Samarco prepara retorno após desastre, diz executivo da BHP
Empresa prevê reconstruir vilarejo de Mariana em até 2 anos e retomar mineração
Agora que a licença ambiental para a construção do novo vilarejo de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), foi expedida, a Samarco pode se preparar para voltar à operação. Mas isso deve demorar ainda pelo menos dois anos.
A avaliação é de Bryan Quinn, executivo da anglo-australiana BHP Billiton, sócia da brasileira Vale na mineradora responsável pelo desastre de 5 de novembro de 2015.
Presidente do setor de joint ventures não operadas diretamente pela BHP, portanto responsável pela participação na Samarco, Quinn reclama de entraves burocráticos que não permitiram acelerar a remediação ambiental e o pagamento de indenizações após o rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas.
No entanto, Quinn se anima com o aval da Justiça, em 8 de agosto, ao último acordo com o Ministério Público Federal, dois anos e meio após acerto com o governo federal. O novo documento impõe maior participação dos atingidos nas decisões tomadas pela Fundação Renova, criada pelas mineradoras para fazer a recuperação social e ambiental.
“Não me parece necessariamente certo ver a mineração acontecendo e Bento não acontecendo. Isso é muito importante para nós”, afirma.
Na estimativa da Renova, a construção do novo Bento deve demorar entre 22 e 24 meses. Em paralelo, a Samarco tentará obter nova licença operacional e resolver problemas estruturais internos, além de encontrar soluções de segurança para os rejeitos, a fim de voltar a minerar.
Quinn nega que a empresa soubesse de problemas estruturais na barragem que poderiam ter levado à ruptura, como acusa a Procuradoria.
Responsabilidade da BHP
Li o relatório [de especialistas contratados pelas mineradoras] dois anos atrás, quando foi publicado. Ele é muito abrangente em termos da série de coisas [que contribuíram para o rompimento].
No nosso entendimento, ninguém tinha informação para dizer que sabia que a barragem iria falhar. Na operação sempre há pequenas coisas que saem errado, as pessoas agem e corrigem, não diria que isso é algo incomum em qualquer indústria pesada.
Não concordamos com as especulações [de que a BHP sabia dos riscos e nada fez] e vamos nos defender.
Por que BHP demorou a falar
[Agora] temos coisas positivas em duas frentes: a ratificação do acordo de governança, ontem [8/8] e, em segundo lugar mas muito importante, a licença para o reassentamento de Bento Rodrigues, concedida semanas atrás. A preparação para as obras de construção está andando, uma notícia fantástica.
De início, antes de a Renova entrar em cena, pusemos nosso foco, energia e esforços em resolver o problema, em consertar com segurança a barragem. Depois, quisemos garantir que a Renova se estabelecesse e fosse eficaz em remediação e compensação.
Vantagens de novo acordo
É frustrante que as coisas estejam demorando tanto, frustrante para nós e para a pessoa que está esperando pela compensação [indenização] ou pela remediação [recuperação ambiental]. Não estou criticando, só gostaríamos de ver as coisas andando muito mais depressa. Acreditamos que o acordo de governança assinado com todas as partes pode reuni-las todas e, tomabom ra, seguir em frente.
Não podemos desfazer o que aconteceu. Tudo que podemos fazer é corrigir isso, em termos de remediação e compensação. As melhores características do acordo estão no fato de as comunidades agora terem envolvimento em todos os seus aspectos, os conselhos, os comitês, os grupos técnicos, as comunidades originais, as comissões locais.
Recuperação x indenizações
A remediação ambiental está indo excepcionalmente bem. Mais de 130 afluentes estão em recuperação. Aproximadamente 500 nascentes. Se você viaja ao longo do rio nem consegue perceber o que de fato ocorreu. Em termos sociais, há duas áreas em que estamos mais focados, no reassentamento, uma das questões sociais mais importantes, e em apoiar a Renova para que devolva os pescadores às suas atividades econômica tão rápido quanto possível.
O novo e o velho Bento
Cabe à comunidade e ao município [Mariana] decidir o que querem fazer [com o velho vilarejo de Bento Rodrigues]. Há obviamente questões de segurança no local impactado pelos rejeitos.
Se for um memorial, seria para a comunidade, mas precisamos avaliar os riscos em termos de estabilidade das construções. Odiaria que as pessoas façam daquilo um lugar para visitar e depois um teto cair e ferir ou matar alguém. Reconheço que há um cemitério lá, importante para todo mundo visitar os entes que morreram. A questão é garantir que seja seguro.
A Renova está falando em 22 a 24 meses [para construir o novo Bento]. Estão concentrados em fazer a área central primeiro, a infraestrutura, o centro, e o projeto de arquitetura de cada casa ainda tem de ser aprovado pelo município.
Volta da Samarco
Entendemos que a Samarco é uma organização muito importante para a região de Mariana. Houve várias reuniões comunitárias em favor do retorno da Samarco. Ainda há muitos passos pela frente, licenças, permissões. Parte de minha incompreensão é que sempre há mais uma aprovação [a obter]. A Samarco está tirando a licença de operação, o que deve acontecer até o ano que vem.
Em paralelo ao processo de licença, algum trabalho de preparação tem de ser realizado, algumas questões legais a serem resolvidas com o Ministério Público. Vai ser uma operação de baixa produção por vários anos, portanto a viabilidade será muito diferente do que era antes de ser paralisada.
Burocracia
Todo país tem algum nível de processos [burocráticos]. A frustração de não ver as coisas andarem mais depressa vem em parte de não entendermos esses processos.
Estamos um pouco desapontados com a velocidade das coisas, mas para a maioria das pessoas é normal. Até mesmo para coletar amostras de peixes [do mar] tem havido restrições. Não entendemos por quê.