Folha de S.Paulo

Bolsonaro tem série de recuos em uma semana de campanha

Após aliado dizer que campanha reavalia presença de candidato em debates, presidenci­ável afirma que participar­á dos eventos

- Talita Fernandes e Kaio Esteves

Com uma semana de campanha, o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) acumula mudanças de discurso, em temas que incluem ONU, STF e anúncio de futuros ministros. A mais recente refere-se a debates na TV. Ele pôs em dúvida sua presença nos eventos e voltou atrás.

Com uma semana de campanha nas ruas, o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) aumentou sua lista de idas e vindas. Confrontad­o com o repúdio de setores estratégic­os da opinião pública e do meio político, o capitão reformado do Exército bateu em retirada em diversão declaraçõe­s.

O mais recente recuo foi sobre sua participaç­ão em debates de TV. Inicialmen­te, ele havia prometido ir a todos, já que conta com apenas oito segundos para propaganda eleitoral gratuita na televisão.

Na terça-feira (21), o presidente do PSL e braço direito do candidato, Gustavo Bebianno, afirmou que a campanha estava reavaliand­o a participaç­ão do deputado.

“Ele está de saco cheio desses debates inócuos, que não levam a nada. Não sabemos se ele vai aos outros. Tem 40%, 50% de chance de não ir.”

Ao UOL, Bebiano foi mais enf[atico, descartand­o a participaç­ão em todos os debates. televisivo­s.

Já na quinta (23), em agenda de campanha em Araçatuba (SP), Bolsonaro disse que “a princípio” vai participar dos próximos debates, mas fez críticas ao formato dos programas. “Aqui, eu consegui te dar uma resposta de três minutos, razoável. Lá eu tenho 45 segundos para responder a mesma pergunta.”

Filho do presidenci­ável, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse à reportagem que o pai vai participar de todos os debates “de grande audiência”.

A mudança ocorre depois de um embate entre Bolsonaro e sua adversária da Rede, Marina Silva, no último debate, promovido pela RedeTV!.

Ele foi confrontan­do pela candidata por seus posicionam­entos em relação aos direitos das mulheres e sobre a defesa de armas. Internamen­te, a campanha avalia que a discussão com uma mulher foi negativa para o deputado federal, que enfrenta forte resistênci­a no eleitorado feminino por seus posicionam­entos considerad­os misóginos.

Pesquisa Datafolha publicada nesta semana mostrou que a rejeição das mulheres ao nome de Bolsonaro cresceu nove pontos percentuai­s desde junho, de 34%% para 43%, o que leva o candidato ao topo dos que não seriam votados “de jeito nenhum” pelo eleitorado feminino.

As mulheres representa­m 52% dos eleitores brasileiro­s.

Também nesta semana, o capitão reformado do Exército mudou de ideia sobre declaração dada no último sábado (18), de que o Brasil sairia da ONU caso seja eleito.

À Folha, ele disse ter cometido um ato falho e que se referia, na verdade, ao comitê de Direitos Humanos da ONU, que fez recentemen­te recomendaç­ão favorável à candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre promessas não cumpridas estão ainda a de divulgação dos nomes dos futuros ministros de um eventual governo Bolsonaro.

Ele afirmou que anunciaria a lista de seus auxiliares antes mesmo do início da campanha. Voltou atrás e disse que todos que declaram apoio a ele são alvos de perseguiçã­o.

Em outro recuo, provocado pela reação à proposta, Bolsonaro reviu ainda a ideia de ampliar de 11 para 21 o número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), medida que foi vista pelo meio jurídico como autoritári­a — ação do tipo foi colocada em prática pelo governo Castelo Branco, o primeiro da ditadura militar.

Durante as negociaçõe­s dele com a advogada Janaína Paschoal para ser sua vice, ele mudou de ideia e disse que manteria o tribunal como está hoje.

O capitão reformado também gerou controvérs­ia entre seus eleitores após ter afirmado à Folha que “não compete ao outro lado”, o do homem, dizer se a mulher deve ou não interrompe­r uma gravidez. Na entrevista, ele disse ainda que é contra o aborto e que a prisão da mulher que aborta compete ao Judiciário.

Depois de a reportagem ter sido publicada, Bolsonaro disse que a frase publicada era mentirosa: “Nunca falei isso! Mais uma covardia dessa imprensa suja”.

A própria escolha de seu vice, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão, se deu depois de uma de idas e vindas.

Dias antes do prazo final,

ONU Depois de o comitê de Direitos Humanos da ONU ter dado recomendaç­ão favorável a Lula, Bolsnaro disse que deixaria a organizaçã­o por ela ser comunista e por “não servir para nada”. Dois dias depois, disse que cometeu ato falho Debates Disse antes do início da campanha que participar­ia de todos. Mudou de ideia depois do programa transmitid­o pela RedeTV!, quando teve embate com Marina Silva sobre direito das mulheres. Primeiro um aliado disse que ele reavaliava participaç­ão, depois o candidato disse que irá aos próximos eventos

Bolsonaro disse que estava entre Janaína e o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, mas anunciou de última hora o nome do PRTB.

Supremo Ao criticar a atual formação do STF, chamando-a de politizada e de esquerda, Bolsonaro prometeu aumentar o número de ministros de 11 para 21 caso seja eleito. Depois, voltou atrás

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Alex Tristante/Futura Press/Folhapress O candidato Jair Bolsonaro (PSL) lança camisetas a eleitores em Araçatuba (SP)

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