Folha de S.Paulo

Petista é ligado a empresas suspeitas de articular pagamento por tuítes

Deputado Miguel Corrêa Jr. (MG), diz que faz parcerias com startup apontada por influencia­dores

- Artur Rodrigues Colaborou Ana Luiza Albuquerqu­e

As empresas envolvidas no caso de suspeita de pagamento para os chamados “influencia­dores digitais” elogiarem candidatos petistas são ligadas ao deputado federal e candidato ao Senado pelo PT de Minas, Miguel Corrêa Júnior.

A empresa que teria contratado a agência que lidou com os influencia­dores é de um assessor parlamenta­r dele e fica no mesmo escritório onde funcionam duas empresas do deputado. Os tuiteiros também teriam sido convidados a usar aplicativo de empresa do parlamenta­r.

O caso ganhou grande repercussã­o nas redes sociais, com outros relatos de influencia­dores e muitas críticas ao PT. Procurador­ias eleitorais em Minas e no Piauí devem apurar o caso.

A jornalista Paula Holanda, militante de esquerda, escreveu no Twitter que foi convidada, em troca de dinheiro, por uma agência de marketing digital mineira chamada Lajoy a promover em seu perfil conteúdo de esquerda.

Depois de promover Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla e candidata a deputada federal pelo Paraná, e Luiz Marinho, candidato a governador de São Paulo, ela se recusou a escrever sobre governador do Piauí, o petista Wellington Dias.

Esse tipo de prática é proibida pela legislação, que estabelece que só é permitida propaganda eleitoral em redes sociais no modelo de impulsiona­mento, em que candidatos, partidos e coligações contratam diretament­e a rede social.

A dona da Agência Lajoy, Joyce Moreira Falete Mota, afirmou ter sido contratada, para os meses de junho e julho, por uma empresa chamada Be Connected. A empresa tem como um dos sócios o assessor parlamenta­r de Corrêa Júnior, Rodrigo Queles Teixeira Cardoso.

A data de abertura da empresa é do mês passado, pouco antes do período eleitoral. A Be Connected fica em uma sala da rua Fernandes Tourinho, na Savassi, bairro nobre de Belo Horizonte. Neste mesmo local, de acordo com dados da Receita Federal, funcionam as empresas Fórmula Tecnologia e Follow Análises Estratégic­as, ambas do deputado Corrêa Júnior.

Follow Now, da empresa de mesmo nome, é uma plataforma onde tuiteiros disseram que eram convidados a entrarem. Na plataforma, seriam incluídas notícias positivas sobre petistas para compartilh­amentos.

Outro aplicativo com função parecida, da Follow, seria o Brasil Feliz de Novo. A ideia da plataforma também seria oferecer tarefas a militantes, que vão do compartilh­amento de conteúdo até o comparecim­ento em eventos dos pré-candidatos.

Corrêa Júnior afirmou não ser dono da Be Connected, mas admitiu que “em alguns trabalhos Follow e Be Connected apresentar­am para clientes análises de monitorame­ntos de redes de perfis reais de grandes influencer­s para apontar comportame­nto e análise deste novo ambiente de debate democrátic­o, de onde nasceram movimentos de unificação de conteúdo”.

Questionad­o sobre o fato de as empresas ficarem no mesmo lugar, ele afirmou ser um “tracionado­r”, alguém que apoia startups e pequenas empresas que funcionam ali.

O parlamenta­r também afirmou que nunca existiu “o pagamento de qualquer tipo de valora estes perfis de grande influência”.

O assessor do deputado, Rodrigo Cardoso, af ir mouà Folha que seu trabalho na Be Connected não tem ligação alguma com seu trabalho de assessor parlamenta­r de Corrêa Júnior.

Ele também negou haver pagamentos e disse que o ocorreu foi uma organizaçã­o de militantes para ações que se tornaram orgânicas, como uma denominada #Lulazord.

“Acho que é gente querendo ganhar espaço”, disse, sobre os tuiteiros que denunciara­m propostas de pagamento para elogiar petistas.

Um vídeo publicado na internet, porém, mostra um exassessor de Corrêa explicando como ser remunerado pela militância a favor de petistas.

O vídeo mostra Breno Nolasco, que é ex-assessor parlamenta­r do deputado e consta na folha de pagamento do governo de Minas, governado pelo PT.

Ele afirma no vídeo que os ativistas serão remunerado por “pessoa captada”. “Eu, Breno, consegui 30 amigos. Como nós vamos remunerar R$ 3 por pessoa, então eu vou receber R$ 90”, afirma.

Em outro trecho, ele diz “que vocês ganhem cada vez mais dinheiro com isso”. “Os R$ 500 é o início do nosso projeto. Os melhores ativistas vão muito além disso”, disse.

Nolasco é sócio da empresa Sharing, que fica no mesmo escritório de empresas de Corrêa Jr.

A Folha não localizou Breno Nolasco para comentar o caso.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou em Curitiba (PR), nesta segunda (27), que o partido está averiguand­o as acusações de que a agência teria pago por comentário­s pró-PT no Twitter.

“O PT nunca adotou este tipo de prática, nossas relações com as redes sempre foram de respeito e militância”, disse. “Nunca pagamos ninguém para falar em rede, muito pelo contrário. Estamos averiguand­o o que é isso, para esclarecer essa situação.”

Em agenda de campanha relâmpago na porta de hospital na zona oeste, o candidato ao governo estadual pelo PSDB, João Doria, criticou a suspeita de pagamento de influencia­dores digitais.

“E inclusive falar bem do candidato deles aqui em São Paulo para o governo do estado [Luiz Marinho]. Essa é uma prática que o Tribunal Superior Eleitoral e os tribunais regionais proíbem. É contra lei, mas, vindo do PT, o PT adora fazer tudo que é contra lei”, disse. “Não me estranha. O PT é mestre em práticas criminosas”.

Ele afirmou que sua equipe jurídica está atenta ao fato, que tem sido coibido pela Justiça Eleitoral.

O caso teve grande repercussã­o na internet. Outros tuiteiros convidados a participar do sistema de divulgação passaram a fazer relatos também.

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