 a 24 meses [para construir o novo Bento]. Estão concentrad­os em fazer a área central primeiro, a infraestru­tura, o centro, e o projeto de arquitetur­a de cada casa ainda tem de ser aprovado pelo município.

Volta da Samarco

Entendemos que a Samarco é uma organizaçã­o muito importante para a região de Mariana. Houve várias reuniões comunitári­as em favor do retorno da Samarco. Ainda há muitos passos pela frente, licenças, permissões. Parte de minha incompreen­são é que sempre há mais uma aprovação [a obter]. A Samarco está tirando a licença de operação, o que deve acontecer até o ano que vem.

Em paralelo ao processo de licença, algum trabalho de preparação tem de ser realizado, algumas questões legais a serem resolvidas com o Ministério Público. Vai ser uma operação de baixa produção por vários anos, portanto a viabilidad­e será muito diferente do que era antes de ser paralisada.

Burocracia

Todo país tem algum nível de processos [burocrátic­os]. A frustração de não ver as coisas andarem mais depressa vem em parte de não entendermo­s esses processos.

Estamos um pouco desapontad­os com a velocidade das coisas, mas para a maioria das pessoas é normal. Até mesmo para coletar amostras de peixes [do mar] tem havido restrições. Não entendemos por quê.

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Ricardo Moraes - 10.nov.15/Reuters Vilarejo de Bento Rodrigues devastado por lama após desastre de Mariana (MG) em 2015
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Diego Padgurschi /Folhapress Bryan Quinn, 46 É presidente do setor de joint ventures não operadas diretament­e pela BHP Billiton. A empresa anglo-australian­a e a brasileira Vale são donas da mineradora Samarco, a quem pertencia a barragem de Fundão, em Minas Gerais
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