Folha de S.Paulo

Boutiques de carne acompanham até a criação do gado atrás de qualidade

Lojas investem em maturação, ingredient­es que incrementa­m churrasco e espaços gourmet

- -Daniel Salles e Débora Miranda

Comprar carne é coisa séria para os amantes de um bom churrasco. Para atender a essa demanda, as casas de carne premium —chamadas de boutiques— oferecem um serviço diferente dos açougues tradiciona­is. “Quem vem aqui normalment­e procura carne para churrasco mesmo. Tem gente que gasta R$ 7.000 na loja e tem gente que compra um único steak, gasta R$ 30, e põe uma velinha em cima para comemorar o aniversári­o”, conta Pedro Rossi Corrêa Ricci, 23, gerente da DeBetti. Andréa Alcântara, 37, gerente do Varanda Gourmet, diz que a maioria dos clientes da casa quer fazer um churrasco especial e, ali, sabe que vai encontrar o melhor produto. Para garantir que a carne tenha qualidade, essas lojas acompanham os bois desde que ainda estão no pasto, antes do abate. Checam a alimentaçã­o do animal, o tempo de confinamen­to, o manejo, a raça, a idade em que ele é abatido, o peso e tudo mais que possa influencia­r na qualidade, no sabor a na maciez da carne. Os custos são altos e, claro, repassados ao consumidor. “Os clientes investem para ter uma carne premium”, afirma Márcio Valenti, 37, diretor-executivo da Feed. Os preços da picanha em um açougue de luxo podem variar de R$ 87 a R$ 150 o quilo. E há carnes bem mais caras. A do boi da raça wagyu, original do Japão, mas que já é criado por aqui, pode chegar a R$ 400 o quilo. Algumas lojas oferecem também a carne que passa por um processo de maturação a seco conhecido como dry-aged. Trata-se de uma técnica de conservaçã­o bem diferente, por exemplo, da que dá origem à carne-seca, que é salgada e depois mantida ao sol. As dry-aged descansam numa câmara fria com umida-

de reduzida e, com o tempo, perdem água e ganham uma casca escura. Trintas dias depois, ficam quase 30% menores. Já as peças de 120 dias chegam a perder mais de dois terços do tamanho original. Sem falar naquela casca, que precisa ser descartada. Está aí a explicação para os preços altos. Na DeBetti, o quilo do dry-aged com 30 dias custa R$ 139, e o de 120 sai a R$ 199. Boa parte do sucesso do restaurant­e Cór, no Alto de Pinheiros, se deve às peças de longa maturação. Idealizado por Renzo Garibaldi, o cardápio lista pedidas como o prime rib com 45 dias (R$ 300 o quilo). O responsáve­l pela cozinha é o chef Jeovane Godoy, também à frente do recém-aberto Anima Mea, no Itaim. “Por não terem água, essas carnes devem ser só seladas na frigideira, ou viram tijolos”, avisa. Os cortes mais vendidos são os tradiciona­is, mas esses estabeleci­mentos também trabalham com as peças que não são considerad­as nobres. “Não existe carne de segunda, existe boi de segunda”, afirma Valenti. Uma das caracterís­ticas mais procuradas pelos clientes ultimament­e é o marmoreio, a gordura interna da carne, que tem esse nome porque a faz parecer um mármore. “A carne mais marmorizad­a derrete na grelha e tem um sabor amanteigad­o”, explica Alcântara. “Os clientes já sabem que carne não é tudo igual e procuram qualidade.” A manipulaçã­o do produto também é importante para manter sua qualidade. Por isso, parte das lojas vende as peças já cortadas em porções e embaladas a vácuo. Uma dica: se o pacote tiver muito sangue, não é um bom sinal. “Isso mostra que a carne não foi transporta­da de forma apropriada”, diz Valenti. O ideal é que a carne esteja fresca, nunca congelada. “Se precisar, congele por, no máximo, um mês. Depois disso perde muita qualidade”, afirma Ricci. Na hora de descongela­r, ainda segundo os especialis­tas, não coloque no micro-ondas, na água ou no sol. Retire do freezer 24 horas antes de usar e deixe na geladeira para descongela­r naturalmen­te. Hambúrguer­es também são muito procurados nesses locais, especialme­nte por quem gosta de prepará-los na grelha. De olho nos churrasque­iros mais exigentes, as lojas têm investido ainda em molhos, acompanham­entos e ingredient­es para incrementa­r o preparo da carne. A maior parte das boutiques tem espaços em que é possível experiment­ar as carnes sofisticad­as que vendem, preparadas no capricho. É comer e sair feliz da vida.

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Keiny Andrade/Folhapress Cortes da boutique de carnes DeBetti, de Pedro Rossi Corrêa Ricci, especializ­ado em carnes dry-aged
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