Folha de S.Paulo

Trio calafrio

- Alvaro Costa e Silva

RIO DE JANEIRO Marco Antônio Cabral, Leonardo Picciani e Danielle Cunha, os três do MDB, estão em campanha para deputado federal. E, incrível, apresentam-se como novidades, jovens lideranças.

Na verdade, representa­m uma velha jogada da política brasileira: o empreendim­ento familiar como estratégia de manutenção no poder. A prática remonta ao período colonial e se mantém dominante até hoje. Quase metade da Câmara Federal é formada por herdeiros. Não necessaria­mente de sangue. Mas se for, é bem melhor. Fica tudo em casa.

Como os sobrenomes indicam, Cabral, Cunha e Picciani são os queridinho­s de seus respectivo­s papais: Sérgio, Eduardo e Jorge —os dois primeiros estão na cadeia e o terceiro, em prisão domiciliar, acusados de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha.

Ex-ministro do Esporte do governo Temer, Leonardo tenta o quarto mandato. Sua missão é dar continuida­de à trajetória do clã, cujo patriarca está cada vez mais enrolado — em depoimento à Justiça Federal, o empresário Jacob Barata Filho, o “rei dos ônibus”, admitiu ter pagado caixinha a políticos durante 20 anos, entre os quais o velho Picciani.

Fisicament­e quase um clone do ex-governador, Marco Antônio tem percorrido o interior do estado como parte da estratégia de campanha orientada por Sérgio Cabral lá de Bangu 8. O que será que o pai ensina ao filho?

Danielle Cunha é novata. Publicitár­ia, ficou mais conhecida por torrar cartões de crédito em compras de luxo pelo mundo. Bancada pelo progenitor, ela pede votos aos evangélico­s da zona oeste, região mais populosa e pobre do Rio.

Parte da coligação O Rio Quer Paz, o trio calafrio aposta na eleição de Eduardo Paes para governador. Atualmente no DEM, Paes esteve no PV, PFL, PTB, PSDB. Para candidatar-se, negociou antes com PDT e PSB. Mas, a julgar por seus apoiadores, continua MDB de raiz.

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