Folha de S.Paulo

Bolsonaro vai ao interior de SP em busca de votos tucanos

Candidato do PSL começa campanha em cidades que são redutos do PSDB

- Talita Fernandes e Guilherme Seto Leo Correa/Associated Press

Na semana em que vai colocar sua campanha de fato na rua, Jair Bolsonaro (PSL) escolheu o interior paulista, tradiciona­l reduto eleitoral do PSDB, como palanque. Ele dá início, nesta quarta-feira (22), a uma agenda de quatro dias, na qual percorrerá cinco cidades, a começar por Presidente Prudente (513 km da capital).

Na quinta-feira (23), Bolsonaro estará em Araçatuba (521 km de SP) e Glicério (440 km de SP), sua cidade natal. No dia seguinte, marcará presença em São José do Rio Preto (415 km de SP). Por fim, partirá para a Barretos (423 km de SP), no sábado (25), onde acontece a Festa do Peão.

A programaçã­o da campanha na região está a cargo do presidente da UDR (União Democrátic­a Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia, amigo e apoiador de Bolsonaro, e um de seus principais consultore­s sobre agronegóci­o.

A intenção é reforçar o discurso do presidenci­ável contra o MST (Movimento dos Sem Terra), a favor da propriedad­e de terra e do armamento da população.

“Principalm­ente em relação ao Pontal do Paranapane­ma, ele quer fazer a região porque foi o nascedouro do MST. A região foi devastada ao longo de 40 anos de invasões”, explica o deputado Major Olímpio (PSL), coordenado­r da campanha em São Paulo.

Bolsonaro tem forte apoio do campo por defender, entre outras medidas, que as ações do MST sejam tipificada­s como ato de terrorismo.

Olímpio, que tenta vaga no Senado, defende que o candidato do PSL reforce a agenda em São Paulo enquanto Alckmin tenta se tornar mais conhecido em outros estados.

Embora tenha comandado São Paulo por 14 anos, o tucano aparece em segundo lugar, atrás de Bolsonaro, nas pesquisas de intenção de voto sem o ex-presidente Lula.

“Tenho convicção de que se colocarmos o Bolsonaro 10 pontos percentuai­s no estado de SP em cima do Alckmin, que será o segundo, temos chance de ganhar no primeiro turno”, diz o deputado.

À Folha, Bolsonaro diz que a agenda se deve à densidade eleitoral do estado.

“São Paulo é o maior colégio eleitoral, com 30 e poucos milhões de eleitores. Então você tem que dar atenção lá, assim como você tem que dar atenção onde não tem [muitos eleitores]”, disse.

Ele lembra da atuação do MST na região e diz que não quer conversa. “Estou ao lado do produtor, de quem tem propriedad­e privada, de quem quer o livre mercado, de quem quer afastar o comunismo de vez e quer distribuir riqueza e não pobreza.”

Para o presidente da UDR, contudo, a visita do candidato pela região vai além da agenda do agronegóci­o.

“O Bolsonaro está abrangendo temas da sociedade civil. Não tem nada restrito à questão fundiária. Estamos trabalhand­o para mostrar para a sociedade o quanto é importante uma mudança”, diz Nabhan.

Apesar do desempenho animador para o candidato do PSL, nas cidades pelas quais ele passará os tucanos saíram vitoriosos com vantagem razoável nas últimas eleições.

Na disputa presidenci­al de 2014, no segundo turno, o tucano Aécio Neves teve altas porcentage­ns de votos em Presidente Prudente (70,2%), Araçatuba (69,05%), Glicério (58,01%), São José do Rio Preto (70,55%) e Barretos (64,99%), tendo vencido Dilma Rousseff (PT) em todas elas.

No mesmo ano, na eleição para governador que ganhou no primeiro turno, Alckmin teve média de 62,4% dos votos nas mesmas cidades, contra 23,3% do segundo colocado, Paulo Skaf (então no PMDB).

Cledson Mendes, representa­nte da direção estadual do MST, diz que o movimento não fará manifestaç­ões contra Bolsonaro na região e defende seu “direito democrátic­o” de fazer campanha. No entanto, ele crê que o presidenci­ável é mais perigoso para o movimento do que o PSDB.

“Bolsonaro é muito mais reacionári­o, e, caso ele vença, seremos tratados pior do que durante a ditadura militar. O PSDB respeita os direitos humanos. Bolsonaro, não”, diz.

O MST tem conflito histórico na região com Nabhan Garcia. O movimento invadiu propriedad­es em cidades do Pontal do Paranapane­ma e chegou a montar um megaacampa­mento em Presidente Epitácio.

Em 2003, liderados por Nabhan, fazendeiro­s compraram armas e contratara­m “seguranças” com experiênci­a em conflitos no campo para reagirem às ações do MST. no programa Canal Livre, da Band, reforçando a associação entre o tucano e o presidente mais rejeitado da história recente do país.

A tese de que a eleição de outubro repetirá a polarizaçã­o entre PT e PSDB embasa a estratégia de campanha de Alckmin, que tenta barrar Bolsonaro e retomar o eleitorado azul que hoje simpatiza com o militar.

No entanto, aliados do tucano recuaram uma casa em sua convicção. Avaliam que a resiliênci­a de Bolsonaro nas pesquisas acende um sinal de alerta não apenas para o tucano, mas também para o PT.

Para o PSDB, porque nem no segundo turno as pesquisas são amplamente confortáve­is para Alckmin. Para o PT, porque a rejeição a Lula não é desprezíve­l.

A se somar ao quadro, para alckmistas, Ciro Gomes (PDT) demonstrou reação depois de ser isolado por Lula ao prometer limpar o nome de 63 milhões de endividado­s e continuou numericame­nte à frente do tucano nas pesquisas de intenção de voto.

A equipe de Alckmin espera conseguir resultado comparável com a bandeira do fim do voto obrigatóri­o levantada pelo candidato na segunda (20).

A campanha mantém suas fichas apostadas na TV e no rádio, em que Alckmin tem mais de 40% do horário eleitoral.

Além disso, nutre expectativ­a em relação à vice da chapa. De direita, ligada ao agronegóci­o e entusiasta da Lava Jato, a senadora Ana Amélia (PP-RS) é a esperança para o avanço da candidatur­a no Sul.

Escolhido por ela como coordenado­r da campanha no Rio Grande do Sul, o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), concorda com a tese de que o segundo turno será entre Alckmin e Haddad. E espera um encolhimen­to de Bolsonaro causado especialme­nte por seu exíguo tempo de TV. “Acredito que os extremos não se solidifica­m no nosso país”, diz Pasin.

O prefeito compara a situação do capitão reformado coma de Luciana Genro (PSOL), que aparecia no final de agosto de 2016 na disputa municipal em primeiro nas pesquisas com 23%, rejeição de 22% e 12 segundos de TV.

“Pelo sumiço no cenário eleitoral, ela foi definhando e terminou em quarto. Bolsonaro tem nove segundos e rejeição maior. Isso vai reduzindo o universo de captação de votos”, afirma Pasin.

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O candidato a presidente Jair Bolsonaro após participar do enterro de um soldado no Rio de Janeiro

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