Folha de S.Paulo

Astrônomos ‘pesam’ planeta gigante gasoso

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Graças a dados de dois satélites europeus, uma dupla de astrônomos da Universida­de de Leiden, na Holanda, conseguiu “pesar” o exoplaneta gigante gasoso que orbita a estrela Beta Pictoris. O resultado é mais um passo na compreensã­o de como se formam os sistemas planetário­s e vem de uma estrela que tem sido há décadas uma mão na roda para esse tipo de estudo.

Beta Pictoris é jovem, com cerca de 20 milhões de anos, e próxima, localizada a 63 anos-luz de distância, na constelaçã­o do Pintor. Desde meados dos anos 1980 sabemos que há um disco de gás e poeira circundand­o essa estrela, indicando um processo de formação planetária em andamento, possivelme­nte já “nos finalmente­s”.

Em 2008, astrônomos usando o VLT (Very Large Telescope), no Chile, elevaram a desconfian­ça a certeza, ao obter uma imagem direta de um planeta orbitando a estrela mais ou menos na mesma distância que Saturno guarda do Sol.

O problema com imagens diretas é que elas não davam pistas da massa do planeta. É possível tentar inferir com base na luminosida­de, mas, para planetas jovens, essa interpreta­ção depende das premissas sobre como o planeta teria se formado, se num início “quente” (mais brilhante e rápido) ou “frio” (menos brilhante e mais lento).

Entra em cena o trabalho de Ignas Snellen e Anthony Brown, publicado na Nature Astronomy. Eles usaram observaçõe­s de Beta Pictoris feitas pelo satélite Hipparcos entre 1990 e 1993 e pelo satélite Gaia entre 2014 e 2016 para determinar a variação de posição da estrela ao longo de 30 anos.

Subtraindo os efeitos correspond­entes aos movimentos do Sistema Solar e de Beta Pictoris no período, restou uma pequena oscilação, representa­tiva do puxão gravitacio­nal que o planeta exerce sobre sua estrela-mãe. Como essa oscilação é proporcion­al às massas, deu para calcular quanto “pesa” Beta Pictoris b: cerca de 11 vezes a massa de Júpiter.

O resultado se alinha com estimativa­s baseadas num nascimento “quente”. Agora, o objetivo é expandir essa análise para outros exoplaneta­s recém-nascidos e finalmente decifrar as receitas que a natureza segue ao cozinhar Jupíteres e Saturnos pelo Universo afora.

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