Interiorização deve ser acelerada para evitar conflito, diz general
É necessário aumentar a velocidade da transferência dos migrantes venezuelanos de Roraima para outros estados brasileiros para evitar que se repitam conflitos como o que aconteceu em Pacaraima (RR) no sábado (18). Essa é a mensagem do general Eduardo Pazuello, coordenador da força tarefa logística humanitária no estado de Roraima, que cuida do acolhimento dos venezuelanos que estão emigrando para o Brasil, em fuga da crise humanitária e política em seu país. “Há pólvora no chão, se não acontecer nada e ficar todo mundo na rua pode acontecer outro incidente a qualquer momento, se não aumentarmos a velocidade de escoamento”, disse Pazuelloà Folha. Ele esteve em São Paulo participando de seminário na Fundação Fernando Henrique Cardoso.
No sábado (18), após um comerciante ser assaltado e agredido por quatro venezuelanos, brasileiros foram às ruas queimando os pertences e expulsando migrantes das ruas de Pacaraima.
Pazuello acredita que as medidas recém-anunciadas pela Casa Civil devem ajudar a eliminar o acúmulo de migrantes à espera de regularização de documentos em Boa Vista e acelerar a chamada “interiorização”.
Viviane Esse, assessora especial da Casa Civil, anunciou que mil venezuelanos serão “interiorizados” até o início de setembro –uma aceleração considerável no processo, considerando que, em seis meses, o governo só conseguiu transferir 820 pessoas.
Para isso, o governo vai flexibilizar as exigências para a transferência. Anteriormente, só interiorizavam venezuelanos que tinham vaga garantida em algum abrigo nos estados. Agora, algumas das pessoas transferidas não serão mandadas com vaga garantida em abrigo. “Muitos venezuelanos não precisam de tanta tutela do estado, têm mais condições”, diz Pazuello.
Além disso, o governo pretende promover aluguel de prédios para abrigar venezuelanos –o aluguel será pago por agências da ONU, que também farão a gestão do local, enquanto o Exército vai fornecer a alimentação. “Isso deve aumentar o número de vagas disponíveis”, diz Esse.
Pazuello diz que há muito exagero e fake news acirrando as tensões em Roraima. “Estão exagerando o número das pessoas que estão nas ruas –são entre 1600 e 2000 em Boa Vista, e entre 500 e 700 em Pacaraima”, diz. O governo de Roraima afirma que há mais de 2.000 pessoas dormindo nas ruas de Boa Vista, e 1500 em Pacaraima.
“Não queremos minimizar, mas temos números”, afirma Esse. Segundo ela, dos 127 mil que entraram até início de julho, 60% já saíram.
A operação vai abrir mais dois abrigos, um na capital e outro em Pacaraima, aumentando o número de vagas de 4.700 para 6.000.
No seminário, o embaixador Norberto Moretti, diretor do departamento de América do Sul Setentrional do Itamaraty, voltou a dizer que o ministério apoia a classificação da Venezuela como país onde há violação grave e generalizada de direitos humanos, o que ajudaria os venezuelanos a conseguirem mais facilmente o status de refugiado. Mas, segundo Moretti, a decisão depende do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados).