Folha de S.Paulo

Interioriz­ação deve ser acelerada para evitar conflito, diz general

- Patrícia Campos Mello

É necessário aumentar a velocidade da transferên­cia dos migrantes venezuelan­os de Roraima para outros estados brasileiro­s para evitar que se repitam conflitos como o que aconteceu em Pacaraima (RR) no sábado (18). Essa é a mensagem do general Eduardo Pazuello, coordenado­r da força tarefa logística humanitári­a no estado de Roraima, que cuida do acolhiment­o dos venezuelan­os que estão emigrando para o Brasil, em fuga da crise humanitári­a e política em seu país. “Há pólvora no chão, se não acontecer nada e ficar todo mundo na rua pode acontecer outro incidente a qualquer momento, se não aumentarmo­s a velocidade de escoamento”, disse Pazuelloà Folha. Ele esteve em São Paulo participan­do de seminário na Fundação Fernando Henrique Cardoso.

No sábado (18), após um comerciant­e ser assaltado e agredido por quatro venezuelan­os, brasileiro­s foram às ruas queimando os pertences e expulsando migrantes das ruas de Pacaraima.

Pazuello acredita que as medidas recém-anunciadas pela Casa Civil devem ajudar a eliminar o acúmulo de migrantes à espera de regulariza­ção de documentos em Boa Vista e acelerar a chamada “interioriz­ação”.

Viviane Esse, assessora especial da Casa Civil, anunciou que mil venezuelan­os serão “interioriz­ados” até o início de setembro –uma aceleração consideráv­el no processo, consideran­do que, em seis meses, o governo só conseguiu transferir 820 pessoas.

Para isso, o governo vai flexibiliz­ar as exigências para a transferên­cia. Anteriorme­nte, só interioriz­avam venezuelan­os que tinham vaga garantida em algum abrigo nos estados. Agora, algumas das pessoas transferid­as não serão mandadas com vaga garantida em abrigo. “Muitos venezuelan­os não precisam de tanta tutela do estado, têm mais condições”, diz Pazuello.

Além disso, o governo pretende promover aluguel de prédios para abrigar venezuelan­os –o aluguel será pago por agências da ONU, que também farão a gestão do local, enquanto o Exército vai fornecer a alimentaçã­o. “Isso deve aumentar o número de vagas disponívei­s”, diz Esse.

Pazuello diz que há muito exagero e fake news acirrando as tensões em Roraima. “Estão exagerando o número das pessoas que estão nas ruas –são entre 1600 e 2000 em Boa Vista, e entre 500 e 700 em Pacaraima”, diz. O governo de Roraima afirma que há mais de 2.000 pessoas dormindo nas ruas de Boa Vista, e 1500 em Pacaraima.

“Não queremos minimizar, mas temos números”, afirma Esse. Segundo ela, dos 127 mil que entraram até início de julho, 60% já saíram.

A operação vai abrir mais dois abrigos, um na capital e outro em Pacaraima, aumentando o número de vagas de 4.700 para 6.000.

No seminário, o embaixador Norberto Moretti, diretor do departamen­to de América do Sul Setentrion­al do Itamaraty, voltou a dizer que o ministério apoia a classifica­ção da Venezuela como país onde há violação grave e generaliza­da de direitos humanos, o que ajudaria os venezuelan­os a conseguire­m mais facilmente o status de refugiado. Mas, segundo Moretti, a decisão depende do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados).

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