Folha de S.Paulo

Avenida aberta

- Bruno Boghossian

brasília Lula mantém 57 milhões de votos sub judice. O cresciment­o do ex-presidente nas pesquisas, mesmo preso, amplia a dimensão da estrada que o PT bloqueou ao insistir em sua candidatur­a ao Planalto, a um mês e meio da eleição.

O novo levantamen­to do Datafolha sugere que, embora dois terços dos lulistas já escolham outros nomes quando o petista é excluído da disputa, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), o quadro pode mudar dramaticam­ente na campanha.

Quase metade dos eleitores de Lula (48%) não conhece Fernando Haddad, que substituir­á o ex-presidente na chapa. Outros 26% dizem que o conhecem “só de ouvir falar”.

O desconheci­mento seria uma fragilidad­e, não fosse a influência expressiva de Lula sobre seu eleitorado.

O potencial de transferên­cia medido na pesquisa atenua parte do ceticismo em relação a esse poder. Entre eleitores que declaram voto em Lula, 62% escolheria­m “com certeza” o candidato apoiado por ele.

Se esses eleitores mantiverem sua disposição e receberem a mensagem de que Haddad é o nome lulista, o ex-prefeito poderá atingir 24% dos votos. Ainda que uma parte fique pelo caminho, a conversão seria suficiente para levá-lo ao segundo turno.

Haddad pontua timidament­e nas trincheira­s petistas, como o Nordeste (5%) e as famílias de baixa renda (3%). Nesses segmentos, porém, estão os maiores percentuai­s de entrevista­dos que não sabem quem será o candidato petista —beirando 60%.

Lula acumula força enquanto mantém uma névoa sobre o eleitor. A estratégia pode ser exitosa, mas o PT empobrece o debate político. A poucas semanas da votação, a avenida foi reaberta para um trânsito caótico.

De Otavio Frias Filho, em 2004: “Existem muitas maneiras de relatar um fato, inúmeras interpreta­ções a seu respeito. E nenhum critério seguro para definir qual delas é a melhor. O melhor serviço prestado pelo jornalismo é divulgar a riqueza desse contraditó­rio”.

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